Massacre de Kandahar

Sargento dos EUA responderá por 17 assassinatos

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23 de março de 2012, 21h10

O sargento Americano Robert Bales, de 38 anos, até agora responsável solitário por massacre em Kandahar, no Afeganistão, foi formalmente acusado nesta sexta-feira (22/3) em tribunal militar dos EUA. São 17 indiciamentos por assassinato, seis indiciamentos por tentativa de assassinato, agressões com circunstâncias agravantes, negligência de deveres militares e outras violações da lei militar. Em 11 de março, o sargento matou a tiros e a facadas 16 afegãos civis — nove crianças, três mulheres e quatro homens — e colocou fogo em seus corpos. A informação foi dada por uma autoridade do governo americano aos jornais Washinton Post, The New York Times e outras publicações. 

Os afegãos acreditam que o massacre foi obra de mais de um soldado americano, o que os militares dos EUA tentam encobrir. Todos os afegãos mortos estavam dormindo, quando suas casas foram invadidas durante a madrugada. O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, disse que "esse foi um massacre que não poderia ter sido executado por um único homem", porque todas as vítimas, depois de mortas, foram arrastadas para uma sala para serem queimadas. E protestou contra a atitude dos militares americanos no país que impediram o trabalho de investigadores afegãos encarregados de esclarecer o caso.  

As acusações foram lidas para o sargento Bales nesta sexta. Ele está em uma prisão militar no Forte Leavenworth, no estado do Kansas, e vai enfrentar um julgamento sob o "Código Uniforme da Justiça Militar". Parlamentares de autoridades do governo do Afeganistão queriam que o sargento fosse julgado — e enforcado — no Afeganistão. Mas os militares americanos o tiraram rapidamente do país, porque os afegãos já estavam suficientemente irritados com acontecimentos anteriores, como a queima de livros sagrados do Corão por soldados americanos e imagens de soldados Marines urinando sobre combatentes afegãos mortos por eles. 

O sargento Bales foi levado para os EUA. Antes mesmo de sua chegada, foi contratado para sua defesa o advogado John Henry Browne, famoso por defender criminosos famosos, como o serial killer Ted Bundy e o "Bandido Descaço". Ele terá o auxílio de mais dois advogados militares. A linha de defesa, já anunciada, vai sustentar que o sargento sofre de problemas mentais. "Ele não se recorda de nada da noite do acidente", disse Browne. A defesa vai argumentar que o sargento sofre de estresse pós-traumático (TEPT). Por essa razão, o psiquiatra forense Richard Adler, especializado em TEPT, já se integrou à equipe de defesa. E vai colocar a culpa no sistema: os militares o mandaram para o Afeganistão, depois de ele cumprir três turnos no Iraque, onde foi ferido na cabeça e na perna. 

"Eu não vou colocar a guerra em julgamento, mas a guerra está em julgamento", ele declarou em entrevistas aos jornais americanos. Os jornais noticiaram que Bales passava por graves dificuldades financeiras e estava a ponto de perder sua casa, por falta de pagamento das parcelas. Mas, diante desse episódio, os militares transferiram a família de Bales, mulher e dois filhos, para uma casa nas proximidades de uma unidade do Exército em Washington, por questões de segurança. 

Segundo o Washington Post, Bales entrou para o exército em 2001, depois que sua empresa de investimentos, na Flórida, foi à falência. Ele e sua empresa foram processados por um casal de idosos, que se queixaram que seus bens foram dizimados pelas operações da companhia. Em uma decisão por arbitragem, ele foi condenado a pagar ao casal US$ 1,5 milhão, sentença que ele nunca cumpriu. 

De acordo com o New York Times, os procedimentos jurídicos contra o sargento Bales podem durar anos. Ele vai enfrentar uma audiência, em que o Exército vai decidir se vai acusá-lo formalmente. Se isso acontecer, ele provavelmente vai enfrentar uma corte marcial. A defesa de Bales será feita por uma equipe de dois advogados civis e dois militares. O advogado John Browne declarou à imprensa, no início da semana, que "os militares não têm prova do que aconteceu no vilarejo de Kandahar, em 11 de março.

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