Opinião

Mídia lavajatista:
tua culpa, tua máxima culpa

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19 de outubro de 2023, 15h24

Li nesta Conjur diálogos promíscuos obtidos pela operação "spoofing", travados entre integrantes da "lava jato" e certos jornalistas, alguns de grandes veículos de comunicação.

Hoje se sabe bem, havia duas frentes lavajatistas — persecutória estatal e midiática — que se mantiveram como unha e carne, em retroalimentação perniciosa, sob convergentes objetivos inconfessos.

Spacca
Spacca

Aliás, reproduzia-se o script enaltecido anos antes em texto escrito pelo ex-juiz federal, ícone do lavajatismo: as operações policiais-judiciais deveriam ter o respaldo e o concurso da grande mídia, de modo a atrair a simpatia da opinião pública e, de quebra, inibir as instâncias de controle .

Ao que parece, parte de membros da operação "lava jato" jamais se preocupou de fato em combate a corrupção. Tampouco alguns dos jornalistas a ela agregados procuravam a informação fidedigna e de qualidade. Para todos esses, sempre se tratou de mera busca pelo poder, pelo sucesso, por dinheiro, conforme externou mais de uma vez o ministro Gilmar Mendes. A bandeira do combate à corrupção servia de mera "escada", argumento populista para justificar seus verdadeiros propósitos mundanos.

Os arrivistas do setor público da "lava jato" nunca se saciaram com os cobres extras obtidos com diárias e palestras. Sob o argumento de que partidos políticos sangravam o país para financiar seus projetos de poder, ansiavam a mesma sangria para… financiar seus projetos de poder! Disso advieram ideias de fundos milionários. E urdiduras para candidaturas, entre outras diabruras, presentes ou futuras. Sim, segundo a "vaza jato", uma tal prole de Januário esquadrinhava mandatos políticos e institucionais com desabrida sem-cerimônia, distribuíam-se pré-postulações ao parlamento, ao executivo, às chefias dos órgãos, como quem distribui clipes e bloquinhos reciclados do almoxarifado da repartição pública…

A seu turno, havia certos "caciques" midiáticos privados que, como carrapatos, logo se grudaram ao lavajatismo, certos de que poderiam emprestar sua voz àquele monstrengo musculoso que emergia no setor público (membros do MP, tronco da polícia, cabeça do Judiciário) e que haveria de saciar sua fome por sucesso e ganhos pessoais. De lambuja, atenderiam aos negócios de seus poderosos patrões.

Essa retroalimentação — por exemplo, vazamentos seletivos de investigações sigilosas — em si já seria a definição pronta e acabada de ato de improbidade administrativa, envolvendo servidores públicos e beneficiários particulares (que atuam num ambiente concorrencial privado, na busca por audiência, por anunciantes, etc.).

Spacca
Spacca

Mas se aqueles agentes públicos, antes embevecidos pelo poder — e pela perspectiva de mais poder —, agora em franca rebordosa, já sentem o retorno do cipó de aroeira, o mesmo não se pode dizer dos profissionais de imprensa e respectivos veículos que se lambuzaram na orgia lavajatista.

Esses mesmos que, em geral, são incisivos ao cobrar "mea culpa" dos outros, quando é com eles, optam pelo negacionismo ou por "se fazer de égua", como diria o matuto.  Basta ver que parte da equipe do "site" O Antagonista, havido como espécie de porta-voz oficioso do lavajatismo, preferiu o autoexílio ao "mea culpa".  Houve até quem, flagrado assentado sobre o coringa, disse "não brinco mais!"; renegou sua cria, o neo-fascismo, e atravessou a Atlântico para não mais voltar.  Se vai o joio, que fique o trigo.

Mas houve quem foi além: ao ver seu nome envolvido em notícia ruim, preferiu colocar a culpa no carteiro. Basta ver que reportagens — baseadas em fatos — publicadas nesta ConJur, como a acima mencionada, foram suficientes para fazer jornalista experiente entrar em estado de chilique.  Sempre haverá quem, entre o joio e o trigo, escolha o caruncho.

O lavajatismo midiático deve servir de aprendizado ao setor. É muito importante ler e aplicar o manual, não basta invocá-lo. Enquanto essa parcela da mídia corporativa não fizer a necessária depuração, sair do parasitismo confortável e passar a seguir as regras básicas do jornalismo (em especial, o investigativo), a população estará sujeita a ver grandes veículos da imprensa nacional na coadjuvação de golpes antidemocráticos. De modo deliberado ou apenas leviano, pouco importa.

Tua culpa, tua maxima culpa.

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