Violência em São Paulo

Bandidos agem com ideologia, diz especialista

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16 de maio de 2006, 12h40

Juiz de Direito por 14 anos e secretário Nacional Antidrogas entre 1994 e 1998, além de professor de Direito Constitucional, o advogado gaúcho Mathias Flach afirmou nesta segunda-feira (15/5) que o terror imposto a São Paulo pela organização criminosa PCC — Primeiro Comando da Capital evidencia uma mudança no comportamento ideológico do crime organizado. “Os bandidos antes aceitavam a condenação admitindo que cometeram delitos contra o sistema. Mas a intensidade dos ataques e rebeliões de agora evidenciam que eles se sentem bodes expiatórios, no meio de uma sociedade corrupta”.

Para Flach, ideologicamente, os autores do ataque sinalizam que não querem mais aceitar o papel de bandidos. “Somos pessoas que sofrem os efeitos de um meio cada vez mais pontuado por escândalos, roubos e corrupção é a mensagem que nos passam, traduzidas nesses mais de 120 atentados já realizados, desde sexta-feira”.

“No fundo, eles perderam a ilusão de serem sozinhos os criminosos. Reagem diante da realidade de absolvição dos muitos envolvidos em falcatruas. Negam a legalidade da pena que lhes foi aplicada pelo Judiciário, reagindo e desafiando com violência. Não se consideram mais os piores elementos da sociedade. A consciência ideológica nos presídios é uma realidade que salta aos olhos nessa crise”, acentuou o ex-juiz.

Apesar de considerar que a população também está muito desconfiada dos Poderes constituídos, Flach entende que é preciso ter convicção nas instituições e acreditar que a crise será superada. “Temos uma jovem democracia, mas ela parece razoável e suficiente.”

Em que pese esse atestado de fé, o ex-secretário Nacional Antidrogas é de opinião que estados e governo federal precisam dar as mãos para superar o impasse em São Paulo, principalmente compreendo melhor e juntos o que está ocorrendo nos presídios. “Os fatos precisam ser lidos de forma efetiva. As Forças Armadas estiveram há pouco no Rio. Quem mandou entrar na cidade? Por que saíram? Quais os resultados práticos dessa ação? Que fim levaram os processos instaurados? “

Para ele, a reflexão é fundamental para assegurar um amanhã mais sólido. “O que vemos hoje é que o país tem dificuldades para lidar com ameaças externas, como o caso da Bolívia, e a interna, traduzida nos ataques desferidos em São Paulo”. E emendou: “A população desconhece o resultado prático da ida das Forças Armadas ao Rio. Há um poder paralelo nos morros, que agia àquela época e ainda se faz presente nas favelas”.

Em relação a São Paulo, no entender de Flach, houve lentidão na hora de agir. “Não posso imaginar que as autoridades de um estado desse porte, com a estrutura financeira e administrativa que tem, desconhecesse uma ação tão ousada do crime organizado. O governo de São Paulo tem que ser sincero em admitir seu fracasso e saber pedir ajuda. A soberania do estado foi atingida de forma violenta e cruel”.

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