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Sarney quer que PF apure se senador foi grampeado

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9 de março de 2009, 18h34

O presidente do Senado, José Sarney, quer que a Polícia Federal apure a acusação de que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) é alvo de investigações ilegais. Ele enviou ofício ao ministro da Justiça, Tarso Genro, nesta segunda-feira (9/3), diante de suspeitas de que o telefone do senador estaria grampeado. No Senado, já foi instaurada sindicância para apurar as declarações de Jarbas Vasconcelos, feitas para a revista Veja

Mencionada como autora da suposta investigação clandestina ao senador Jarbas Vanconcelos (PMDB-PE), a empresa Kroll voltou a negar a arapongagem. A Kroll teve seu nome citado em uma reportagem relatando as afirmações do senador Jarbas Vasconcelos, de que teria sido procurado pelo dono de uma agência de detetives particulares em Pernambuco, que o teria avisado sobre uma investigação contratada por colegas do próprio partido de Vasconcelos. O homem teria dito que um representante da Kroll o procurara para firmar uma parceria na execução do trabalho. A tarefa era grampear os telefones celulares e fixos da casa e do escritório do senador, e instalar escutas ambientais. O detetive teria de vasculhar contas bancárias e procurar documentos sobre a vida de Vasconcelos e de seus amigos em cartórios, tribunais e órgãos públicos. O suposto detetive teria negado o serviço por ter amigos em comum com o senador, a quem relatou a consulta.

Jarbas Vasconcelos afirmou, segundo a reportagem, que levará o caso ao plenário do Senado nesta terça-feira (10/3). "Já é inadmissível que arapongas vasculhem a vida de um senador da República. Mas é um escândalo descomunal imaginar que a contratação dos espiões tenha partido daqui", disse o senador à revista, em relação ao Congresso. A motivação dos perseguidores seriam as declarações feitas por Vasconcelos à Veja semanas antes, reveladas em entrevista publicada no dia 18 de fevereiro. Nela, o senador diz que “boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção".

Segundo a Kroll, no entanto, a notícia causou surpresa. “Se houve algum contato, como o mencionado, foi feito por pessoa alheia aos quadros de nossa empresa, que utilizou indevida e ilegalmente o nome da Kroll”, afirmou o diretor de gestão Vander Giordano, por e-mail. Ele conta que outro diretor da empresa, Eduardo Gomide, avisou o gabinete do senador assim que recebeu o contato do repórter Otávio Cabral, na última sexta-feira (6/3), “para negar peremptoriamente qualquer envolvimento por parte de nossa empresa”. O contato teria sido feito com o assessor John Kennedy. A empresa garante que não tem escritório em Recife, como teria afirmado o suposto detetive ao senador, e que tentará esclarecer quem foi o responsável pelo uso indevido de seu nome.

Não é a primeira vez que a Kroll é associada a espionagens. As investigações da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, ligam a empresa ao banqueiro Daniel Dantas, que a teria contratado para seguir os passos de adversários. Entre eles, estão o ex-ministro Luiz Gushiken, os executivos da Telecom Itália — que disputava com o banco Opportunity, de Dantas, a liderança do conselho administrativo da Brasil Telecom —, e o investidor Naji Nahas, com quem o banqueiro teria se associado mais tarde. Na CPI dos Grampos, porém, Eduardo Gomide, diretor da Kroll, negou que a empresa fizesse investigações. Ele disse que as atividades desenvolvidas eram apenas de reunir informações públicas e analisá-las para clientes.

Para a Conjur, Giordano voltou a confirmar a informação, desta vez em relação ao senador Jarbas Vasconcelos. “O comentário publicado na edição de Veja neste fim de semana a nosso respeito não traduz nossa indignação e preocupação sobre esta grave denúncia. Nos últimos anos, temos auxiliado diversos investidores que buscam negócios no Brasil, o que certamente traz inúmeros benefícios ao país”, afirmou.

Leia abaixo a reportagem publicada pela Veja.

O Contra-Ataque da Corrupção

Jarbas Vasconcelos denuncia que o PMDB teria contratado agência de espionagem americana para grampear seus telefones e vasculhar sua vida como retaliação a suas acusações sobre corrupção

Otávio Cabral

Ao denunciar, em entrevista a VEJA, que a maioria dos integrantes do PMDB usa o partido e a política para fazer negócios, o senador Jarbas Vasconcelos colocou-se como alvo natural de retaliações. Na semana passada, logo depois de ir a plenário e ratificar as acusações, ele foi afastado da Comissão de Constituição e Justiça. Na Câmara, um obscuro deputado levantou suspeitas sobre a aposentadoria do senador. Mas veio das sombras o ataque mais insidioso. Nesta terça-feira, Jarbas Vasconcelos ocupará mais uma vez o plenário para fazer uma nova e explosiva revelação: integrantes de seu partido, o PMDB, teriam contratado uma famosa empresa americana de investigação privada para grampear seus telefones, vasculhar sua biografia e vigiar os passos dele e de seus familiares. O objetivo seria encontrar algo que pudesse criar constrangimento ao parlamentar e, com isso, desqualificar suas denúncias. Jarbas vai pedir à Polícia Federal que apure o caso. "Já é inadmissível que arapongas vasculhem a vida de um senador da República. Mas é um escândalo descomunal imaginar que a contratação dos espiões tenha partido daqui", diz o senador, referindo-se ao Congresso

Na semana passada, o senador foi procurado por um homem que se identificou como dono de uma agência de detetives em Pernambuco. Em uma reunião com um assessor de Jarbas, ele contou que, há quinze dias, foi procurado por alguém que se disse a serviço da notória agência Kroll com uma proposta de parceria para um trabalho delicado que envolvia um político da região. O detetive respondeu que tinha interesse e os dois marcaram um encontro. A proposta foi feita e revelaram-se os detalhes do serviço. A tarefa era grampear os telefones celulares e fixos da casa e do escritório e instalar escutas ambientais. Ao detetive caberia vasculhar as contas bancárias e procurar em cartórios, tribunais e órgãos públicos documentos relativos à vida pessoal do espionado e seus amigos. A parceria só não foi fechada, segundo relatou o detetive do Recife, porque ele se recusou a espionar Jarbas Vasconcelos. "Ele disse que não fez o serviço porque tinha admiração por minha atua-ção política e porque temos amigos em comum", relata o senador. Jarbas vai dizer ao plenário que o detetive exibiu sua identidade funcional e as anotações que recebeu do homem que seria da Kroll, com os objetivos e alvos da investigação. Por razões óbvias, Jarbas não revelará o nome do detetive que se recusou a espioná-lo. A Kroll disse que não espiona políticos.

A tentativa de espionar o senador foi o mais ousado contra-ataque que a corrupção promoveu contra a defesa da ética. Desde a entrevista de Jarbas, o PMDB já sofreu duas derrotas. A primeira foi o fracasso na tentativa de trocar o comando do fundo de pensão Real Grandeza. Quando a intenção do PMDB de ocupar o fundo se tornou pública, funcionários e políticos reagiram e Lula brecou a manobra. A outra derrota foi a demissão do diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, homem de confiança de Sarney e do senador Renan Calheiros. Acusado de irregularidades em licitações e contratações, Agaciel foi convencido a deixar o cargo após a revelação de que ele possui uma mansão, avaliada em 5 milhões de reais, nunca declarada à Receita. Ao retornar nesta semana ao plenário com outra denúncia grave, Jarbas Vasconcelos joga um pouco mais de luz dentro da caverna.

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