Autor de massacre nos EUA é sentenciado a 90 prisões perpétuas consecutivas

O juiz federal David Guaderrama, de um tribunal federal no Texas, EUA, sentenciou Patrick Crusius, autor do massacre de agosto de 2019 em uma loja do Walmart na cidade de El Paso, em que 23 pessoas foram mortas e outras 22 feridas, a 90 prisões perpétuas consecutivas — apenas pelas acusações de crimes de ódio na justiça federal. Ele ainda será julgado pelos homicídios na justiça estadual do Texas.

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Por quê juízes sentenciam réus, nos EUA, a múltiplas penas de prisões perpétuas (life sentences)? A razão, segundo o site jurídico Nolo, é a de que "prisão perpétua é uma designação incorreta", porque o condenado pode ter direito à liberdade condicional após um certo número de anos (20, 25 ou 40). Assim, sentenças de múltiplas prisões perpétuas garantem que condenados morrerão na prisão.

Na justiça federal, Crusius não foi condenado à pena de morte porque fez acordo de admissão de culpa com os procuradores federais, em fevereiro, para evitar o julgamento. Porém, isso pode mudar na justiça estadual. Os promotores do Texas anunciaram que irão pedir a pena de morte pelas acusações de homicídio e tentativa de homicídio, que ainda serão julgadas. Se a pena for aplicada, Crusius passará muitos anos no corredor da morte.

Em seu acordo com os procuradores federais para evitar a pena de morte, Crusius admitiu a culpa por 90 acusações: 23 por crimes de ódio que resultaram em morte, 23 pelo uso de arma de fogo (um rifle de assalto no estilo AK-47) para cometer tais crimes, 22 por tentativas de homicídio no cometimento de crimes de ódio e 22 pelo uso de arma de fogo nessas tentativas. Assim, foi sentenciado à prisão perpétua por cada acusação.

O próprio réu explicou aos procuradores seus motivos, segundo o Departamento de Justiça dos EUA. Ele contou que viajou quase 700 milhas (1.126 Km) de Allen (ao norte de Dallas) a El Paso (na fronteira com o México), para uma ação que pretendia "desestimular a invasão hispânica dos Estados Unidos".

A terminologia "invasão hispânica" foi cunhada por alguns políticos republicanos, que combatem a política de imigração do governo Biden —uma retórica que também expressa as crenças da supremacia branca dos EUA, da qual Crusius se declarou adepto e que justificaria sua "ação em defesa do país", segundo os procuradores.

O advogado de Crusius, Joe Spencer, usou, sem sucesso, o argumento de que seu cliente teria, supostamente, alguma deficiência mental para pedir penas mais brandas. Spencer alegou que o cérebro de Crusius estava "quebrado" e que ele perdeu contato com a realidade.

O juiz não minimizou a pena por isso, mas ordenou que Crusius tenha tratamento mental na prisão federal de segurança máxima, no Colorado, onde cumprirá as penas.

Quantidade recorde de massacres
O número de massacres e o de mortes causadas por arma de fogo vêm crescendo ano após ano nos EUA. O ano de 2023 tende a bater o recorde: até 6 de julho de 2023, ocorreram 390 massacres no país. No ano, até agora, foram 22.306 mortes causadas por armas de fogo — incluindo homicídios, legítima defesa, etc. (9.832) e suicídios (12.474), de acordo com levantamento da organização Gun Violence Archive (GVA).

Só no feriado de 4 de julho – o Dia da Independência – ocorreram 22 massacres em cinco cidades do país, que resultaram em 20 mortes de 126 feridos, de acordo com o GVA. A instituição define massacre (mass shooting) como "um evento único, em que pelo menos quatro ou mais pessoas foram mortas ou feridas".

Os levantamentos da GVA mostram o crescimento de massacres e de mortes por arma de fogo no país, no período de 2016 a 2022:

Com informações adicionais do Washington Post, ABC News e Associated Press.