Condor revisitada

Relação entre agências internacionais e 'lava jato' precisa ser investigada, diz Gilmar

 

21 de fevereiro de 2024, 13h49

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes afirmou que as investigações sobre a relação entre agências internacionais e a finada “lava jato” precisam ser aprofundadas.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes

Em entrevista ao Brazil Journal, o ministro fez um raio X da autodenominada força-tarefa. A suposta participação de agentes do governo americano na “lava jato” teria se dado pela troca informal de informações entre a força-tarefa e o Departamento de Justiça dos EUA sem a devida anuência do Ministério da Justiça brasileiro.

“A ‘lava jato’ criou um outro Estado no Brasil, influenciado por agências internacionais, especialmente americanas”, disse.

Para Gilmar, a semente que permitiu os abusos da “lava jato” foi plantada muito antes. “Se a gente olhar a Operação Satiagraha, da qual participaram o juiz Fausto De Sanctis, o delegado da PF Protógenes Queiroz, envolvendo o banqueiro Daniel Dantas [grupo Opportunity], já havia um certo conúbio entre o juiz, o promotor e o delegado que foi o protagonista da operação. Tivemos uma operação também contra a magistratura de São Paulo, da Justiça Federal. E também, no âmbito da Justiça Federal, a instalação das varas de lavagem. E, aí, vem um discurso, que precisa ser mais iluminado e aprofundado, que, talvez, tenha influência de setores de agências internacionais”, afirma Gilmar.

O ministro criticou de forma contundente procuradores do Ministério Público e juízes federais por supostos abusos de poder e desrespeito às leis sob o pretexto do combate à corrupção. Segundo ele, o viés político da ‘lava jato’ transformou doações de campanha em propina.

Em particular, Gilmar condenou o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores, acusando Moro de descumprir decisões do STF e os procuradores de tentarem cercear o habeas corpus por meio de projetos de lei.

“Moro descumpriu decisões. E obviamente, todos nós éramos perguntados todo o tempo por Curitiba e pela mídia: ‘Essa decisão contraria a ‘lava jato”. Como se estivéssemos obrigados a seguir a ‘lava jato’! Os seus colegas de imprensa ganharam, de alguma forma, um ‘revival’ agora, com essa questão dos acordos de leniência”, afirma.

O ministro se referia à onda de questionamentos que agora pôde vir à tona a respeito das condições em que esses acordos foram firmados. O ministro Dias Toffoli suspendeu as obrigações de dois deles até que sua legalidade tenha sido apurada.

Em outra frente, o ministro André Mendonça abriu caminho para a revisão de todos os acordos firmados no âmbito da “lava jato”, sinalizando a possibilidade de desfazer a confusão de tratar questões cíveis na seara criminal, como foi o caso dos acordos firmados pelo Ministério Público.

Na entrevista, Gilmar Mendes também brincou com o fato de que o ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes, antes do segundo turno das eleições, contou sobre o convite que seria feito a Sergio Moro para integrar o governo de Jair Bolsonaro. “Ter tirado Sérgio Moro de Curitiba pode ter sido a sua maior contribuição ao Brasil”, disse Gilmar a Paulo Guedes na ocasião.

A entrevista também abordou temas como a prisão de Lula, a suspeição de Moro, e questões relacionadas à polarização política no Brasil. Gilmar expressou preocupação com a politização da segurança pública, defendeu a necessidade de reformas institucionais e criticou a atuação do Batalhão da Guarda Presidencial durante os atos de vandalismo no Palácio do Planalto.

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