Opinião

Reforma institucional necessária na CBF

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4 de janeiro de 2024, 9h19

A Confederação Brasileira de Futebol é uma entidade central no contexto do futebol nacional e internacional. Porém, nos últimos anos, tem sido alvo de questionamentos sobre a legitimidade de seus líderes. Ednaldo Rodrigues, presidente interino da CBF desde a saída de Rogério Caboclo, enfrenta um déficit significativo de legitimidade.

O processo que levou à presidência interina de Ednaldo foi marcado por controvérsias. Sua ascensão ao cargo ocorreu em um ambiente tumultuado, após Caboclo ser afastado por denúncias de assédio moral e sexual. Essas acusações geraram profundo abalo na gestão da entidade, lançando dúvidas sobre a integridade da instituição e comprometendo a credibilidade do seu novo líder.

Fernando Frazão/Agência Brasil

A falta de um processo eleitoral transparente também contribui para o déficit de legitimidade. A ausência de uma votação aberta e democrática levanta questionamentos sobre a representatividade de Rodrigues e sua capacidade de conduzir a CBF. A falta de legitimidade na entidade também se deve à recorrência de eleições de “chapa única”, que comprometem a representatividade e disputas de projetos, reduzindo o pleito a uma aparência de legalidade e legitimidade.

É no mínimo curioso que o cargo de presidente do futebol mais prestigiado do mundo, com salário que supera a cifra de R$ 300 mil, não seja fruto de eleição com ampla concorrência. A discussão sobre os rumos da CBF é crucial não apenas sob o prisma desportivo, mas também pelo viés econômico. O futebol movimenta R$ 52,9 bilhões na economia (quase 1% do PIB brasileiro) e arrecada R$ 761 milhões em impostos.

Assim como ocorreu com a gestão de Caboclo, a gestão de Ednaldo também é marcada pelo ambiente interno conturbado e já conta com pelo menos duas denúncias de assédio moral por parte de integrantes do alto escalão da instituição.

Não resta dúvida de que em instituições do porte da CBF faz-se necessário um rigoroso programa de compliance, buscando efetivar um conjunto de boas práticas e conformidade com os regulamentos e normas nacionais e internacionais.

Na atual quadra, os órgãos reguladores, patrocinadores e a opinião pública têm exigido mudanças significativas na estrutura e governança das instituições. No que se refere à CBF, não pode ser diferente.

Cumpre ressaltar que Ednaldo está afastado do cargo de presidente da Confederação desde o dia 7  de dezembro de 2023, em virtude de decisão judicial proferida pela 21ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) e mantida pela presidente do Superior Tribunal de Justiça, Maria Thereza de Assis Moura.

Em ato contínuo, em requerimento de medida de urgência disposta na Arguição de Preceito Fundamental (ADPF) 1.110, de autoria do Partido Social Democrático (PSD), o relator ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, rejeitou a liminar para reverter o afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF, sob o argumento de que estavam ausentes os requisitos capazes para justificar a concessão de liminar, asseverando que o processo já tramitava por seis anos no juízo da 21ª Câmara de Direito Privado do TJ-RJ sem a vigência de nenhuma medida de urgência.

A decisão do juízo de primeiro grau representa um importante ponto de inflexão, uma vez que determina a obrigatoriedade de realização de novas eleições na entidade no prazo de 30 dias.

Podemos estar diante de oportunidade singular para a promoção de reformas institucionais que possam resgatar a legitimidade e credibilidade da Confederação Brasileira de Futebol. Faz-se urgente e necessária a afirmação institucional de comprometimento com a ética, transparência e boas práticas corporativas.

Eleições democráticas e a implementação de políticas de responsabilidade e integridade tornam-se cruciais para a reconstrução da imagem da CBF e para legitimação da liderança de quem venha a ocupar a cadeira da maior instituição futebolística do mundo. O déficit de legitimidade da CBF é um desafio complexo, mas não insuperável. A busca por uma gestão transparente, ética e inclusiva é fundamental para resgatar a confiança dos envolvidos e promover mudanças positivas no cenário do futebol brasileiro.

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