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Militares foram a acampamento bolsonarista em frente a QG do Exército

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20 de janeiro de 2023, 10h34

Um relatório produzido durante a recente transição do governo federal identificou que pelo menos oito militares da ativa lotados na Presidência da República durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) foram, no último ano, a atos no acampamento golpista instalado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. As informações são da Folha de S.Paulo.

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Quartel-General do Exército, em BrasíliaWikimedia Commons

O documento, em posse do Ministério da Justiça e Segurança Pública, aponta que alguns deles participaram de grupos de WhatsApp no qual foram compartilhadas mensagens antidemocráticas e ameaças ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os militares em questão estavam alocados especialmente no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, na época em que o chefe do órgão era o general Augusto Heleno, forte aliado de Bolsonaro. Nesta quinta-feira (19/1), foram publicadas as dispensas de dois dos envolvidos.

Após as eleições ocorridas no último mês de outubro, a área em frente ao quartel-general do Exército se tornou uma base de bolsonaristas inconformados com o resultado. Eles pediam um golpe das Forças Armadas para impedir a posse de Lula.

Neste acampamento foram abrigadas pessoas envolvidas na tentativa de invasão ao prédio da Polícia Federal em dezembro; na instalação de uma bomba próxima ao aeroporto de Brasília na véspera de Natal; e no ataque aos prédios do Supremo Tribunal Federal, Congresso e Palácio do Planalto no último dia 8/1. O local foi esvaziado pela Polícia Militar do Distrito Federal no dia 9/1, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Conforme o relatório, os militares foram ao QG sem farda, geralmente vestindo a camisa da seleção brasileira de futebol, e encorajaram outros colegas a fazer o mesmo com suas famílias após o expediente.

As figuras
Uma foto postada nos grupos mostra o major Alexandre Nunes, do Exército; o sargento Márcio Valverde, da Marinha, nomeado como assistente no GSI em 2020; e um homem identificado como sargento Azevedo, da Aeronáutica.

Conforme o dossiê, Nunes teria dito a representantes diplomáticos que Lula não subiria a rampa do Palácio do Planalto no dia de sua posse. Já Valverde foi um dos dispensados nesta quinta-feira.

Outro militar que compareceu aos atos no acampamento foi o primeiro-sargento Ronaldo Ribeiro Travasso, da Marinha. Ele também trabalhava no GSI e disse que daria um tiro na cabeça de seu irmão caso ele fizesse o "L" — gesto repetido pelos eleitores de Lula. Segundo ele, "quem faz o L é terrorista" e "tem que morrer". À Folha, ele alegou não saber se era ele mesmo nos áudios.

Os demais militares citados no documento são da Marinha: Estevão Soares, Thiago Cardoso, Marcos Chiele e Fernando Carneiro Filho. Chiele foi dispensado junto com Valverde.

Cardoso, que é primeiro-sargento, alegou à Folha que não participou de manifestação política ou antidemocrática, mas somente de orações pelo país e conversas nas vigílias feitas em frente ao QG. Ele disse que em nenhum momento se pronunciou e que não concorda com qualquer prática criminosa.

Segundo Cardoso, a maioria dos presentes no acampamento não pregava um golpe: "As pessoas ali estavam ansiosas por informações no celular que legitimassem uma participação das Forças Armadas na defesa da democracia, porque não acreditaram na lisura do processo eleitoral".

Já Soares contou ter saído do grupo de WhatsApp ao perceber seu desvio de finalidade e discordar do conteúdo de certas postagens  antidemocráticas e violentas. Ele disse que muito provavelmente esteve no acampamento por uma vez no início de novembro, a pedido de sua mulher e seus filhos, mas sem qualquer motivação política — apenas para participar de um grupo de oração e passear pela área, onde fica a Praça dos Cristais.

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