Opinião

A tragédia das fake news

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24 de maio de 2024, 9h17

Na primeira metade dos anos 1980, já próximo ao fim de tempestuoso período de nossa história, João Ubaldo Ribeiro lançava sua obra “Viva o Povo Brasileiro”, na qual preconizava que “de mentiras e patranhas que se faz a narração da guerra”.

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Certo estava o renomado autor, pois não haverá esperança, ao menos não à democracia, enquanto persistir o cenário de manipulação da informação e o distanciamento deliberado dos fatos, que insistem em se descortinar diante dos olhos cansados de uma sociedade assolada por uma catástrofe.

A dissimulação, a mentira e a falsidade negam aos cidadãos o acesso à informação necessária à formação do juízo crítico, além de ofuscar o discernimento necessário aos representantes do povo na tomada de decisões fundamentais ao bem-estar da coletividade.

A intensa mobilização em favor das vítimas da tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul vem sendo colocada à prova pelas informações falsas que circulam.

O quadro é grave e provoca ampla reflexão sobre um dos maiores desafios da atualidade: a atuação na defesa intransigente do acesso à informação como um direito fundamental previsto no ordenamento jurídico brasileiro.

Importantes iniciativas, como a edição da Lei de Acesso à Informação, vêm causando expressivo impacto para a transparência governamental, de modo a facilitar o acesso dos cidadãos à informação.

Para além das normas, muito se tem feito como a criação de portais de transparência que viabilizam o acesso de todos a informações relevantes sobre gastos públicos, contratos, licitações, salários de servidores e indicadores sobre execução de políticas públicas.

Ceticismo, insegurança e desesperança

No entanto, é preciso atentar para o movimento de desinformação, que pressupõe prática antiética e muitas vezes criminosa, a utilizar técnica de comunicação que induz ao erro, com distorção da realidade e destruição da capacidade de discernir a verdade. Provoca, assim, ceticismo, insegurança e, ao final, desesperança.

Mitos e versões criativas que desviam o curso da história são adaptados à mentalidade das massas e tornam-se instrumentos de movimentos políticos para criação de visões fantasmagóricas que carecem de qualquer base factual.

Tudo isso ocorre porque, “tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Timóteo, 3:4).

As consequências são por demais nefastas, porque geram a desvalorização de iniciativas positivas da sociedade, prenhe de ações de solidariedade, e desacreditam medidas importantes de governo, a exemplo da criação de auxílio para famílias de baixa renda que ficaram desabrigadas, inclusão de famílias em estado de vulnerabilidade na folha de pagamento do Bolsa Família, abertura de linhas de crédito para empresas e produtores rurais, antecipação de pagamento de benefícios, liberação de R$5 bilhões para ações emergenciais de ministérios, carência no pagamento de financiamento e envio de projeto de lei ao Congresso que suspende o pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União por três anos.

Neste momento de tanto desalento, em que as chuvas e cheias de rios vitimaram pelo menos 149 pessoas, alagaram mais de 400 cidades e desabrigaram milhares de pessoas, é necessário compreender o cenário de risco.

A desinformação e as fake news podem promover, por elas mesmas, tragédia descomunal, porque abeiram-se da ditadura, valem-se da violência e desejam a subjugação despótica dos mais carentes.

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