Militares apostaram no caos que daria poder de intervir, diz Gilmar Mendes a jornal alemão
23 de maio de 2024, 16h38
O ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal, afirmou que os generais brasileiros que participaram do governo de Jair Bolsonaro (PL) e flertaram com a tentativa de golpe de Estado promovida pelo ex-presidente apostaram no caos do 8 de janeiro para poder intervir.
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O ministro Gilmar Mendes, decano do STF, criticou em entrevista a participação de militares no 8 de janeiro
Em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), Gilmar disse que, desde a redemocratização do país, a gestão de Bolsonaro foi o principal atentado ao regime político brasileiro, em especial por conta da influência de militares de alta patente em cargos de governo e ministérios.
Citando as pretensões das Forças Armadas de ratificar o resultado das eleições de 2022 — o que nunca foi atribuição dos militares — Gilmar disse que essa “foi uma ameaça que nunca tivemos desde a redemocratização”.
“Eles (militares) estavam apostando no caos que lhes teria dado o poder de intervir. Mas estavam em minoria.”
O decano do Supremo afirma que, ao tomar conhecimento dos ataques de bolsonaristas em janeiro passado, refletiu: “O que fizemos de errado para chegar a este ponto? E o que temos que fazer para evitar que algo assim aconteça novamente?”.
Para Gilmar, há correlação entre a intentona golpista e a desregulamentação das empresas que controlam as redes sociais no país, chamadas de big techs. Citando o chamado inquérito das fake news, que continua apurando as ameaças à democracia, o ministro disse que o processo foi uma resposta do tribunal à crescente desinformação nas redes.
“Tudo o que pedimos é que as empresas que oferecem serviços no Brasil sigam a legislação brasileira. Isso é tudo”, afirmou o ministro na entrevista.
Outro ponto de correlação foi o da operação “lava jato”, da qual Gilmar é crítico, e a ascensão do bolsonarismo, que por sua vez alimentou os ataques golpistas de 2023.
Os tarefeiros da “lava jato”, diz o ministro, se aproveitaram de um vácuo para ascender politicamente, como no caso da indicação de Sergio Moro (União Brasil) para servir ao governo Bolsonaro em 2019, o que escancarou as distorções nos julgamentos. “Ficou claro que Lula não deveria ter sido condenado nessas circunstâncias”, diz Mendes.
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