Opinião

Associação dos Advogados de São Paulo: os 80 anos de uma amada senhora

Autor

  • Antônio Cláudio Mariz de Oliveira

    é ex-presidente da OAB-SP da Aasp (Associação dos Advogados de São Paulo) ex-secretário de Justiça e de Segurança do estado de São Paulo e membro do conselho deliberativo do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa).

19 de fevereiro de 2023, 13h19

Entidades representativas de categorias profissionais surgem quando alguns dos respectivos militantes sentem que a voz coletiva tem mais força e encontra mais eco do que isoladas postulações e clamores episódicos. As necessidades e interesses corporativos se tornam passíveis de acolhimentos e de satisfações com maiores possibilidades do que as reivindicações isoladas.

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Por outro lado, na medida da expansão de sua atuação e do acúmulo de problemas profissionais, cresce a sua representatividade e aumenta a repercussão de sua voz.

Ademais, as modificações impostas pelo passar dos anos nas relações sociais e de trabalho, nos avanços da tecnologia, no ordenamento jurídico, na tábua de valores morais e éticos, entre outros fatores, colocam estas mesmas entidades como caixa de ressonância das alterações ocorridas no âmbito de suas categorias.

Pois bem, na advocacia, ao lado da nossa entidade oficial, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), existem outras agremiações criadas pela iniciativa dos profissionais, que têm objetivos específicos da profissão. Assim, em São Paulo, temos, com escopo de aperfeiçoamento cultural, o Instituto dos Advogados, a mais antiga das nossas representantes; o Centro de Estudos das Sociedades de Advogados, porta-voz das sociedades; o Movimento de Defesa da Advocacia, cuja atuação faz jus ao nome; o Instituto de Defesa do Direito de Defesa; e as associações que pugnam pelos interesses específicos das várias áreas profissionais, tais como trabalhista, criminal, securitária, tributária, família e outras.

Todas essas entidades, à exceção do instituto, devem ter encontrado inspiração na Associação dos Advogados de São Paulo (Aasp), a velha e amada congregação dos advogados paulistas. Hoje não só paulistas, mas brasileiros. Ela ajuda, une, fala em nosso nome, nos acolhe, protege, reivindica e constitui, enfim, a porta-voz dos anseios e das aspirações de todo e de cada um dos militantes da advocacia.

Nasceu há 80 anos. Eu a presidi há 40 anos. Será que estarei nos seus cem anos? Eu terei, então, 97. É possível, por que não? Nasceu, tomou corpo e envergadura, tornou-se imprescindível ao exercício profissional, graças a uma plêiade de advogados, os de ontem e os de hoje. Todos — porei o verbo no presente, pois os de ontem estão presentes hoje — criam as mais variadas formas de apoio ao exercício profissional; são sensíveis às exigências transformadoras da advocacia; pugnam em prol da valorização, das prerrogativas e da ética. Protestam contra abusos individuais e os que atingem a nossa coletividade; vêm em socorro de colegas perseguidos pelo autoritarismo e pela repressão; criam serviços que amenizam em muito as agruras da profissão. Sabem o quanto a advocacia é incompreendida e indesejada por aqueles que querem exercer o poder, seja lá de que natureza for, sem os limites da lei.

A relevância da Associação dos Advogados de São Paulo transcendeu, há tempos, os limites de uma entidade criada para auxiliar o advogado no cumprimento diário de suas árduas tarefas. Desde o seu nascedouro, tornou-se uma organização pronta a assumir posição vanguardeira no encaminhamento e na solução das questões mais sensíveis da advocacia, que iam desde a violação das prerrogativas, passando pelo relacionamento com o Poder Judiciário, até o já então sensível problema da valorização profissional.

Os problemas foram se agravando com o passar dos anos. A morosidade na distribuição da Justiça; a abertura indiscriminada de faculdades de Direito e a consequente quantidade de bacharéis; as deficiências do ensino; as crescentes violações dos direitos dos profissionais; as questões relacionadas a honorária e ao mercado de trabalho, entre outras, passaram a receber um enfrentamento objetivo, sereno, com foco nos interesses superiores da advocacia e que sempre se mostrou eficaz para a adequada solução das mais variadas situações.

Nestes 80 anos, a Aasp se colocou de corpo e alma na defesa dos relevantes anseios de normalização democrática e institucional da Nação. Diretores e conselheiros das respectivas épocas participaram, pessoalmente e em nome da entidade, de todos os eventos ligados à anistia; à campanha das eleições diretas; à instalação e aos trabalhos da Assembleia Constituinte. Durante os anos de ruptura democrática, várias foram as ocasiões em que os seus conselheiros e diretores se puseram nas portas dos quartéis em busca de colegas presos ou desaparecidos.

A associação cumpriu um destino inerente à advocacia desde seus primórdios: o de ser a porta-voz dos anseios e das aspirações da sociedade brasileira e o de se opor às intenções dos inimigos de plantão da liberdade e da democracia.

Ontem, hoje e sempre, os advogados e a Velha Senhora se colocam na trincheira avançada contra o autoritarismo, em defesa dos valores civilizatórios e humanistas. Nós constituímos a antítese da barbárie, ao lado de sermos a vez e a voz de quem não as tem e de darmos guarida e mãos estendidas aos atingidos pelos sofrimentos e agruras da vida.

*artigo publicado originalmente em O Estado de S. Paulo

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