Opinião

Se o robô é para casos simples, chamemos o porteiro! Sem ofensa!

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6 de fevereiro de 2023, 14h06

Resumo: E já descobriram que precisam de um robô inteligente para fazer perguntas para o ChatGPT; os humanos não sabem fazer perguntas! (Ch)Oremos!

Spacca
1. Diga-me o que comes…
E o tal ChatGPT é o tema da moda. Há coisas óbvias: ele responde segundo a sua alimentação. Algo como "diga-me o que comes e…", se me permitem a blague.

Há muita gente apaixonada. E, é claro, faturando. Logo, por aqui vão repetir o caso da Colômbia, em que o juiz delegou para o robô resolver um caso de consulta médica para criança autista.

Ele resolveu. Corretamente. O que não foi dito: é tão obvio que a criança tem direito (está escrito em uma regulamentação do SUS deles) que até o porteiro ou a minha tia bolsonarista resolveria.

2. O porteiro pode resolver ou "eis aí um Cavalo de Troia" — uma trampa?
Logo, qual é o busílis de colocar um robô? Se é só para essas coisas em que o porteiro (ou minha tia) resolveria, por que não dar emprego para "'resolvedores de casos óbvios"? Mais: se é tão simples, por que o juiz quer terceirizar? Para trabalhar menos?

Parece que há um Cavalo de Troia embutido nisso. Logo passarão para o robô casos complexos. Aliás, no Brasil robôs já fulminam recursos. Logo, robôs julgam o seu recurso, uma vez que fulminar de plano um recurso é o mesmo que julgar o recurso. Robô julga. E julga também casos (já mostrei aqui e aqui semana passada) de tributos e quejandices outras.

No caso da Colômbia há algo pior. Isto porque no Chile fizeram a mesma pergunta para o robô sobre criança autista e o robô disse o contrário – robô malvadão.

3. Se tudo é prego, vendamos martelos — o robô estelionatário
A humanidade ingressa em um terreno perigoso. Na ânsia de vender martelos, transforma tudo em prego.

Pedi para meus alunos verificarem com o robô sobre o que eu escrevo. O robô colocou obras minhas na conta de outros autores. Um robô estelionatário e plagiador. E isso tende a piorar. Como o robô fará a seleção do que é citação de um autor em outra obra? E as paráfrases? O robô dirá de quem é a autoria? Sinto picaretagem da grossa no ar. No campo da bioética o estimado Henderson Fürst já está denunciando o agir do robô.

O jornalista Antonio Prata, na Folha, faz um espirituoso artigo sobre o novo robô (que ele chamou de "o pai da Alexa"). Está na edição de 5.2.2023. Mostra como os alunos não mais farão trabalhos de aula. E nada lerão. Já não leem hoje.

4. Já estão vendendo robôs para fazer perguntas ao ChatGPT: os burros não sabem nem perguntar Ou "quem lê Machado"?
E o resto da malta? Hoje ninguém lê Machado. Ou Orwell. Toca-se de ouvido. Porque leem resuminhos. Agora com o robô…imaginem o tamanho da "epistemologia do estelionato intelectual". Alguém já disse que o ChatGPT é o santo Expedito dos preguiçosos.

Pode surgir um paradoxo: se o ChatGPT dá certo, mesmo, nem mesmo os seus criadores, vendedores e louvadores ficarão empregados. Serão chutados para fora pela própria criatura. Bem-feito, diria minha tia bolsonarista, sem entender bem por quê.

Se bem que já estão criando até novas plataformas para ensinar como se faz perguntas para o ChatGPT. Sim. É verdade.

Fujamos para as montanhas. A humanidade é, realmente, estúpida. Cria um respondedor e não sabe fazer perguntar. Bleargh (onomatopeia para…bleargh).

5. Tout vas très bien, Madame! Muito, muito bem! E a preguiça há de vencer!
Leio que no âmbito da publicidade robôs fazem desenhos rapidamente e até bolam anúncios e isso coloca parcela dos protagonistas em pânico. E eu digo: publicitários de todo mundo, uni-vos contra os ChatGPT. Nada tendes a perder… Ou tendes muito…

Mientras, tentem ligar para a Claro-NET. Ou para o SAC das Americanas. Ou para o seu banco. Reclame do Mercado Livre. Liga. Melhor: fale com o robô do Santander. Ah: eles não são ChatGPT. Sim, eu sei. Pior ainda. Isso quer dizer que estamos à beira do caos.

Vai ver que eu é que sou o chato. Tudo vai muito bem. Tout vas très bien, Madame La Marquise. O castelo pegou fogo, a égua morreu, o marido se suicidou, os filhos são bêbados… mas tudo vai muito bem, madame!

E vamos fabricando mais martelos. Afinal, o resto do mundo é prego!

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