Das cinzas

Dupla da 'lava jato' dá demonstração de força com votação no Paraná

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2 de outubro de 2022, 23h34

Sergio Moro (União Brasil) e Deltan Dallagnol (Podemos) foram eleitos neste domingo (2/10) para senador e deputado federal, respectivamente, pelo Paraná. E a vitória da dupla foi enfática. Enquanto o ex-juiz obteve 1,9 milhão de votos, o ex-procurador foi o candidato mais votado para a Câmara dos Deputados no estado, com 343 mil votos (99,96% das urnas apuradas até a publicação deste texto).

Antonio Cruz/ Agência Brasil
Para especialistas, Moro teve sucesso por pegar carona na popularidade de Bolsonaro
Antonio Cruz/ Agência Brasil

Peça central da autodenominada força-tarefa da "lava jato", o ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro superou o padrinho político Alvaro Dias (Podemos) na disputa por uma vaga no Senado. Além disso, Moro, que queria se candidatar por São Paulo, mas não conseguiu, emplacou o nome de sua mulher, Rosângela Moro (União Brasil), para a Câmara dos Deputados em terras paulistas. 

Depois de terem se tornado nacionalmente conhecidos por causa de sua atuação na "lava jato", Moro e Deltan protagonizaram um escândalo judicial sem precedentes graças às revelações da "vaza jato", que desnudou os métodos do consórcio de Curitiba.

A dupla parecia estar em baixa, mas neste domingo conseguiu dar uma demonstração de força. Para Fabio de Sa e Silva, professor de estudos brasileiros na University of Oklahoma, nos Estados Unidos, o êxito dos dois nas eleições é justificável. "O lavajatismo é uma variante do bolsonarismo. Tendo em vista o desempenho do presidente na eleição, é natural que esses personagens colham os dividendos eleitorais." 

O professor lembra que tanto Moro quanto Deltan, em suas campanhas, tentaram se associar a Bolsonaro de alguma maneira. "É um retrato dos valores que a sociedade brasileira hoje compartilha. Eles emulam muito do que o Bolsonaro faz. Pode até ter uma diferença estética, mas estão no mesmo campo." 

O advogado e doutor em Direito Econômico pela USP Ernesto Tzirulnik, por sua vez, opina que a "lava jato" ajudou a criar uma conjuntura que permitiu que a direita passasse a ter um espaço enorme na preferência dos eleitores brasileiros. "O resultado até aqui mostra que a consciência individual dos brasileiros retrata bem o grau de preconceitos e reacionarismo do Bolsonaro."

Já o criminalista Fernando Fernandes afirma que tanto a eleição de Moro quanto a de Deltan comprovam a necessidade de vigilância na aplicação da Constituição de 1988. "A atuação de um ex-juiz e um ex-procurador que usaram seus cargos para fazer política criou o que o ministro Gilmar Mendes chamou de estamento, que influiu na eleição de 2018 e acabou os favorecendo em 2022." 

Apesar do sucesso eleitoral, porém, Moro e Deltan poderão ter dificuldades no Congresso, conforme alertou à revista eletrônica Consultor Jurídico um advogado com livre trânsito em Brasília. "É natural que eles sejam eleitos. O desafio deles é sobreviver no Congresso Nacional e continuar relevantes em 2026." 

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