Tribunal dos EUA vai decidir se governo pode espionar cidadãos sem mandado
8 de junho de 2023, 12h22
O Tribunal Superior de Michigan, nos EUA, vai decidir se governos podem usar drones para espionar cidadãos e suas propriedades privadas sem mandado judicial e, depois, usar as possíveis provas obtidas em julgamento.
Um tribunal de recursos do mesmo estado decidiu que podem, se as provas obtidas, mesmo em violação de dispositivo constitucional, forem usadas em casos civis — não em casos criminais.
O dispositivo constitucional em questão é a Quarta Emenda da Constituição dos EUA, que proíbe buscas e apreensões não razoáveis e estipula que mandados só podem ser emitidos com base em causa provável, sustentada por juramento ou afirmação, descrevendo o local a ser revistado e as pessoas ou coisas a serem apreendidas.
O tribunal de recursos já havia tomado uma decisão contrária anteriormente — isto é, a favor do casal Todd e Heather Maxon, que foi processado por violação do código de zoneamento de Long Lake Township, uma pequena cidade na zona rural de Michigan.
Em 2018, a cidade processou o casal por manter, para reformar, carros danificados e sucatas em sua propriedade de cinco acres. Como os carros e a sucata não eram visíveis da rua, a cidade contratou um operador de drones para obter as provas fotográficas que precisava para processar o casal.
A cidade ganhou em primeiro grau, mas o tribunal de recursos reverteu a decisão. Para o tribunal, as provas foram obtidas sem mandado judicial e, portanto, em violação da Quarta Emenda da Constituição.
A cidade recorreu ao Tribunal Superior de Michigan, que remandou o processo ao tribunal de recursos, para "determinar se a regra de exclusão de provas ilícitas do processo (exclusionary rule) se aplicava a essa disputa".
De acordo com essa regra, o governo não pode usar, em julgamento criminal, provas obtidas em violação à Constituição dos Estados Unidos.
Desta vez, a corte deu ganho de causa à cidade. Em sua decisão, o tribunal de recursos determinou que "a exclusionary rule não se aplica em matérias civis". Explicou que a inclusão da palavra "civil" é importante, porque "a decisão se sustenta no fato de que esse não é um caso criminal".
"A exclusionary rule é uma ferramenta essencial para a execução no disposto na Quarta Emenda e para desencorajar as autoridades policiais espezinhar os direitos constitucionais. Porém, como a intenção da cidade não foi a de punir os Maxons, mas a de minorar um transtorno, a regra não serve uma função de valor", diz a decisão.
A corte não decidiu se a cidade violou os direitos dos Maxons, garantidos pela Quarta Emenda, porque isso não tinha importância no caso. Mas afirmou que "a decisão é válida mesmo que a cidade tenha violado os direitos constitucionais dos Maxons".
Uma explicação é a de que há situações em que faz sentido ter padrões diferentes para casos civis e criminais. Por exemplo, o ônus da prova em julgamento civil é a "preponderância de provas", enquanto um veredicto em julgamento criminal requer "prova acima de qualquer dúvida razoável".
O Institute for Justice (I.J.), que representa o casal Maxon, recorreu ao Tribunal Superior de Michigan. A petição argumenta que "as proteções constitucionais não fazem sentido sem os remédios para executá-las". E que a decisão do tribunal de recursos "pode permitir a autoridades governamentais realizar vigilância com drones sem mandado, impunimente — mesmo que a vigilância viole a Quarta Emenda".
Em outras palavras, a decisão do tribunal de recursos irá conceder a governos o status de "big brother", com ampla liberdade para espionar os cidadãos. Com informações dos sites Reason e The Center Square.
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