Segunda opção

Procuradores da "lava jato" tinham outro juiz federal além de Moro na manga

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5 de fevereiro de 2021, 10h53

O grupo de procuradores de Curitiba tinha proximidade com mais de um juiz federal. Em uma conversa de 12 de junho de 2015, o procurador Deltan Dallagnol dá a entender a um procurador que o melhor momento de buscar uma decisão era quando o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, estivesse atuando.

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A informação consta de uma troca de mensagens entre procuradores à qual a ConJur teve acesso. O diálogo faz parte do material apreendido pela Polícia Federal no curso da chamada operação "spoofing", que mira hackers responsáveis por invadir celulares de autoridades. Veja o que diz Dallagnol ao também procurador Januário Paludo:

12 Jun 15 

• 18:42:56 Deltan Januario se precisar de decisão na 14vara, o Josegrei estará por lá 

• 18:44:08 Deltan Ele assume por 6 meses a partir de junho 

Em janeiro daquele ano, o juiz havia citado contas não comprovadas para ordenar a prisão do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Ao determinar a preventiva de Cerveró, escreveu que o acusado “provavelmente mantém depósito em contas offshore fora do país”. Admitiu que não havia nenhuma prova da existência dessas contas, mas justifica que elas “ainda não foram possíveis de ser identificadas e rastreadas”.

Em agosto de 2016, Dallagnol volta a defender Josegrei conforme mostram diálogos divulgados recentemente. À época, o procurador estava preocupado com a saída do juiz Sérgio Moro do comando da 13ª Vara Federal de Curitiba no final daquele ano. Dallagnol disse que o grupo de procuradores precisava "trabalhar com o nome do Josegrei". 

Na conversa, os procuradores se referem à Moro como "Russo".

10 AUG 16

• 00:31:08 Deltan Russo vai sair fim do ano mesmo, contando que já tenhamos processado o 9 e o Cunha. Pode reavaliar conforme venha o Renan ou a depender da Ode. Acho difícil segurar ele.

• 00:40:01 Diogo quem virá no lugar dele?

• 01:07:27 Deltan Incerto. A saída dele é algo para manter entre nós
06:32:01 Precisamos trabalhar com o nome do Josegrei.

• 07:45:27 Jerusa Sério mesmo?

• 08:44:28 Diogo Poiseh
08:44:33 Se não vem o Flavio
08:44:37 Já pensou?

Josegrei foi juiz da operação “carne fraca”, investigação de março de 2017 contra frigoríficos que teve 38 mandados prisões e 77 conduções coercitivas. Um escândalo internacional com prejuízos estimados em US$ 2,7 bilhões. 

O magistrado foi criticado duramente pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Ele se disse ofendido por ter sido chamado de "estrupício" e “analfabeto voluntarioso” pelo ministro. Com isso, levou à Justiça ação contra o Tesouro e poderá receber R$ 20 mil em indenização, segundo decisão no Juizado Especial Cível da juíza federal substituta Giovanna Mayer, em outubro de 2019.

Gilmar Mendes disse: "O delegado — o nome precisa ser dito —, não se pode esquecer — é o delegado Maurício Moscardi. O procurador que assina a denúncia é Alexandre Melz Nardes. E o juiz, Marcos Josegurei. Têm responsabilidade sobre isso. Portanto é uma coisa chocante, chocante (…) Todos querem virar um Moro, ganhar um minuto de celebridade. Não precisamos de corregedores, mas de psiquiatras. Porque é um problema sério. Quer dizer, os estrupícios se juntam e produzem uma tragédia. Produzem uma tragédia. É constrangedor."

Perfil de Josegrei publicado na Gazeta do Povo o caracteriza como um juiz que "tem 'caneta pesada', linguagem sem afetação, julga com celeridade e ocupa uma das salas da Justiça Federal em Curitiba, de onde manda prender corruptos e outros acusados de desrespeitar a lei". 

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