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"Prisões e condenações não são importantes para nós", diz Marcelo Bretas

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9 de outubro de 2020, 15h42

"Não é importante para nós a prisão de alguém, a condenação de alguém”, afirmou o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. "O importante é expor o problema."

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Para Marcelo Bretas, a "semente da 'lava jato' foi plantada" e não será detida
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O juiz dos processos da franquia da "lava jato" no Rio deu uma palestra, nesta sexta-feira (9/10), para a Alma Premium Brasil, uma plataforma de conteúdo que promove "conhecimento & networking & business".

O evento foi transmitido na página da entidade no Instagram. Até as 15h de hoje, havia tido 29 visualizações.

Em casos da "lava jato" no Rio, Bretas decretou 265 prisões (217 preventivas e 48 temporárias) e condenou 41 pessoas, algumas delas por várias vezes, como o ex-governador Sérgio Cabral (MDB). Os dados, atualizados até 20 de setembro de 2019, são do Ministério Público Federal. Em todos os casos, o "problema" foi "exposto" com grande estardalhaço da mídia, divulgação das acusações e condenações e presença da imprensa durante as operações.

Em relação aos possíveis excessos cometidos durante as ações, o juiz federal disse que tem "uma preocupação muito grande de não cometer nenhum injustiça, não expor ninguém que não tenha envolvimento" com ilícitos. Também declarou que as investigações e condenações não miram nenhum grupo político ou econômico específico.

"Às vezes uma decisão é tomada na primeira instância, confirmada em segunda e terceira instâncias e mudada na quarta instância. Não é nada tão absurdo. Não é por ter sido modificada que houve um abuso ou exagero da primeira instância."

As decisões de Bretas têm sido constantemente revogadas pelo Supremo Tribunal Federal — a última foi no sábado (3/10), quando o ministro Gilmar Mendes suspendeu o maior ataque contra a advocacia já promovido no Brasil, afirmando que há indicações de que o juiz invadiu a competência do STF ao julgar caso envolvendo ministros de tribunais superiores.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quarta (7/10) que acabou com a "lava jato" "porque não tem mais corrupção no governo". Marcelo Bretas, que é admirador confesso do ex-deputado e capitão reformado do Exército, relevou a declaração.

"Não deveríamos nos preocupar com o fim da 'lava jato'. O nome que se deu a esse grupo não é o importante. O importante é o princípio de como se deve fazer a justiça, doa a quem doer." Segundo o julgador, a "semente da 'lava jato' foi plantada" e não será detida.

Bretas não é a favor da corrupção
Como é de praxe em palestras de integrantes da operação, Bretas fez um discurso sobre os males da corrupção. "Não contem com pessoas que fazem coisas erradas e insistem nisso. Não contem com quem vende alguma facilidade, com quem abusa do poder econômico."

"Nada vale você ser muito bom na sua atividade se alguém que não faz um serviço tão bom, não produz uma peça tão boa só consegue um contrato por causa de em esquema ilícito. A corrupção diminui a competição", alertou.

O discurso contra a corrupção foi vencedor nas eleições de 2018, apontou o juiz, defendendo que "essa bandeira não pode ser colocada de lado".

O juiz ainda lamentou os supostos ataques que vem recebendo. "Há cinco anos recebo pedradas, eu e meus familiares somos alvo de injúrias, tenho segurança especial e não posso me defender. Não posso me reclamar na mídia, pois, se aceitar um convite para estar num evento público, corro o risco de ser penalizado só por estar ao lado de alguma autoridade."

Em setembro, Marcelo Bretas foi condenado à pena de censura pelo Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES).  Ao participar de eventos ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos), o juiz demonstrou uma desnecessária proximidade com políticos, comprometendo sua imparcialidade com magistrado, afirmaram os desembargadores.

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