Encomenda de morte

Procurador pede afastamento de colega que tramou sua morte

Autor

12 de janeiro de 2007, 16h18

O procurador Mauro Campbell Marques, do Ministério Público do Amazonas, entrou com representação nesta sexta-feira (12/1) no Conselho Nacional do Ministério Público, contra seu colega Vicente Cruz de Oliveira. Na representação, Campbell pede o afastamento de Cruz da função de procurador-geral de Justiça, do qual está licenciado, e do cargo de procurador.

Cruz está sendo investigado pelo MP-AM da acusação de ter contratado um pistoleiro para matar Campbell. Também nesta sexta, a Polícia Civil do Amazonas prendeu o homem suspeito de ter sido contratado para assassinar o procurador.

Conhecido como Carioca, o suposto pistoleiro tinha em seu poder um comprovante de depósito bancário no valor de R$ 22 mil. Segundo o que a Polícia já apurou do caso, Carioca foi contratado por Vicente Cruz através de um intermediário para matar Campbell. Antes de executar o serviço, pelo qual recebeu cerca de R$ 20 mil, Carioca se envolveu em um assalto em Manaus e fugiu da cidade.

Vicente Cruz chegou a ser preso na noite de terça-feira (9/1) e ficou detido em seu gabinete no prédio do MP-AM. Na quinta-feira, um Habeas Corpus, dado pelo desembargador Domingos José Chalube, devolveu-lhe a a liberdade. O desembargador acatou a alegação da defesa de que o procurador tem bons antecedentes e endereço fixo em Manaus.

Mesmo enquanto esteve preso, Vicente Cruz, que está licenciado do cargo de procurador-geral, continuou no exercício do cargo e das funções de procurador.

Enquanto Vicente Cruz recupera seu direito de ir e vir, Mauro Campbell está em uma espécie de prisão domiciliar. Por precaução ele solicitou proteção policial e praticamente não sai mais de casa. Ele não ousa comparecer em seu próprio gabinete de trabalho no MP-AM, que é contíguo ao gabinete onde Vicente Cruz era mantido sob custódia.

Corporativismo

Por se tratar de um membro do Ministério Público, as investigações enovlvendo Vicente Cruz, que estavam sendo feitas pela Polícia Civil, foram transferidas para o próprio MP. Uma comissão de sindicância foi constituída para prosseguir com o processo.

Entre suas primeiras providências está o envio de um ofício à Secretaria de Segurança Pública pedindo sindicância para apurar responsabilidades no vazamento das gravações que permitiram elucidar o caso. A gravação foi divulgada no Jornal Nacional, da Rede Globo.

Para alguns membros do MP-AM, atitudes como esta da Comissão revelam o corporativismo de seus integrantes e a pouco disposição de ir fundo nas investigações.

Segundo este grupo, além da conotação eleitoral — Campbell e Cruz são candidatos ao cargo de procurador-geral nas eleições marcadas para o próximo dia 15 de fevereiro — a tentativa de assassinato pode estar ligadas a fatos de corrupção que envolvem o procurador Vicente Cruz.

Tramita no Conselho Nacional do Ministério Público um Processo de Controle Administrativo originado em representação dirigida ao Colégio de Procuradores do Amazonas e feita pela promotora de Justiça Silvana de Lima Cabral, Cruz é acusado de pagamento irregular de gratificação e de diárias a servidores, irregularidades em licitação e superfaturamento.

Morte encomendada

Na sexta-feira (5/1), um advogado de Manaus, a pedido de um tal Frank, estelionatário chegado a pequenos golpes, denunciou ao secretário-geral do Ministério Público do Amazonas que estava em andamento uma trama para assassinar o procurador Mauro Campbell Marques.

O próprio Frank contou ao advogado que tinha sido contratado por R$ 20 mil, por um agenciador conhecido como Élson, para matar o procurador. Até então não se sabia quem era o contratante. Só na manhã de segunda-feira (8/1), o secretário-geral informou Vicente Cruz da denúncia. Cruz ligou imediatamente para Campbell para lhe prestar solidariedade. Em seguida, ligou para o agenciador mandando abortar a trama. Como o telefone do agenciador já estava grampeado com autorização judicial, a polícia chegou ao contratante.

Vicente Cruz negou a acusação. Sobre as negociações com o agenciador, monitoradas pela polícia, ele explicou que na verdade se tratava da contratação de um laje que ele tinha doado a uma igreja de Manaus. O padre da igreja, segundo reportagem no jornal A Crítica, não sabia da laje, nem da doação. Segundo o pároco, Vicente Cruz havia feito uma doação em dinheiro para a igreja e nada mais.

Segundo apurou a polícia, Frank foi a segunda opção de Vicente Cruz e do agenciador Elson para executar o crime. Antes, Élson havia contratado e pagado um ex-presidiário conhecido como Carioca, este um pistoleiro legítimo, para fazer o serviço. Carioca recebeu os R$ 20 mil da encomenda, mas envolveu-se em um assalto e teve de fugir de Manaus.

Pessoas chegadas ao procurador Mauro Campbell temem que o pistoleiro, que já recebeu o pagamento por seus préstimos, insista com o propósito de fazer o serviço. Por isso, Campbell está com proteção policial. Da mesma forma, Frank, o falso pistoleiro que deu com a língua nos dentes, está no programa de proteção de testemunhas.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!