Uso de conjunções pode convencer o Júri, diz professor
14 de julho de 2012, 8h13
O advogado e professor de Direito Elliott Wilcox, que se declara "apaixonado" pelo tribunal do Júri — a ponto de, às vezes, ir julgamentos apenas para assistir —, afirma que há uma técnica para fazer isso: "Comece forte, comente sobre o ponto fraco da defesa no meio e termine forte". A receita, diz, ele já ensinou em faculdades de Direito.
"A atuação do advogado no tribunal do Júri é uma arte, não uma ciência exata", diz Wilcox. "Diferentemente da Matemática ou da Ciência, em que apenas uma reposta correta é esperada, a arte pode produzir resultados completamente diferentes sobre o mesmo assunto. Que o digam Picasso e Dali, que usaram telas, tintas, paletas e pincéis para retratar a forma humana, mas produziram obras bem diferentes", lembra o advogado. Para ele, cada advogado deve desenvolver sua arte e seu estilo, levando em conta que não existe um padrão internacional para a melhor sustentação oral.
Há boas ideias. Uma delas é fazer as conjunções adversativas — "mas", "porém", "contudo", "todavia", "no entanto", "entretanto" — trabalharem em favor do advogado. Um "mas" depois de uma declaração boa pode ter efeitos devastadores. Vale a comparação com um jantar em que a namorada espera do namorado o pedido de noivado: "Você é a pessoa mais maravilhosa do mundo, ‘mas’", diria ele, para logo em seguida trazer a notícia ruim. Em outra situação, se a conversa começar assim: "Você não presta, ‘mas’", aí vem notícia boa. Em qualquer das formas, o que vem depois da conjunção adversativa é o que vai ficar na cabeça da pessoa que a ouviu, por muito tempo.
No tribunal do Júri, um "mas" como prenúncio de más notícias praticamente anula o anúncio que acabou de ser feito sobre um ponto forte da acusação ou da defesa, na cabeça dos jurados. Assim, o professor Wilcox sugere que se abra o discurso com o ponto fraco e que, logo em seguinda, seja desferido um "mas" bem pronunciado em cima dele, para apagá-lo — de preferência, teatralmente expresso, para abrir a mente do jurado.
Outras conjunções adversativas podem ser aproveitadas no percurso, quando se aproxima a vez do argumento mais forte, que pode ser comparado com um ponto fraco da outra parte. "A acusação (ou a defesa) tentou mostrar que…, ‘mas’", seria um exemplo.
Segundo Wilcox, uma conjunção adversativa tem um efeito mais ou menos nesse sentido: "Coloque de lado o que acabei de lhe dizer e considere isso (novo argumento)". A reação, ele afirma, está na natureza humana. Quando a pessoa ouve um ‘mas’, um ‘porém’ ou qualquer construção gramatical do gênero, a tendência é esquecer a primeira sentença e se fixar no que vem a seguir.
"No entanto", essa pode ser uma técnica ruim nas alegações iniciais, diz o professor. A esse ponto, os jurados não sabem nada — ou quase nada — sobre o caso. E o advogado não quer ser o primeiro a introduzir em suas mentes lados ruins do caso ou de seu cliente. Ao contrário, ele quer exercer e maximizar uma forte imagem favorável a seu cliente.
Ao final do julgamento, ele explica, quando todas as testemunhas já foram ouvidas e todas as provas foram apresentadas, é hora de jogar com as palavras, para transformá-las em armas a seu favor. É preciso lembrar, "porém", que cada caso é um caso. "Não existe bala mágica" para finalizar um julgamento, diz o professor. É preciso ter em conta, apenas, que cada "mas", "porém", "contudo", "todavia", "no entanto" e "entretanto" muda o curso do discurso. Melhor que seja a favor.
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