Carreira destruída

Advogado é preso nos EUA por forjar provas

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18 de agosto de 2012, 2h05

Por mais de 30 anos, o advogado criminalista Charles Daum exerceu com sucesso a profissão. Levou uma vida financeiramente tranquila, defendendo pessoas comuns, que cometiam crimes que mal chamavam a atenção da imprensa. Mas o grande caso de sua vida haveria de aparecer. Um dia, um homem bastante conhecido da sociedade, com uma "imagem carismática" em Washington, D.C., acusado de tráfico de cocaína, o contratou. A história terminou mal: os dois foram presos. 

Era um caso para ganhar e se consagrar. O criminalista, porém, converteu essa ideia em "é um caso em que perder não é uma opção, em hipótese alguma". Mesmo que tivesse de "forçar algumas barras" no julgamento, o que parecia uma saída diante da situação bastante complicada de seu cliente. A Promotoria tinha um caso forte nas mãos, segundo o site da Tri States Public Radio

Ao advogado, Delante White, o suposto traficante, explicou que o contratara mesmo não sendo um criminalista famoso porque soube que era muito competente — e esperto. O advogado tentou mostrar, então, que era realmente esperto. Como a droga pertencia mesmo ao acusado, Daum lhe apresentou algumas ideias "brilhantes" que poderiam inocentá-lo. White aceitou as ideias e ajudou a articular planos para concretizá-las. 

Daum não era, afinal, tão esperto assim. Em sua determinação de ganhar um caso famoso, o criminalista cometeu um erro comum à natureza dos homens: esperar que uma pessoa notoriamente desonesta com ele fosse honesta. Quando o Júri concluiu que White era culpado por tráfico de drogas e a pena mínima de 20 anos de prisão foi anunciada pelo juiz, o traficante mudou de lado: começou a negociar com a promotoria, agora interessada em tirar o advogado de circulação. Para aliviar sua pena, revelou aos promotores todo o esquema que montou com seu advogado. 

O promotor federal Lanny Breuer anunciou na sexta-feira (17/8) que o advogado pulou o muro. Passou para o outro lado. "Ele traiu a advocacia e, por isso, foi para a cadeia. Ele fabricou provas, trouxe falsos testemunhos para o tribunal para livrar seu cliente da prisão e, por isso, ele mesmo acabou preso", declarou. 

Provas adulteradas
O esquema começou a ruir já durante o julgamento. O criminalista mandou, por exemplo, a namorada de White, Candice Robertson, ir a Nova York adquirir um par de botas Gucci, tamanho 43 — iguais às botas que a polícia fotografou em um apartamento da família de White, porém em número menor. As botas seriam experimentadas no tribunal e não serviriam para White, que calça 45. O advogado, com a ajuda de dois investigadores particulares e da família de White, trataram de "modificar" outros itens, como um aparelho de barbear, uma balança digital e até um sabonete que, triturado, ficou parecido com crack

A ideia era fazer parecer que a cocaína pertencia a outra pessoa, talvez ao irmão de White. No julgamento do advogado, o juiz rejeitou as provas e o argumento, apresentado por ele, de que quem armou todo o esquema fora White. O juiz declarou que White, dentro da cadeia, não poderia ter feito isso sozinho. O testemunho da namora de White também foi um fracasso para a defesa do advogado. A promotoria dispunha de uma gravação telefônica em que ela deixara um recado para o advogado, através de sua secretária, que havia ido a Nova York e adquirido uma 4-3 — a bota número 43. A partir daí, todo o esquema foi desmontado. 

A sentença de condenação do criminalista será proferida em novembro. Ele poderá pegar dez anos de prisão só pela acusação de obstrução da Justiça. Mas ele pretende recorrer, alegando falhas processuais, como a de que a Promotoria teria escondido provas contra ele. O criminalista também corre o risco de perder sua licença profissional.

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