Teia de aranha

Prisão de Mellão levanta suspeitas sobre CPI do Banestado

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19 de março de 2004, 19h46

O vereador Armando Mellão, ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo foi preso, na manhã desta sexta-feira (19/3), acusado de extorsão. Com o político, que estava em um flat de São Paulo, a Polícia Federal apreendeu R$ 50 mil em dinheiro e R$ 550 mil em cheques.

O flagrante foi feito quando Mellão tentava extorquir o empresário Reinaldo de Barros, filho do ex-prefeito de São Paulo que tem o mesmo nome.

Mellão procurava suas vítimas (empresários e doleiros) oferecendo proteção na Comissão Parlamentar de Inquérito e usava os nomes do relator da CPI do Banestado, José Mentor, do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) e do deputado federal, Rodrigo Maia (PFL-RJ).

Um empresário relacionado a Mellão, ouvia dele com frequência que José Mentor e ele mantinham relacionamento regular. As listagens da CPI, bem como extratos e outros documentos teriam sido fornecidos a Mellão pelo deputado petista que indicaria, inclusive, os nomes dos envolvidos em situação mais complicada. Mentor e Mellão teriam um encontro marcado nesta sexta-feira.

À Polícia Federal, Mellão teria negado que agia em consórcio com os deputados federais ou com o senador Antero Paes de Barros.

Em entrevista a este site, o relator da CPI repeliu vigorosamente a hipótese e garantiu que foi ele quem alertou a PF. Veja o depoimento de Mentor:

“Soube do fato (das incursões de Mellão) em janeiro. Mandei dois ofícios ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, nos dia 12 e 14 de janeiro. Ele os recebeu no dia 16. Eu havia sido avisado por um colega de turma da escola de Direito, um advogado que teve o cliente abordado. Dias depois, esse mesmo amigo me trouxe um segundo caso. Esse, ligado ao Reinaldo de Barros. Eu fui à PF prestar depoimento, foi aberto inquérito que corre em segredo de justiça. Servi de intermediário para que os dois advogados colaborassem com a PF.”

Mentor disse ter avisado também o senador Antero Paes de Barros no momento que o nome dele apareceu “em fevereiro”. Em duas ou três ocasiões, segundo ele, o assunto foi tratado na CPI.

Indagado sobre a origem da listagem que Mellão exibia, o deputado petista disse não ter a informação de que o ex-vereador tivesse algum material. “Até onde sei ele andava visitando pessoas do rol de conhecimento dele”, afirmou.

Mellão e Mentor foram vereadores na mesma legislatura quando, por uma manobra do PT com outros partidos, para impedir a eleição do candidato de Celso Pitta (então prefeito), elegeu-se Armando Mellão (PMDB), presidente da casa. “A última vez que o vi foi quando ele era vereador”, relembra Mentor que, naquela gestão, foi presidente da Comissão de Finanças da Câmara.

O deputado federal negou taxativamente que tivesse encontro marcado com Mellão. “Ele chegou a afirmar que estive na fazenda dele. Isso nunca aconteceu”.

Ele disse que se reuniu com Reinaldo de Barros Filho e que o empresário autorizou seu advogado a participar da operação com a Polícia Federal. O deputado não sabe dizer se o flagrante desta sexta-feira foi proposto por Reinaldo ou pela PF.

A assessoria da CPI do Banestado também repeliu a hipótese de integrantes da CPI terem-se associado a Mellão nessa empreitada. Pelo relato, Mentor teria procurado o senador Antero Paes de Barros há cerca de quinze dias para relatar o que vinha acontecendo. Reunidos com os representantes da Polícia Federal na CPI, Antero e Mentor decidiram pedir à PF para investigar o caso.

Segundo publicou o site Terra a operação da Polícia Federal foi batizada como Pandora. Mellão pretenderia arrecadar com o golpe US$ 2,4 milhões. As investigações teriam durado 40 dias.

O amigo de Armando Mellão a que este site teve acesso chegou a envolver também o irmão de José Mentor, o deputado estadual Antonio Mentor Mello Sobrinho. Este contudo, afirma que jamais viu ou falou com Mellão. “Se eu encontrar com ele não sou capaz de reconhecer”, rebateu.

Essa não é a primeira acusação que se faz à CPI do Banestado. Há algum tempo, o procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza afirmou que não havia esperança de resultados na investigação do Congresso, uma vez que seus integrantes não estavam dispostos a punir ninguém.

Leia um trecho da entrevista

O senhor teme que essa CPI acaba sem ouvir os principais políticos entre esses 400, cujos nomes o sr. entregou a ela?

Temo sim, temo sim principalmente por causa do senhor José Mentor. Temo porque que ainda não aprovaram nada para intimar Paulo Maluf, Luiz Antônio Fleury Filho, Jorge Bornhausen, e vários outros. Por que essas pessoas todas, se são inocentes, não têm interesse de ir esclarecer. Por que nunca são chamadas?

Vou ser franco: não chamaram nenhum político, não levaram em conta a proposta da CNBB de acabar com a CC5 barriga de aluguel, não mandaram os relatórios periódicos ao secretário da Receita. Cadê os Silveirinhas? A Controladoria já tem os dados e não abriu nenhum processo disciplinar contra os servidores. Isto poderia estar sendo feito há dois meses e não foi feito. Então, tudo vai muito mal.

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