Filhos de Januário

Messer mudou depoimento para não citar procurador do consórcio de Curitiba

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24 de fevereiro de 2021, 18h11

Reprodução/Facebook
O procurador da República Januário Paludo
Divulgação

Conhecido como "doleiro dos doleiros", Dario Messer mudou a sua versão da delação no que diz respeito ao pagamento de propina ao procurador Januário Paludo, que integrava o consórcio de Curitiba.

A informação foi publicada pelo The Intercept Brasil nesta quarta-feira (24/2). Segundo a publicação, a suspeita é que o doleiro teria pago o lavajatista para se proteger a partir de 2005 no âmbito do "caso Banestado", que marcou a sua primeira proposta de delação premiada.

O acordo de delação de Messer foi fechado pelos membros do consórcio paranaense e homologado pela Justiça sem os trechos que levantam suspeitas contra os tarefeiros.

Os membros da autointitulada "lava jato" teriam arquivado o relato de Messer sobre os supostos pagamentos a Paludo sem sequer abrir investigação por considerarem as informações inconsistentes.

A versão homologada pela Justiça não cita Paludo e diz que o doleiro foi vítima de um esquema de extorsão criado por seu ex-advogado e seu ex-sócio, que vendiam ao doleiro uma "proteção" que jamais existiu.

O ex-advogado de Messer é Antonio Figueiredo Basto, que negociou uma série de acordos de delação com os membros do consórcio de Curitiba — o mais famoso também envolveu um doleiro, no caso Alberto Youssef.

Na proposta inicial de delação, Messer admite que só não foi preso em 2018 por ter sido avisado com antecedência de uma operação policial. Nesse contexto, ele sustenta que se livrou da prisão na época e das acusações no caso Banestado por ter comprado proteção junto ao MPF-PR.

Ele afirma que pagou US$ 50 mil todo mês para que fosse blindado em investigações. Entregava os pagamentos para o ex-sócio Enrico Machado e a Figueiredo Basto, na época seu advogado.

O doleiro afirmou que nunca encontrou o procurador, mas diz que acredita que contava com a ajuda dele. Como exemplo, cita ter passado incólume na prisão do também doleiro Clark Setton, em 2005. Na época ele era sócio de Messer e confessou os crimes sem, contudo, envolver o parceiro de negócios.

Outro exemplo dado por ele aconteceu em 2011. Naquele ano, Paludo testemunhou a favor de Messer em processo criminal a pedido do advogado Figueiredo Basto. Ele disse na ocasião que investigou o doleiro sem encontrar nenhuma prova de crime.

Em diálogos mantidos com colegas procuradores, contudo, Paludo se mostrou bem informado sobre as relações de Messer com o seu antigo sócio, Clark Setton. Leia:

20 de maio de 2018 – Filhos do Januario 2
Januário Paludo – 10:02:16 – Dario era o filho playboy. O velho era o Mordko. O doleiro da família (vou de piranha) era o Clarck Setton – Kiko.

O comentário foi feito logo após as primeiras notícias sobre a suposta compra de proteção de Messer com um membro do MPF. Ele também falou da relação do doleiro com o advogado Figueiredo Basto.

19 de maio de 2018 – Filhos do Januario 2
Januário Paludo – 13:35:33 – A única coisa que o Figueiredo não pode dizer é que nao advogou para o messer, tanto para o Mordko quanto para oDario.

Nas conversas fica evidente que Paludo é tido entre seus pares como alguém que conhece profundamente as suspeitas envolvendo Messer.

20 de agosto de 2017 – Filhos do Januario 2
Carlos Fernando dos Santos Lima – 12:54:14 – NOME SUPRIMIDO : Procurador, bom dia. NOME SUPRIMIDO : Estamos tocando uma investigação aqui no Poder360 e um dos nomes no nosso radar é o doleiro Dario Messer. NOME SUPRIMIDO : O senhor saberia dizer se os procuradores a que esse colunista se refere, seriam da FT do Paraná? Ou esse tema está com o pessoal do Rio? http://veja.abril.com.br/blog/radar/o-outro-doleiro/

Santos Lima – 12:54:33 – Januário. Você sabe alguma coisa sobre isso?
Januário Paludo – 15:36:21 – Sim. Mandamos a investigação para o Rio de Janeiro em 2014. Era do nardes e ele mandou para a gente.

Em conversa do dia 3 de maio de 2018, os membros da "lava jato" assumem que não concentravam esforços nas investigações sobre os doleiros envolvidos nos casos apurados pela força-tarefa.

3 de maio de 2018 – Filhos do Januario 2
Paulo Roberto Galvão – 09:46:12 – Pessoal do Rio vinha perguntando por que a gente não dava muita bola para os doleiros. Eu sempre disse que o foco era pegar corrupção e que focar em doleiros corria o risco de dispersar. Mas agora estão eles com 45 prisões envolvendo doleiros. Não sei bem os caminhos a que isso poderá levar. Ao menos um deles, o Messer, era tido como ligado ao presidente do Paraguai.

Carlos Fernando dos Santos Lima – 09:53:35 – Investigar doleiros, como qualquer operador, é atacar o elo frágil da corrente de crimes do colarinho branco. Ótima estratégia geral quando você não tem alvos específicos. No nosso caso preferimos trabalhar com corrupção, mas dentro de cada esquema sempre há operadores. Foi o que Diogo fez no caso do pedágio. Leal é um dos operadores do esquema. Só não podemos transformar a Lava Jato em um Banestado.

Orlando Martello – 10:03:12 – Além disso, dá muiiiittttooooo trabalho. Muitas operações, muitas transações, muitos clientes…. e 90% é caixa 2.

Deltan Dallagnol – 10:52:14 – Exatamente. Doleiros é second ou third best. No Banestado, atacamos mais de uma centena e só 1 ou 2 entregaram corrupção, mesmo com uns 30 colaborando. Na Curaçao, acusei mais de 50, bloqueei patrimônio, mas fatos eram antigos, não conseguimos prisão e acho que ninguém colaborou. Agora, eles estão revisitando alguns dos meus alvos da Curaçao. Pediram, aliás, pra checar como estavam os processos e adivinhem… todos caminhando pra prescrição

Dallagnol – 10:53:04 – Além de operações gerais, horizontais, fizemos Orlando e eu algumas verticais sobre doleiros de Curitiba, no rescaldo da Banestado. Muito trabalho para resultado modesto comparado com nosso trabalho hoje

Outro lado
Em manifestação enviada à ConJur, o advogado Figueiredo Basto afirma "que jamais fizemos nada do que foi escrito, desde logo entregamos nosso sigilos bancário, fiscal, telemático e telefônico ao MPF, bem como a imensa relação de trabalhos que prestamos ao Messer e toda a família dele durante mais de dez anos".

"Jamais tive qualquer relacionamento ilícito com o Januário Paludo, pessoa a quem respeito e sempre foi correto. A investigação da força-tarefa do Rio de Janeiro está repleta de abusos, desde coação de colaboração, subtração de provas da defesa, até a declaração de suspeição do procurador que encabeçou a investigação. Nada disso foi noticiado, limitando-se a imprensa a falar de uma denúncia que se baseia em depoimentos de pessoas que nunca falaram comigo ou de colaboradores que afirmam que um terceiro pedia dinheiro em meu nome, sendo que essa pessoa, sócio do Messer e colaborador do MPF, negou peremptoriamente que eu ou alguém do meu escritório tivesse pedido ou recebido dinheiro. Esses depoimentos foram ocultados da denúncia. Existem inúmeras irregularidades que irei provar. Por fim , não tenho qualquer relação com a força-tarefa do Paraná, e o Messer nunca fez acordo no Paraná."

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