Sede de poder

Diálogos mostram que lavajatistas queriam influir em turma do Supremo

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15 de junho de 2023, 20h36

Diálogos entre procuradores da finada "lava jato" apreendidos na operação "spoofing", aos quais a revista eletrônica Consultor Jurídico teve acesso, mostram que o consórcio de Curitiba tentou interferir na formação de uma das turmas do Supremo Tribunal Federal. 

José Cruz/Agência Brasil
Dallagnol chamou de 'fim do mundo' decisão que soltou Rodrigo Rocha Loures
José Cruz/Agência Brasil

Em uma conversa do dia 1º de fevereiro de 2017, uma procuradora identificada apenas como Carol PGR chegou a pedir para Deltan Dallagnol, à época o chefe da "lava jato" em Curitiba, insistir com o ministro Luís Roberto Barroso para que ele se candidatasse a uma vaga na 2ª Turma do STF.

Esse colegiado já era responsável pelos processos da "lava jato" e estava com uma vaga aberta por causa da morte do ministro Teori Zavascki, em um acidente de avião ocorrido no dia 19 de janeiro daquele ano. 

"Barroso tinha q entrar nessa briga. Ele não tem rabo preso. Eh uma oportunidade dele mostrar o trabalho dele. Os outros ministros devem ter ciúmes dele, pq sabem que ele brilharia na LJ. Ele tem que ser forte e corajoso. Ele pode pedir p ir p 2 turma e ninguém pode impedi-lo. Vão achar ruim mas paciência, ele teria feito a parte dele", falou a procuradora — os diálogos são reproduzidos nesta reportagem em sua grafia original.

Dallagnol, por sua vez, respondeu que já tinha insistido com o ministro por sua candidatura, mas que considerava improvável que ele se candidatasse. Carol PGR também mencionou uma possível candidatura do ministro Edson Fachin, mas reiterou que seu preferido era Barroso e disse que iria rezar para que ele se apresentasse como candidato. 

No dia seguinte, a suposição sobre a candidatura de Fachin se confirmou e ele acabou ocupando a vaga que era de Zavascki.  Na época, a 2ª Turma do Supremo era formada também pelos ministros Gilmar Mendes (presidente), Celso de Mello (então decano da corte), Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.

Revolta com decisões do STF
Em outro diálogo, este do dia 30 de junho de 2017, Dallagnol compartilhou notícia publicada pela jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, sobre a soltura de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente Michel Temer. O chefe do consórcio de Curitiba questionou se a decisão havia sido fruto de um acordo de delação, já que, do contrário, ela seria "o fim do mundo". 

Carol PGR respondeu que não houve acordo e que era mesmo "o fim do mundo", e também disse que "Aécio foi solto". No dia da conversa, o ministro Marco Aurélio Mello, que se aposentou em 2021, determinou a retomada do mandato do político mineiro no Senado. 

Dallagnol também comentou reportagem da revista Época sobre uma possível renúncia de procuradores, motivada pela nomeação de Raquel Dodge para o cargo de procuradora-geral da República, no lugar de Rodrigo Janot. Na época, os lavajatistas negaram a ameaça de debandada.

"Veja e Época deram matéria sobre isso, mas parece que a informação estava correndo solta. até o produtor da rádio Gaúcha falou sobre isso", disse Dallagnol. 

Por fim, ele pediu a Carol PGR que conversasse com jornalistas dessas publicações para descobrir a origem da informação. "Sobre a possível renúncia por causa da nova PGR. não insisti (mais) para me falarem nomes, porque sigilo de fonte é sagrado para jornalista. mas confirmei que foi insider mesmo. pelo menos uma pessoa do GT falou em off que sairiam todos. e isso foi confirmado por mais gente da própria PGR."

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