Troca de lados

Mudar do MP para a advocacia traz vantagens, dizem profissionais

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4 de abril de 2015, 9h30

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Streck e Medina Osório afirmam que conhecimento do MP ajuda na advocacia.

O promotor acusa e o advogado defende, ensinam as lições primárias de Direito. No entanto, quem acusa num dia, pode defender no outro. É o caso dos advogados Lenio Streck e Fábio Medina Osório — ambos gaúchos — que já foram membros do Ministério Público. Streck passou 25 anos na carreira, Medina Osório ficou 15. Os dois acham que isso traz vantagens para os escritórios de advocacia que montaram posteriormente.

“O conhecimento sobre boas técnicas acusatórias ou investigativas me ajuda tanto na defesa de clientes como no ataque”, diz Medina Osório, que acredita haver um espaço cada vez maior para a advocacia acusatória e investigativa. Ele aponta também uma melhoria no estilo de vida, “pois o advogado possui uma liberdade maior, que permite trabalhar em casos de todo o país, na Justiça Estadual e na Justiça Federal — algo impossível para membros do MP”.

Lenio Streck diz que, mais do que 25 anos de Ministério Público, ganhou credenciais por ter passado duas décadas e meia praticando o Direito. Ele afirma não saber ainda ao certo o que o setor privado reserva para ele, uma vez que se aposentou recentemente. “Em alguns pareceres que exarei recentemente, posso dizer que não me arrependi de trilhar esse novo-velho caminho.”

Os próprios clientes, ao procurarem os advogados, apontam o histórico deles no Ministério Público. “É inescapável isso”, diz Streck, antes de citar o escritor espanhol José Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minha circunstância”. Medina Osório diz que os clientes buscam sua visão estratégica, aliada ao embasamento intelectual, de quem conhece, por exemplo, os métodos de negociação do MP ao firmar Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) e o funcionamento da polícia.

No entanto, nem tudo são flores. Streck aponta que tudo parece ser mais complicado para o advogado. “Como procurador de Justiça, não dependia de petições eletrônicas, prazos de resposta ou até mesmo interpor os malsinados embargos”, explica.

Outro problema é saber lidar com o preconceito que a sociedade apresenta em relação a advogados, pelo desconhecimento sobre direito de defesa. “Muitos imaginam que o Ministério Público é composto por ‘heróis’ e que advogado defende ‘bandidos’. Até hoje, não é raro observar pessoas com aparente nível intelectual afirmarem coisas bobas, como: ‘o dinheiro da corrupção é que financia a defesa dos corruptos e abastece os honorários dos advogados’. Algo tão estúpido se pode ler ou ouvir de pessoas esclarecidas, que manifestam, consciente ou inconscientemente, seu preconceito e sua ojeriza ao trabalho advocatício, criminalizando-o”, reclama Medina Osório.

O caminho de Streck e Medina Osório, de ir para o mercado depois de ter feito carreira no MP não é trilhado por muitos. A carreira pública é muito prestigiada e valorizada, apontam. Financeiramente, no entanto, parece valer à pena. Streck ainda está na expectativa do crescimento de seu escritório Streck, Trindade & Rosenfield. Medina Osório, há mais tempo usando a beca de advogado, é direto: “Existe, sim, uma significativa mudança financeira. Mas o dinheiro não pode ser o norte de quem pensa uma nova carreira”.

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