Atentado na ditadura

Comissão da verdade culpa Exército por morte de secretária da OAB em 1980

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11 de setembro de 2015, 17h26

A secretária da Ordem dos Advogados do Brasil Lyda Monteiro foi assassinada, em 27 de agosto de 1980, por agentes do Centro de Informação do Exército ao abrir uma carta-bomba, afirmou, nesta sexta-feira (11/9), a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, vinculada ao governo do estado. A correspondência era endereçada ao então presidente da entidade, Eduardo Seabra Fagundes, mas foi aberta por Lyda, secretária dele. Na época, a Ordem denunciava desaparecimentos e torturas de perseguidos e presos políticos.

Com base em depoimentos de testemunhas, fotos e retratos-falados, a comissão identificou a participação do sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany, que entregou a bomba pessoalmente na sede da OAB, o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que confeccionou o artefato, e o coronel Freddie Perdigão Pereira, que coordenou a ação. Guarany é o único aidna vivo.

A elucidação do caso foi possível após a identificação de uma testemunha ocular que trabalhava na OAB quando ocorreu o atentado. No entanto, para preservar a fonte, a comissão não vai divulgar nomes. "Pelo nosso compromisso com a testemunha e com a família, a única coisa que podemos dizer é que ela é testemunha ocular. Ela estava presente no quarto andar quando o Magno Cantarino, o Guarany, foi lá levar a carta-bomba", disse Wadih Damous, deputado federal que presidia a Comissão Estadual da Verdade, durante as investigações.

Ao longo de 2014 e 2015, a comissão procurou o sargento Guarany, que ainda mora no Rio, mas ele se recusa a dar depoimentos sobre o período.

Peso aliviado
O filho da secretária Lyda, Luiz Felipe Monteiro, disse que o desfecho do caso é um alento, 35 anos depois de ações do Estado terem impedido uma investigação justa sobre a morte da mãe dele.

"A verdade está devidamente contada, e a história, restabelecida. Tirei o maior peso que jamais imaginei que conseguiria carregar", desabafou. "Vi meus filhos mais velhos estudarem o atentado da OAB no ensino médio, porém, não havia desfecho nos livros escolares. Agora, os pequenos terão a história completa, com todos os elementos devidamente registrados", completou ele, que tem filhos de cinco e oito anos.

Apesar do reconhecimento pelo Estado brasileiro de que a morte de Lyda ocorreu em função da perseguição do regime militar a ativistas políticos, Luiz Felipe Monteiro não abre mão de um pedido de desculpas do ministro da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas. "Esse pedido não é só para mim, mas para toda a nação por esse odioso atentado."

Relação com o Riocentro
Os agentes militares que participaram da ação contra a OAB são os mesmos envolvidos no fracassado atentado à bomba ocorrido em 1° de maio do ano seguinte, no estacionamento do Riocentro, durante um show com cerca de 10 mil pessoas, em comemoração ao Dia do Trabalho. No episódio, o sargento Rosário morreu quando a bomba que seria lançada sobre a multidão explodiu em seu colo, no carro onde estava. À época, o governo atribuiu a explosão a militantes de esquerda, versão esclarecida anos mais tarde.

"A OAB tinha um papel importante na defesa dos direitos humanos e restauração das liberdades democráticas", disse Rosa Cardoso, presidente da CEV-Rio, ao ler o relatório com revelações sobre o caso. "Para intimidar a entidade, o grupo que agia sob o comando do CIE iniciou uma série de atentados que tiveram como alvo parlamentares de oposição, bancas de jornais, jornais e entidades." Com informações da Agência Brasil.

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