Novo profissional

Nos EUA, equipes de defesa incorporam o consultor prisional

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14 de março de 2020, 15h29

Só para ricos e famosos, um novo tipo de profissional desponta nos Estados Unidos como o mais novo acessório da defesa: o consultor prisional. A função desse profissional é ensinar réus endinheirados — e obviamente inexperientes — técnicas de sobrevivência na prisão.

A existência desse tipo de consultor profissional veio à tona, porque correu a notícia de que a equipe de defesa de Harvey Weinstein, ex-produtor cinematográfico, rico e famoso, de Hollywood, ex-sócio da Miramax, contratou o consultor prisional Craig Rothfeld, que passou a integrar a já grande equipe de defesa.

Rothfeld é um ex-executivo da Wall Street, que foi condenado à prisão por fraude e manipulação de valores mobiliários. Ele usou sua experiência na prisão para fundar uma firma de consultoria, que se dedica a aconselhar futuros prisioneiros e suas famílias sobre como lidar com a convivência com integrantes da população carcerária que o odeiam por sua riqueza e querem tomar seu dinheiro.

A situação de Weinstein é ainda mais grave. Ele foi condenado por crimes sexuais, porque fazia aspirantes à atriz fazer o teste do sofá. Mais de 80 mulheres apresentaram alegações contra ele, que incluem acusações de estupro e sexo oral sem consentimento. Como parece acontecer em muitos lugares, os prisioneiros odeiam estupradores.

Weinstein foi sentenciado na quarta-feira (11/3) a 23 anos de prisão. Em meados de fevereiro, ele foi considerado culpado por um júri por estupro e outros crimes contra a liberdade sexual, mas foi absolvido de outras acusações sérias, entre as quais a de que é um predador sexual contumaz.

A sentença, aplicada por um juiz considerado muito duro na fixação de penas, esteve perto do limite máximo. As diretrizes de sentenças preveem que, para os crimes praticados, a pena deveria ser de 5 anos (mínimo) a 25 anos (máximo).

Exceções à parte, não há regimes de prisão especial para quem quer que seja nos EUA. Exemplos disso foram os casos de Paul Manafort, ex-chefe da campanha do presidente Donald Trump, e de Michael Cohen, ex-advogado de Trump. Ambos foram integrados a populações carcerárias comuns, embora tenham ido para prisões de segurança mínima.

As exceções são as de prisões em mais de uma dúzia de cidades, a maioria delas no sul da Califórnia, que oferecem “celas de aluguel”. Essas prisões têm programas chamados “pay-to-stay” (pague para se “hospedar”), que alugam celas privadas, por preços de hotel, que variam de US$ 75 a US$ 175 por dia.

Os “inquilinos”, tratados pelo sistema como “clientes”, podem ter em suas celas computador, telefone celular, iPod, etc. Muitas vezes, podem receber suas próprias refeições, levadas por familiares ou amigos. E podem ter um trabalho que ajuda a reduzir seu tempo na prisão.

Outro privilégio de ricos e famosos, que levam os críticos a dizer que o país tem dois pesos e duas medidas para prisioneiros de classes diferentes, deriva do sistema de prisão domiciliar em algumas jurisdições. Alguns ricos conseguem ficar presos em casa, desde que paguem uma empresa de segurança para vigiá-lo 24 horas por dia. O custo pode chegar a US$ 70 mil por mês.

Nas prisões comuns, os prisioneiros são classificados — e algumas vezes separados — pelo nível de periculosidade, que inclui o tipo de crime que cometeram, a participação ou não em gangues e o comportamento de uma maneira geral. Em algumas prisões, os prisioneiros com problemas mentais também são separados da população prisional.

O consultor prisional não vai ensinar apenas a Weinstein (e a outros clientes) que não deve disputar o controle remoto da televisão com o sujeito que manda e desmanda na prisão, que não é uma boa ideia participar de jogos apostados ou como enfrentar os primeiros 90 dias, entre tantas outras recomendações.

Ele é também um conhecedor do sistema prisional do estado. Nova York, por exemplo, tem 52 instituições prisionais e cada uma delas tem suas peculiaridades, sensações, chefões, tipos de diretores e carcereiros e subconjuntos de prisioneiros. Então, na há uma fórmula que se aplica a todas. O consultor prisional deve ter uma boa noção do que ocorre em cada uma delas.

Algumas celebridades não precisam de um consultor prisional, porque descobrem seus próprios caminhos para uma vida mais fácil na prisão. Esse tem sido o caso do comediante e ator Bill Cosby, segundo o site Above the Law. Ele tem usado seu tempo na prisão para exercer o papel de mentor de outros prisioneiros e fazer exercícios para manter a forma física. Além de ser popular, ele continua muito engraçado – o que não é o caso de Weinstein, diz o site.

Os advogados de Weinstein querem, agora, que o juiz o mande para uma instituição médica, em vez  da prisão.

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