Opinião

E o robô passou na prova da OAB! (Ch)Oremos! Ah: E qual é o Mário?

Autor

21 de fevereiro de 2023, 14h31

Venho escrevendo sobre o ChatGPT (ler aqui e aqui). Hoje faço um acepipe da coluna que sai na quinta-feira.

É que as notícias abundam.

O portal Terra noticia que o ChatGPT, sistema de inteligência artificial (IA) da OpenAI, capaz de criar textos, já provou ser um bom aluno: a ferramenta "foi aprovada" no exame final do Master in Business Administration (MBA) da Universidade de Wharton, no Exame de Ordem (MBE) e também no Exame de Licenciamento Médico dos Estados Unidos (USMLE). O sistema já vinha preocupando professores pela sua habilidade na criação de textos, que pode ser usada para trapacear em testes.

Spacca
Sobre o robô estelionatário falarei na coluna Senso Incomum.

A aprovação no MBA foi parte do estudo realizado pelo professor Christian Terwiesch, que usou a inteligência artificial GPT-3, da OpenAI e usada no ChatGPT. Ele concluiu que a IA seria aprovada com nota B a Bno exame de MBA — nos Estados Unidos, os critérios de avaliação são por letra, sendo A equivalente a 10.

Já o Estadãoconta de que, em um experimento conduzido por Daniel Marques, filósofo, advogado e presidente da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), o sistema marcou 48 pontos dos 80 possíveis na prova de primeira fase da Ordem dos Advogados do Brasil aplicada em 2022 — para obter aprovação, são necessários 40 pontos.

Pronto. Eis aí a prova do paradoxal sucesso que, por ser paradoxal, é, ao mesmo tempo, a prova do fracasso. Porque o robô mostra o fracasso da humanidade.

Para ficar no nosso ramo, se o robô consegue passar no exame da OAB, não é talvez porque o robô seja bom; é porque o modelo de prova é um fracasso. Quiz show que denuncio há tantos anos.

É até inacreditável que isso precise ser dito. Alguém tem mesmo fé num modelo em que um robô é aprovado? Aguardamos o próximo passo: como se sairá o robô na prova da magistratura? Ou do MP? Ou da AGU?

O ponto: estamos formando profissionais de direito sem que se exija qualquer raciocínio prático — atenção: no sentido próprio do termo — desses profissionais? O processo cognitivo — não vou nem falar de outras dimensões, sobre as quais falarei na quinta-feira — que marca o direito está para além do que as máquinas têm a pretensão de responder em primeiro lugar. Se o robô tem êxito no teste, o fracasso é do teste.

O fracasso é nosso, pois.

Continuemos com isso. Vamos logo saber que o robô escreve melhor as notícias, faz melhores músicas e melhores pinturas. Deux ex machina mostrando o ponto do não retorno da estupidez humana.

A única coisa que o robô ainda não faz é responder a pegadinhas. Dia desses vi a prova. Perguntaram para o ChatGPT se ele conhecia o Mario. O robô perguntou "qual o Mário"? Bingo. O robô ainda precisa se aperfeiçoar. No ramo das anedotas.

No resto ele já, no seu começo, mostrou que é melhor que a maioria dos alunos que fazem a prova da OAB. Ou dos alunos dos EUA como mostra o portal Terra.

O robô está engatinhando. Logo, logo, é ele quem perguntará coisas sobre o Mário.

E todos nós atrás do armário com o ChatGPT.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!