Terça-feira, 23 de abril.

Primeira Leitura: boatos eleitorais deixam mercado turbulento

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23 de abril de 2002, 10h04

Agitação

O mercado financeiro teve uma segunda-feira turbulenta no Brasil. A cotação do dólar fechou em alta de 0,42%, a R$ 2,34. A taxa de risco do país, apurada pelo JP Morgan, subiu 1,21%, encerrando a 7,5 pontos percentuais. Parte da agitação foi provocada por boatos de que Lula teria subido em pesquisas eleitorais – e de que Serra teria sido ultrapassado por Garotinho.

Boataria

A rigor, havia ontem dois boatos no mercado financeiro: o primeiro, com resultados antecipados de supostas pesquisas eleitorais; o segundo, de que muita gente estava ganhando dinheiro com isso. E ganhando tanto no boato como no fato.

Semelhança

Ocorre que, nas últimas semanas, nunca foi tão difícil separar o boato do fato: de modo geral, os números que andam circulando em algumas mesas de operação do mercado financeiro têm sido iguais ou muito semelhantes aos que mais tarde, depois do fechamento dos negócios, são oficialmente divulgados.

Paradoxo eleitoral

Uma análise mais detida dos números da eleição francesa, com a passagem de Jean-Marie Le Pen, líder da extrema direita, para o segundo turno, mostra que os votos da esquerda, no conjunto, cresceram em relação ao pleito de 1995. Os da direita, por sua vez, ficaram do mesmo tamanho.

Desalento

Além da alta abstenção, o que tirou da disputa o primeiro-ministro, Lionel Jospin, foi a surpreendente votação obtida pela extrema esquerda (11,3% dos votos). Os dois fenômenos mostram o desalento do eleitorado diante do “socialismo rosa” francês.

Asterix contra César

Mesmo quando a questão é contrabalançar o conservadorismo dos EUA na era Bush, não custa lembrar que a direita gaullista, do candidato Jacques Chirac, é essencialmente antiamericana. Chirac sempre bateu mais duro em Bush do que o socialista Jospin.

Silêncio ensurdecedor

A debilidade dos socialistas como voz política ficou evidente nas últimas semanas. Nada de significativo foi feito pelo governo Jospin diante do massacre da população palestina nos territórios ocupados por Israel.

O dia seguinte

A reação imediata da militância progressista na França ao terremoto que foi a superação de Jospin por Le Pen permite antever uma votação maciça em Jacques Chirac no segundo turno e um bom desempenho da esquerda nas eleições legislativas de junho.

Medida necessária

Primeira Leitura acredita que entidades, partidos políticos, empresas e bancos têm todo o direito de encomendar simulações sobre o momento eleitoral. Mas há que se criar alguma regulação específica para impedir que pesquisa se confunda com instrumento de especulação.

Assim falou…Eduardo Duhalde

“Se não estão contentes, designem outro.”

Do presidente argentino, reagindo a sinais de insatisfação de setores do Congresso com sua gestão.

Tudo é história

A vitória de Le Pen sobre Lionel Jospin na disputa por uma vaga no segundo turno da eleição francesa acontece no momento em que uma “nova” direita, que alia populismo e ultraliberalismo, coloca em xeque o Estado social europeu.

Na Itália, isso se deu com a volta ao poder, em maio de 2001, do magnata Silvio Berlusconi, que poderia ser definido como um Le Pen mitigado. No caso italiano, a ascensão dessa direita também é uma seqüela da operação Mãos Limpas – a cruzada anticorrupção atingiu quadros importantes da centro-esquerda do país.

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