Relacionamento duvidoso

Jornalistas compraram projeto da "lava jato", diz colunista da Folha

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21 de fevereiro de 2021, 15h10

A jornalista e colunista do jornal Folha de S.Paulo Cristina Serra afirmou que a imprensa se empenhou em atuar junto com procuradores da "lava jato" de Curitiba e comprou o projeto de poder vendido pelos integrantes do Ministério Público Federal no Paraná. A declaração foi feita durante análise na TV 247

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Segundo Cristina Serra, jornalistas compraram projeto de poder da "lava jato"
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"Quando eu falo da imprensa, na verdade eu estou falando quase sempre das empresas, das posições que elas tomam. No entanto, no caso da 'lava jato', eu observo uma coisa que acho muito grave: o engajamento de repórteres, de jornalistas que individualmente compraram essa história do projeto da ‘lava jato que ia acabar com a corrupção no Brasil", disse. 

Segundo Cristina Serra, "você tem um conjunto de troca de mensagens entre jornalistas e a força-tarefa, os procuradores, Deltan Dallagnol sobretudo, que é comportamento completamente inaceitável, inadmissível, impróprio".

"É isso que eu chamo de jornalismo pervertido, porque é uma perversão total. Tem repórteres que estavam ali na linha de frente da apuração das investigações que sacrificaram completamente a independência, deixaram de usar seu senso crítico em troca de ter acesso às fontes com rapidez, acesso aos documentos e às delações. Esse é o pior dos mundos do jornalismo."

Atuação decisiva
Conforme mostrou a ConJur em notícia publicada no último dia 11, jornalistas tiveram papel decisivo na "lava jato". O jornalista Thiago Prado, da Veja, por exemplo, chegou a sugerir a Dallagnol prisão de pessoas. Também fornecia mensagens para incriminar terceiros suspeitos, além de documentos e extratos bancários. 

O jornalista chegou a festejar quando Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, foi preso por causa dele. Prado, que vive no Rio, implorou por uma "ponte" com a Procuradoria-Geral da República para entregar o que considera provas para condenar pessoas. O chat compreende o período de abril de 2015 a junho de 2016.

Outro mérito do jornalista foi provocar o caso que gerou buscas e apreensões nas casas e escritórios de 26 advogados que trabalharam para a Fecomércio do Rio de Janeiro. Ele oferece ao procurador as notas fiscais que diz ter do escritório do advogado Roberto Teixeira contra a Federação. Como Deltan nada responde em março de 2016, Prado volta a insistir no mês seguinte. Sem qualquer ligação com "lava jato" ou Curitiba, o evento, naturalmente, só poderia ser conduzido pelo Rio de Janeiro que, mais tarde, entraria no assunto.

O jornalista mostrava certa fixação com o senador Romário (PODE-RJ) que, pelo cargo, não poderia ser investigado em Curitiba. Ele pede quebras de sigilo e insiste também em culpar o banqueiro André Esteves.

"Assim como eu colaborei lá atrás entregando todos os e-mails do Cerveró para vocês, por favor, peço essa ajuda para desmontarmos essa farsa", pede o repórter. Em dado momento, Dallagnol brinca, dizendo que o jornalista já pode entrar para o Ministério Público.

O Antagonista
Comunicadores do O Antagonista também mantiveram um relacionamento próximo com a 'lava jato', conforme revelou o site The Intercept Brasil.

Segundo a reportagem, procuradores da força tarefa "agiram politicamente", usando como "porta-voz" o site O Antagonista, do qual fazem parte os jornalistas Diogo Mainardi, Mario Sabino e Claudio Dantas. As afirmações foram feitas com base em diálogos obtidos pela equipe do Intercept.

Para a publicação, as conversas tornadas públicas nesta segunda deixam claro que “a 'lava jato' e O Antagonista se veem como parceiros”.

Houve relacionamento promíscuo, segundo a reportagem, porque integrantes da força-tarefa solicitaram aos jornalistas a não publicação de algumas notícias, pedido que foi acatado.

A relação privilegiada entre ambos também se verificou porque os jornalistas consultaram os procuradores para saber que candidato a procurador-geral da República (PGR) eles estavam apoiando.

Além disso, jornalistas do site também sugeriram a procuradores, com base em boatos, que investigassem fatos que pudessem atingir o PT. Foram atendidos, ao menos inicialmente, afirma a reportagem.

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