Filme retrata história de advogada que tem o irmão menor de idade preso
12 de outubro de 2014, 12h46
Uma jovem e idealista defensora pública que atua na Vara de infância e juventude de Santos, litoral de São Paulo, de repente se encontra em um conflito que transcende os muros da Delegacia da Infância e Juventude: seu irmão, menor de idade, foi detido por suspeita de cometer um delito.
Essa é a história do filme “De Menor”, da cineasta paulistana Caru Alves de Souza, vencedor do prêmio de melhor filme no Festival do Rio. A obra ainda conta com a atriz Rita Batata no papel da protagonista Helena, papel que rendeu o título de melhor atriz nos festivais de Cuiabá e Marseille Du Sud, na França — o filme está em cartaz em circuito nacional.
Diferente de outros filmes que retratam o Judiciário brasileiro em estilo de documentário, como “Justiça! Uma História” e “Sem Pena”, o longa é uma ficção que explora a vida pessoal e de advogada de Helena e sua relação com seu irmão caçula. Os dois são recém órfãos e vivem juntos com muita cumplicidade e afeto. Caio (interpretado por Giovanni Gallo), é um adolescente impulsivo e rebelde típico, que é preso na Diju de Santos depois de cometer um delito, .
De acordo com a diretora, “o universo do jurídico e do pessoal estão o tempo todo juntos, em paralelo. De repente se chocam quando o irmão é preso”. E seguindo esse encontro de realidades, o enredo caminha através do drama de Helena que é obrigada a ser irmã, mãe e advogada, sem deixar de retratar a situação de adolescentes presos.
Para realizar o filme, a diretora contou com a consultoria técnica da prima: ela é advogada e atuou como advogada na Vara de Infância e Juventude de São Vicente, também no litoral paulista. “Ela me contava as história do trabalho. Minha prima se envolveu muito com os adolescentes, se envolveu de verdade, extrapolando suas atribuições”, contou Souza.
“As histórias que ela relatava me inspiraram a fazer o filme. Além disso, a questão da juventude em situação de risco já era um tema que me interessava. Era um tema que eu gostava, mas que só a partir da minha relação com a minha prima, resolvi fazer o filme pelo ponto de vista dos advogados e não dos adolescentes”, afirmou a diretora.
Questionada se o debate público em respeito às propostas de redução da maioridade penal influenciou no enredo do longa, Souza afirmou que mesmo que o assunto estivesse a tona, não havia uma ligação direta com o filme. Entretanto, segundo ainda a cineasta, ao longo do desenvolvimento do projeto, o debate da maioridade acabou, naturalmente, influenciando o projeto. “A reação da sociedade brasileira, principalmente a paulista, foi muito dura no debate”, completou.
De fato, através de sua linguagem, o filme pode contribuir indiretamente para o debate de segurança pública, violência urbana e Direitos Humanos. Porém, de acordo com a diretora, “ele não explica nada, e não é para fazer a pessoa ter uma opinião sobre a redução da maioridade penal”. Com um final em aberto, o filme demonstra nunca ter tido a intenção de ser didático ou de proprocionar uma tese sobre o assunto.
Para trazer ao público suas impressões pessoais sobre o universo da Vara da infância e juventude, a diretora, além de contar com a consultoria da prima advogada, acompanhou inúmeras sessões de julgamento de adolescentes. E tirou uma reflexão preciosa: “Há uma tendência na sociedade em ver os adolescentes como agressores. É a primeira coisa que vem na cabeça quando vimos um adolescente com certo tipo físico, com um modelo de roupa, com uma forma de falar, é um estereótipo”.
E concluiu: “o que mais me chocou, por mais que eles realmente tivessem cometido aqueles delitos, é que eles estavam em uma posição muito vulnerável. Eles não pareciam ser os agressores, mesmo que também não fossem as vítimas. Eles me lembraram que são ainda adolescentes, e isso foi importante para não enxergá-los como agressores em potencial”.
Assista ao trailer do filme.
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