Com a oitiva do réu pelo juiz Fausto Martin de Sanctis, começa nesta quarta-feira (3/10), na 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, o processo contra o colombiano Juan Carlos Ramires Abadia, considerado um dos mais poderosos traficantes de drogas da atualidade.
Preso em 7 de agosto e levado para o presídio federal de segurança máxima de Campo Grande (MS), Abadia responde no Brasil pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, uso de documento falso e corrupção ativa. Um reforçado esquema de segurança foi montado para trazer o traficante a São Paulo nesta quarta.
Os Estados Unidos já pediram a extradição do colombiano ao Brasil. Lá, Abadia é acusado de crimes bem mais pesados: tráfico internacional de droga e, pelo menos, 13 assassinatos. Mesmo assim, a estratégia da defesa do colombiano, a cargo do advogado Sergio Alambert, consiste em obter a extradição para os Estados Unidos o mais rápido possível. Com a extradição ele terá dois benefícios: um da lei brasileira, que limita em 30 anos a pena a que poderá ser condenado nos Estados Unidos. E outra, da legislação americana, que permite uma ampla negociação entre o réu e a Justiça, antes do início do processo.
Sergio Alambert explica que este sistema, que tem certa semelhança com a delação premiada que tenta se instalar no Brasil, faz parte das práticas da Justiça americana e tem o poder de definir o destino do processo criminal. Nas negociações, o réu faz acordo para, entre outras coisas, fornecer informações e localizar e entregar bens para confisco. Em troca, recebe benefícios e redução de pena. Graduado em Direito Penal Internacional, Alambert tornou-se um especialista em extradição, com foco neste tipo de negociação com a Justiça dos Estados Unidos.
A documentação do pedido de extradição do governo dos Estados Unidos já está no Supremo Tribunal Federal. O ministro Eros Grau é o relator do processo. Normalmente, uma ação desta leva até dois anos para ser julgada. A defesa de Abadia, no entanto, espera e torce para que o pedido seja julgado até o fim do ano. A pressa se baseia em uma idéia básica: quanto mais tempo demorar, menos valor terão as informações que o preso dispõe para negociar com os promotores e juízes americanos.
O Ministério Público calcula que Abadia tenha trazido ao Brasil cerca de US$ 9 milhões, dinheiro que se presume produto do tráfico de drogas. No Brasil, o colombiano investiu principalmente em imóveis. Ele teria propriedades em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Seria dono também de uma lancha, sete carros e duas motos.
Sua fortuna no exterior, entretanto, é incalculável. Ele seria o titular de cerca de 20 empresas e teria mais de 300 imóveis na Colômbia e nos Estados Unidos. Na Colômbia ele seria dono, também, de uma Universidade e de um parque.
Graduado em Miami
Juan Carlos Ramirez Abadia, 44 anos, foi preso no dia 7 de agosto, no condomínio de classe média alta de Aldeia da Serra, na Grande São Paulo. Ele é formado em engenharia e em administração de empresas por uma Universidade de Miami, nos Estados Unidos, cidade onde fez seus estudos superiores e onde iniciou suas atividades no tráfico internacional de drogas.
Junto com Abadia foram presas outras 16 pessoas, entre as quais Yéssica Paola Rojas Morales, apontada como a mulher do traficante e denunciada pelo Ministério Público como a contadora e responsável de fazer os pagamentos aos membros da quadrilha. Em depoimento à polícia, após sua prisão em São Paulo, Abadia inocentou Yessica, a “Gege”, de envolvimento com qualquer atividade criminosa. Ela nasceu em Cartagena, na Colômbia, em 13 de abril de 1981, se diz “solteira, do lar e com o segundo grau incompleto”.
Também foram presos os colombianos Henry Edval Lagos, o Pacho; Cesar Daniel Amarilla ou Frank Zambrano e Victor Manuel Moreno Ibarra, todos acusados de fazer parte da quadrilha, além do piloto de avião André Luis Telles Barcellos, que teria transportado Abadia do Ceará para Minas Gerais e posteriormente aderiu à quadrilha. Todos são acusados de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e uso de documentos falsos.
Comentários de leitores
10 comentários
hammer eduardo (Consultor)
Pulando o assunto "censura branca no CONJUR" , acredito que uma legião de "admiradore$" do meliante em questão esta literalmente doidinha para que ele seja devidamente exportado para os Estados Unidos o mais rapidamente possivel , principalmente componentes dos organismos policiais de São Paulo onde parece que o mega-traficante andou soltando pesados ARREGOS ( vide a abordagem tecnica sobre o assunto no espetacular filme TROPA DE ELITE que estreia "oficialmente" nesta sexta-feira) aos membros das entidades "teoricamente" ligadas a area de segurança. Essas denuncias de extorsão a bandidões são velhas conhecidas e via de regra não dão em coisa nenhuma pois são investigadas de maneira muito superficial de forma a que os investigados possuem amplo direito de "ameaça" a eventuais testemunhas que ousem aparecer, perguntem a um "especialista" no assunto que é o Sr.Fernandinho Beira Mar. Via de regra quando os grandes tubarões são finalmente apanhados pela nossa ciosa "PUIÇA" , é porque ja estão secos de dinheiro após um longo processo de "mineiragem" ( extorsão para os não iniciados). Vamos ver se na terra do Titio George Bush o "canario vai cantar" , de qualquer forma sempre causa alguma apreensão aos "puiça" daqui. Infantil seria esperar que os ZOMI viessem a publico admitir que "extorquiram sim" , ai ja é demais! Pobre Brasil que convive a decadas com o problema sem condições de aborda-lo com a seriedade e a transparencia que exigiria.
hammer eduardo (Consultor)
Dr.Djalma Lacerda , os seus comentarios bem como os do Rodrigo são TOTALMENTE pertinentes , em varias oportunidades anteriores ja reclamei do departamento "oficioso" que chamo jocosamente de "tesourão do armando falcão" em alusão a outrora sinistra figura do regime militar. Um outro macete que o CONJUR utiliza é o seguinte , quando o assunto é muito cabeludo e a temperatura começa a subir , eles retiram o assunto da pauta e "somem" com ele por alguns dias ate esfriar , ai recolocam mas via de regra o interesse ja se esvaiu. Infelizmente quando algum orgão se mete a fazer algum tipo de tribuna eletronica , tem que estar CIENTE que é para o que der e vier , excessão é claro ao uso de palavrões e coisas do genero. Um assunto que me chamou especial atenção a alguns meses atras foi quando a Ministra Ellen Gracie foi assaltada no Rio de Janeiro , pois bem , um assunto que daria panos para manga foi diretamente enquadrado com "não seriam permitidos comentarios nessa materia" , logo em seguida o material foi para o "limbo eletronico do CONJUR". Tambem acredito que ESTE comentario que estou digitando agora deverá "tomar doril" talvez juntamente com toda materia. É simplesmente lamentavel que uma tribuna que "pretende" ser democratica assuma atitudes desse nivel , melhor seria virar um orkut da vida e discutir como se combate espinhas em adolescentes. Com a palavra ( democraticamente) os ciosos censores "oficiosos" do CONJUR.
MMello (Promotor de Justiça de 1ª. Instância)
Caro Djalma, mas acho que ele nao distribuiu dinheiro só para a polícia nao. Se levarem ele para os USA ele conta tudo. Lembra do Fernandinho Beira-Mar, deveriam ter deixado os USA levá-lo direto da Colombia, mas e o medao dos políticos, magistrados, empresários, membros do MP, policiais etc etc..
Comentários encerrados em 10/10/2007.
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