Opinião

A verdadeira construção do legal operations

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21 de agosto de 2020, 19h14

Os debates e as trocas de experiências quanto à "recente" área ou função de legal operations (LOps) têm se tornado bastante comuns no meio jurídico, no Brasil e em outros países. Muito se comenta sobre as competências e as habilidades necessárias aos profissionais que pretendem desempenhar tal papel e quais ferramentas, métricas e escopos que podem/devem ser trabalhados e observados.

Todas as contribuições, nos mais variados fóruns, são realmente ricas e ajudam a dar corpo ao que se pode fazer com LOps e como se organizar para tanto, mas na prática o que está por trás dessa nova forma de operacionalizar o universo jurídico das empresas? O que está por trás e no horizonte da grande mágica que é aprender e construir essa novidade do universo jurídico?

É inevitável reforçar que, entre os grandes resultados dos esforços do agente que atua em LOps, espera-se a liberação do tempo do advogado para advogar de forma estratégica e inovadora. O caminho para a conquista do uso tempestivo do brain power dos advogados em suas rotinas jurídicas é deixar que alguém, de forma destacada, cuide das demais frentes — por eles já trabalhadas — que possibilitem a redução de burocracias, entreguem eficiências e suportem a estratégia do departamento combinada com a do negócio

Nessa esteira, não há como deixar de mencionar as 12 competências [1] desenhadas, e constantemente aprimoradas, pela Corporate Legal Operations Consortium (Cloc), associação global composta por diversos departamentos de legal operations.

Ainda que cada organização esteja em um nível de maturidade diverso, algumas competências serão sempre demandadas e esperadas, visto que estamos diante de um mercado em constante mutação, o qual, por usa vez, acompanha a dinâmica mudança das relações interpessoais e das relações entre pessoas, trabalhos, negócios, marcas e empresas.

O impacto intangível do legal operations

Impossível deixar de pontuar, oportunamente, o quanto a crise da Covid-19 escancarou e alavancou a necessidade de se estrar preparado e ser flexível para (re)agir e ressignificar valores, ações e conexões.

Dito isso, é de inquestionável valia de se ter uma pessoa, ou um time, trabalhando, de forma colaborativa, com advogados e seus principais interlocutores e destinatários de seus serviços, utilizando-se da escuta ativa, para extrair o que está por trás daquilo que é dito e feito, ou seja, aquilo que está nos pensamentos e nos sentimentos vinculados às dores e às oportunidades do dia a dia.

É de total relevância estar atento e conhecer, constantemente, as novas soluções que, exponencialmente, são apresentadas no mercado, testando-as, errando e aprendendo as mais diversas e criativas formas de se endereçar problemas, novos ou recorrentes, que surgem nas inúmeras interfaces jurídicas.

Mais do que nunca, é primordial mapear e explorar os dados existentes em cada esfera, não só para ganhar casos e acertar nas consultas, mas também para cada vez mais saber navegar em nosso meio, aprimorar as nossas discussões e entender quais delas devem ser mantidas, quais podem ser revistas e quais criarão valor nas relações cliente e advogado, advogado e parceiros, advogado e ordenamento jurídico.

Ainda, fazer com que o fluxo de informações seja fluido e claro, para garantir assertividade e reduzir o desperdício de tempo e talento, é também uma forma de conquistar eficiência e de abrir espaço para inovar, sem que se deixe de cuidar da segurança do negócio e de se fazer o que é certo.

A otimização de recursos, adicionalmente, facilitará a melhor análise dos custos envolvidos e das novas maneiras de investir em tecnologia e serviços. E, falando em tecnologia, devemos, sim, usá-la em nosso favor, deixando que ela cuide daquilo com o que os nossos profissionais não precisam mais se (pre)ocupar.

As competências de LOps, então, nunca serão para construir um fim, mas para fortalecer o meio necessário para acompanharmos as frequentes transformações nos mais diversos setores da sociedade, influenciadores do sistema jurídico.

Fala-se muito em eficiência, estratégia, transformação digital ou de mindset e resultado. São importantes e necessários? Sem dúvida alguma. Não tenho intenção alguma de dizer o contrário. Aliás, esses são tópicos realmente apaixonantes. Mas a mágica, não está apenas no resultado incrível que tudo isso pode trazer ao âmbito jurídico e dos negócios, ela está no efeito que isso pode trazer nos demais bens (in)tangíveis que os circundam: as pessoas, o ecossistema, a diversidade e um mundo melhor.

Devemos nos utilizar de todas as ferramentas e as técnicas disponíveis, não só para impactar o negócio, mas para impactar, positivamente, claro, a vida das pessoas que constroem, operam e vivem nos bastidores da advocacia como atividade essencial da justiça.

Temos de aproveitar a tecnologia, as variadas formas de trabalhar, os dados e os resultados para, além dos negócios, proporcionar um ambiente de fato justo, igualitário e diverso.

Nossos operadores devem ser realizados, satisfeitos e orgulhosos do produto de seus trabalhos, e isso deve repercutir, inspirar e criar valor para o universo jurídico como um todo. As ferramentas e os caminhos estão aí, desenhados e discutidos por muitos; basta fazermos com que estejam disponíveis e a serviço de todos, juntos, por um mundo melhor.

 


[1] https://cloc.org/what-is-legal-operations/, acessado em 30 de junho de 2020.

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