'Não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo', diz Mourão sobre eleições
2 de novembro de 2022, 10h37
O vice-presidente da República e senador eleito, Hamilton Mourão (Republicanos-RS), aceitou publicamente o resultado das eleições presidenciais ocorridas neste domingo (30/10). "Não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo", afirmou, em entrevista concedida ao jornal O Globo, publicada na edição desta quarta-feira (2/11).
"Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador não deveria estar jogando", disse ele, em referência ao presidente eleito, Lula (PT). "Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar".
Mourão disse não considerar que houve fraude na eleição. "Mas um jogador não deveria estar jogando. Essa é minha visão", completou. Ele se refere ao fato de que Lula se tornou elegível no último ano, após o Supremo Tribunal Federal anular suas condenação criminais.
Lula foi condenado duas vezes na operação "lava jato". Com a confirmação da sentença do tríplex do Guarujá (SP) pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (PR, SC e RS), ele foi preso e impedido de participar das eleições de 2018 pela Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010). Posteriormente, o STF anulou as condenações devido à suspeição do ex-juiz Sergio Moro e à incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o petista. Com as decisões, Lula recuperou todos os seus direitos políticos, tornando-se novamente elegível.
As declarações do atual vice-presidente são mais diretas que as do presidente Jair Bolsonaro (PL), que não chegou a cumprimentar Lula ou reconhecer explicitamente a vitória do petista. Em seu primeiro pronunciamento desde a derrota nas urnas, nesta terça-feira (1/11), o atual chefe do Executivo disse apenas que continuaria "cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição".
Protestos nas estradas
Bolsonaro, nesta terça (1º/11), não condenou enfaticamente os bloqueios de rodovias, promovidos por caminhoneiros e demais apoiadores dele indignados com o resultado das eleições. O presidente disse que os movimentos "são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral" e pediu apenas que não houvesse "invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir".
Já Mourão afirmou que é necessário "baixar a bola". Para ele, as pessoas estão inconformadas, "mas aceitaram participar do jogo".
De acordo com o vice-presidente, as manifestações deveriam ter ocorrido "quando o jogador que não deveria jogar foi (autorizado a jogar). Ali deveriam ter ido para a rua, buzina. Mas não fizeram".
Relação com o presidente
Questionado sobre a demora de Bolsonaro em se manifestar publicamente, Mourão se limitou a dizer que "cada um reage aos acontecimentos da sua maneira". Segundo ele, o presidente "procurou a melhor forma de falar tudo o que queria falar sem incorrer em ofensas, ilegalidades".
O vice-presidente ainda ressaltou suas diferenças com o chefe do Executivo: "Ele é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra", salientou.
O senador eleito lembrou do histórico de Bolsonaro na Câmara, onde "se você não se destaca pela peleia, é engolido". Para ele, o atual presidente continua exercendo o papel de "meter o dedo nos outros", diferentemente do próprio Mourão. "No atacado nós temos o mesmo pensamento, mas a forma de fazer as coisas é outra".
No entanto, Mourão ainda destacou que nunca brigou publicamente com Bolsonaro, apesar de receber reclamações: "Eu tenho noção".
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