Sem perdão

Condenação de homens brancos manda dura mensagem a milicianos nos EUA

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9 de janeiro de 2022, 9h43

Os três homens brancos condenados em novembro de 2020 pelo homicídio de Ahmaud Arbery, um homem negro de 25 anos que corria em uma rua no subúrbio de Brunswick, na Geórgia, foram sentenciados na sexta-feira (7/1) à prisão perpétua. Com essa sentença, o juiz pretendeu mandar uma dura mensagem aos milicianos dos Estados Unidos, que tomam a Justiça nas próprias mãos.

Reprodução de TV
O juiz Timothy Walmsley foi duro ao
aplicar a sentença aos autores do homicídio
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Gregory McMichael, 66 anos, e Travis McMichael, 35, pai e filho, foram sentenciados à prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. O vizinho William Bryan, 52, que teve uma participação menor no crime, foi sentenciado à prisão perpétua, com direito a pedir liberdade condicional após 30 anos de prisão.

Antes de anunciar a sentença, o juiz Timothy Walmsley ordenou um minuto de silêncio na sala de julgamento para dar aos presentes uma ideia do "terror" dos cinco minutos que Arbery passou ao fugir da perseguição empreendida pelos três homens brancos, em duas camionetes, em fevereiro de 2020, antes de ser morto com um tiro no peito.

"Continua voltando para mim o terror que deve ter ocupado a mente do jovem ao correr por Satilla Shores. Ahmaud Arbery foi perseguido, levou um tiro e morreu porque indivíduos aqui nesta sala de julgamento tomaram a lei em suas próprias mãos", disse o juiz.

Ele se referia ao argumento da defesa de que os três homens perseguiram Arbery para efetuar uma prisão por cidadão comum. Eles suspeitaram que a vítima, por ser negra e estar correndo na rua, era um ladrão. E, por isso, decidiram persegui-lo e prendê-lo. Em fevereiro, eles serão processados em um tribunal federal por crime de ódio.

Na audiência para proferimento da sentença, a defesa pediu leniência, porque os réus sentiram remorso, um argumento que o juiz não aceitou no caso dos McMichaels:

"Remorso não é simplesmente uma declaração de arrependimento. Remorso é algo que tem de ser sentido e demonstrado. Depois que Arbery caiu, eles lhes deram as costas. E pronunciaram palavras insensíveis".

O juiz, no entanto, aceitou a alegação de remorso do vizinho Bryan, que participou da perseguição, filmou-a, e, no final, "demonstrou grave preocupação com o que ocorreu e que não deveria ter ocorrido. Ele não matou, não tentou matar e não teve a intenção de matar". Por isso, terá direito à liberdade condicional, explicou o juiz.

Walmsley criticou a interpretação dos réus sobre um homem negro, morador de uma pequena comunidade em um bairro eminentemente branco, correndo rua abaixo:

"Um vizinho é mais do que a pessoa que mora ao lado de sua casa. Ao assumir o pior nos outros, mostramos nosso pior caráter", ele disse, segundo as emissoras de TV BBC News, ABC News, NBC News, o jornal The Hill e a Associated Press.

A promotora Linda Dunikoski pediu a pena máxima para pai e filho. "Ficou bem demonstrado um padrão de atuação de milícia nas ações de Greg e Travis McMichael. A reflexão, a empatia e a intuição devem prevalecer, não a ação miliciana", ela disse. Para Bryan, ela pediu pena mínima.

A promotora mencionou o racismo como um fator do crime apenas uma vez no julgamento, para não ferir sensibilidades de um júri composto por 11 jurados brancos e apenas um jurado negro. Em vez disso, ela se ateve aos fatos, às provas, aos testemunhos e às leis relevantes.

Pesou muito, em toda a história, um vídeo da ação que o vizinho William Bryan gravou em seu celular. Os três não foram importunados pela polícia e promotores por mais de dois meses — ou até que esse vídeo veio à tona. A decisão de publicar o vídeo na internet teria sido de Greg McMichael, o pai. Ele achou que o vídeo iria "mostrar que não fizeram nada de errado".

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