Pressão pela imprensa

"Lava jato" vazava informações a jornalistas para intimidar investigados

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29 de agosto de 2019, 11h31

Os procuradores da operação "lava jato" vazaram informações para a imprensa com o objetivo de pressionar os investigados. É o que revela a publicação de uma nova leva de mensagens trocadas entre eles e divulgadas pelo The Intercept Brasil, nesta quinta-feira (29/8). 

Otavio Conci
Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que vazava informações com o objetivo de intimidar investigadosOtavio Conci

A estratégia era debatida abertamente nos grupos de Telegram dos procuradores. No dia 21 de junho de 2015, Carlos Fernando Santos Lima, afirma: “meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração".

No mesmo dia, o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, avisa os colegas de que contou para um repórter que os Estados Unidos iriam começar a investigar Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propinas da Odebrecht. 

A reportagem reproduz a mensagem que Deltan enviou ao jornalista. A notícia foi manchete de O Estado de S. Paulo no dia seguinte. 

O operador da Odebrecht era o Bernardo, que está na Suíça. Os EUA atuarão a nosso pedido, porque as transações passaram pelos EUA. Já até fizemos um pedido de cooperação pros EUA relacionado aos depósitos recebidos por PRC. Isso é novidade. Vc tem interesse de publicar isso hoje ou amanhã,SUPRIMIDO, mantendo meu nome em off? Pode falar fonte no MPF. Na coletiva, o Igor disse que há difusão vermelha para prendê-lo, e há mesmo. Pode ser preso em qualquer lugar do mundo. Agora com os EUA em ação, o que é novidade, vamos ver se conseguimos fazer como caso FIFA com o Bernardo, o que nos inspirou — disse Deltan Dallagnol ao jornalista. 

As mensagens mostram que Deltan mentiu em entrevistas. O procurador sempre disse que o MPF nunca havia vazado informações para a imprensa. 

Em uma entrevista para a BBC Brasil em abril de 2017, Dallagnol disse que "agentes públicos não vazam informações —a brecha estaria no acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”. Ao ser questionado diretamente se a força-tarefa fazia vazamentos disse: “Nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.

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