ConJur, 25 anos

Duas décadas e meia de diálogo aberto com atores do Judiciário e a sociedade

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22 de julho de 2022, 10h07

Quando a revista eletrônica Consultor Jurídico (a ConJur) entrou no ar em 1997 só tinha como concorrentes as editorias de "Legal" dos grandes jornais impressos. Naquela época, o jornalismo falava  a mesma "língua", defendia os mesmos valores no sentido de prestar um serviço público para  informar, investigar, educar (sempre que possível), estar compromissado com a verdade e contribuir para ajudar seus leitores a entender o caos do mundo, ordenando os assuntos, especificamente do universo jurídico.

Spacca
Spacca

Nesse percurso dinâmico, tudo mudou. A produção de conteúdo se democratizou com as redes sociais para além das hostes jornalísticas e as fake news entrou na comunicação como erva daninha para manipular a percepção dos leitores sobre a realidade e incitar conflitos sociais. Nesse contexto, a ConJur também mudou, cresceu, diversificou-se e  incorporou os paradigmas das comunidades jurídicas (os operadores do Direito), sem negligenciar seus compromissos com as boas práticas  jornalísticas. O tratamento da informação sempre manteve o rigor ético e técnico para potencializar temas e contribuir para repensar o universo jurídico. Como diz o escritor e jornalista Gabriel Garcia Márquez, "a ética deve acompanhar o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro".

O jornalismo praticado pela ConJur reflete os fatos que foram apurados e checados pela redação e se transformaram em notícias. Em nenhum momento, o site jornalístico se coloca como um mero replicador de releases que recebe de assessorias de comunicação de tribunais, escritórios de advocacia, OABs, Defensorias, Ministérios Públicos de todo o país e outras associações e órgãos representativos ligados ao universo jurídico.

Ao longo dos 16 anos em que  trabalhei como assessora de imprensa da OAB-SP, a relação com os jornalistas da ConJur sempre foi muito profissional. O release e pauta enviados serviam como indicativos de uma possível notícia, desde que tivessem efetivo interesse jornalístico (ser atual, ter caráter universal, ser relevante e ter a capacidade de gerar interesse público). Não era (e não é) replicado em sua íntegra para simplesmente responder às demandas corporativas de terceiros; um  critério que vem ajudando a manter uma comunicação jurídica de qualidade em benefícios de todos os interessados.

Nessa busca pela independência jornalística, a ConJur sempre cultivou valores e "fontes", sendo que elas, muitas vezes, revelaram temas sensíveis e sigilosos, importantes para a sociedade, que não viriam a público de outra forma, mas que atualmente estão perdendo relevância diante de um jornalismo mais voltado ao entretenimento e que passa por uma espécie de pasteurização, de cobertura superficial dos fatos, na qual  os veículos se repetem exaustivamente, sem conseguir "alimentar" leitores mais críticos. Nesse processo, a presença de editores com perfis e formação jornalística foi fundamental para a ConJur se destacar na sua cobertura jornalística e antecipar informações, replicadas pela mídia nacional ao longo de sua história.

A ConJur também sempre esteve alinhada a seus leitores, sejam advogados , que representam — em tese — sua massa de leitores com 1,4 milhão de profissionais, promotores e procuradores, magistrados e público em geral, abrindo espaços para artigos, entrevistas, blogs e lives. Na verdade,  com a publicação dos Anuários da Justiça, a ConJur acabou ampliando o conhecimento dos operadores do direito e  da sociedade sobre o judiciário brasileiro e serviu de importante mediadora  entre o público e as decisões das Cortes.

Essa iniciativa  veio ainda  ao encontro de uma demanda social, já que a vida do brasileiro foi sendo, cada vez mais, judicializada. A ConJur colocou em evidência o papel contramajoritário do Supremo Tribunal Federal , isto é, de "guardião" dos interesses de grupos minorizados da sociedade, caso das mulheres, pretos, LGBTQIA+, PcDs etc., trazendo à tona  e debatendo decisões jurídicas relevantes para o conjunto da sociedade, como a união homoafetiva e o aborto de anencefálico, dentre outras.

Se, atualmente, o Supremo e seus ministros são conhecidos da sociedade brasileira — fato pouco comum no resto do mundo — deve-se, em grande parte, ao trabalho  desenvolvido pela ConJur ao longo das últimas décadas, que abriu espaço e interpretou o "juridiquês" dos membros da alta corte brasileira no que concerne às pautas voltadas aos anseios da sociedade e preservação dos direitos fundamentas,  assegurados constitucionalmente. Ensinou, por exemplo,  que no caso de conflitos entre o interesse da maioria e a Carta Magna, essa última deve prevalecer, sempre.

Manter aberto esse  diálogo estabelecido entre todos os atores do  Judiciário e a sociedade e  ajudar a construir e consolidar a informação de qualidade na área jurídica — são contribuições importantes da ConJur nestes 25 anos de existência, além de  confirmar a tese de que as novas  tecnologias — da qual é originária — alteraram a prática do jornalismo, mas não conseguiram modificar sua essência e sua função social. Parabéns, ConJur, e equipe por esse importante marco.

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