Ex-assessor diz que Palocci o forçou a "confirmar ficções" de sua delação
26 de agosto de 2019, 15h12
Branislav Kontic, ex-assessor de Antonio Palocci, disse na sexta-feira (23/8) que o ex-ministro o pressionou para confirmar "ficções de sua delação". "Lamento a mudança de postura e de caráter de Palocci para com ex-auxiliares, amigos, clientes e, sobretudo, seus aliados políticos, com quem construiu uma trajetória, hoje destroçada por ele próprio", disse, segundo informou O Estado de São Paulo.
O sociólogo foi assessor do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil e foi alvo de diligências em uma das etapas da "lava jato", que aconteceu também na última sexta.
Ambos foram presos em setembro de 2016 na operação "omertà", um dos desdobramentos da "lava jato". Palocci foi condenado por Sérgio Moro a 12 anos e 2 meses de reclusão. Kontic foi absolvido.
Na última sexta, a Justiça Federal do Paraná retirou o sigilo de parte da delação premiada de Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma.
Desde o início, causou desconfiança pela falta de comprovações sobre o que era dito — ou por delatar fatos de comprovação impossível, como reuniões em que estavam só ele e Lula e nada foi registrado. O Ministério Público Federal não quis assinar o acordo de delação com Palocci, mas a Polícia Federal se interessou e se acertou com ele em 2018.
Na delação, Palocci disse à PF que usou R$ 250 mil da “conta” Lula de R$ 15 milhões acertada com o dono do BTG Pactual, André Esteves, para pagar despesas da viagem de descanso da ex-presidente Dilma Rousseff, para a Bahia, após a vitória nas eleições de 2010. Não apresentou qualquer indício da existência da conta.
Na "pentiti", deflagrada na sexta, a juíza Gabriela Hardt também autorizou a PF a recolher documentos que citassem o senador Jaques Wagner (PT-BA), que tem prerrogativa de foro no Supremo Tribunal Federal, e buscas em endereços ligados a Maurício Ferro, ex-diretor da Braskem, subsidiária da Odebrecht, e documentos que envolvessem o ex-ministro José Eduardo Cardozo, Giles Azevedo, ex-assessor especial de Dilma, o ex-governador de Minas Fernando Pimentel, advogados, como Dora Cavalcanti, Augusto Botelho e ex-ministros Nelson Jobim e Marcio Thomaz Bastos, morto em 2014, além de diligência ao escritório de José Roberto Batochio.
Leia abaixo a nota divulgada por Branislav Kontic:
A respeito do noticiário publicado pela mídia, no dia de hoje, envolvendo minha pessoa esclareço o que segue:
1) Minha residência foi alvo, nesta data, de mandado de busca e apreensão expedido pela juíza Gabriela Hardt pela segunda vez em quase três anos. Em setembro de 2016 o mesmo endereço foi alvo de uma operação exatamente pelas mesmas razões, determinadas pelo então juiz Sérgio Moro, sendo eu naquela ocasião preso preventivamente.
2) Fui processado por supostos fatos atinentes à Petrobrás, incluída a acusação de busca de recursos ilícitos na empresa Odebrecht. Ao longo de oitivas na carceragem da Polícia Federal de Curitiba e na 13.ª Vara neguei a procedência das acusações e a participação em atividades de defesa dos interesses desta empresa e demonstrei minha inocência. Fui absolvido em junho de 2017 em primeiro grau e, em novembro de 2018, por unanimidade no Tribunal Federal da 4.ª Região, com trânsito em julgado.
3) Mais uma vez na operação de hoje, 23/08, foram levados meu lap-top, meu celular e o contrato de prestação de serviços entre minha pessoa e o escritório Batochio Advogados Associados, meus defensores na ações penais da Operação Lava Lato.
4) Como é público e notório, esta banca se posiciona frontalmente contrária ao instituto da delação premiada, assim como já foi sobejamente divulgada a falta de elementos comprobatórios da delação de Antônio Palocci. Este, ao romper com Batochio Advogados, em maio de 2017, seus defensores por mais de uma década, passou a me pressionar seguidas vezes, por meios indiretos, para que aceitasse corroborar as ficções relatadas nos anexos de sua colaboração. Por óbvio sempre recursei fazê-lo.
5) Só tenho a lamentar sua mudança de postura e de caráter para com ex-auxiliares, amigos, clientes e, sobretudo, a seus aliados políticos, com quem construiu uma trajetória, hoje destroçada por ele próprio.
6) Por fim, repudio as acusações de entrega de recursos ilícitos ao escritório de José Roberto Batochio, reafirmando que todos os pagamentos feitos a ele por Antônio Palocci e por minha pessoa estão fundados em contratos e pagamentos feitos por via bancária, com as respectivas emissões de notas fiscais.
Encontrou um erro? Avise nossa equipe!