MISTÉRIOS REVELADOS

Colega de prisão diz que viu instalação de grampo na cela de Youssef na PF em 2014

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6 de junho de 2023, 9h32

Um veterinário que esteve preso junto dos primeiros alvos da "lava jato" na carceragem da Polícia Federal de Curitiba em 2014 revelou, em áudios protocolados no Supremo Tribunal Federal, ter presenciado a instalação de uma escuta ilegal na cela do doleiro Alberto Youssef, mas, em seguida, ter sido forçado a mudar sua versão em uma investigação administrativa. As informações são da CNN Brasil.

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Escuta foi encontrada pelo doleiro em sua cela, mas PF disse que estava desativada

À época, o veterinário, chamado Ailton Silva, era suspeito de tráfico de drogas. Ele viu o processo de preparação das celas para os novos presos e, após a chegada de Youssef, alertou o doleiro sobre o grampo.

Na ocasião, foi aberta uma sindicância e Ailton contou o que viu. O relato foi documentado pela PF. Mais tarde, ele foi pressionado a mudar sua versão. Com isso, o veterinário foi transferido e nenhum agente envolvido no caso foi responsabilizado.

Os áudios com tal relato foram anexados a um processo que questiona os processos da "lava jato" e propõe revisões. A defesa de Ailton disse à CNN Brasil que o cliente se sentiu extorquido pelos agentes da PF a mudar de depoimento.

Relato suprimido
Após Youssef encontrar a escuta, foi aberta a sindicância. O veterinário relatou toda a situação para a PF e fez o reconhecimento fotográfico do agente que instalou o equipamento na cela, de acordo com a reportagem da CNN. Segundo Ailton, o próprio delegado logo afirmou: "É ele mesmo".

Certo tempo depois, outro delegado pediu que ele confirmasse seu depoimento. Na sequência, solicitou que todos na sala desligassem telefones e computadores e lhe disse que o policial identificado estava de folga no dia mencionado.

O delegado passou a questionar se o veterinário queria prejudicar a PF e se ele sabia das possíveis consequências. Nos áudios, Ailton diz que se sentiu ameaçado.

Logo depois, um advogado entrou na sala. O delegado disse ao veterinário que se tratava do advogado de Youssef, mas Ailton não tinha certeza da veracidade da informação.

O delegado afirmou que já havia um acordo entre a PF e a defesa do doleiro para interromper a sindicância, sem menção ao nome de Ailton. Com isso, após os aparelhos serem novamente ligados, o veterinário depôs conforme as orientações passadas: afirmou que estava em uma situação difícil, alterado psicológica e psiquiatricamente; que não havia visto nada; e que a identificação do policial havia sido um engano.

Grampo
No início da "lava jato", Youssef foi apontado como operador financeiro de um esquema de desvios na Petrobras. Ele foi condenado em diversas decisões, mas teve sua pena reduzida porque aceitou relatar sua participação nas irregularidades. Assim, se tornou o delator mais importante da força-tarefa.

Em 2014, quando ainda se recusava a colaborar com as investigações, o doleiro encontrou o grampo em sua cela na carceragem da PF de Curitiba. A corporação alegou que a escuta era antiga e estava desativada.

No último mês de maio, Youssef obteve provas do uso do grampo — incluindo os áudios do que foi ouvido ilegalmente pelos investigadores. Por isso, resolveu pedir a anulação de seu acordo de delação e de suas condenações.

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