A biblioteca básica do professor Wagner Balera
9 de junho de 2010, 13h51
Balera descobriu sua vocação para a advocacia assistindo ao seriado norte-americano Perry Mason. Exibido no fim dos anos 60, no Brasil, o filme retratava histórias de um advogado criminalista. “Mais tarde, eu descobri que a série era baseada em um livro que eu nunca encontrei. E assistindo a série eu já falava para minha mãe que queria ser advogado”, conta.
Para manter-se sempre um estudante, teve a estratégia de buscar um concurso público, qualquer que fosse. A ideia era ter tempo para dedicar-se aos estudos de mestrado, ter um bom salário e garantir uma aposentadoria. Dos vários concursos prestados, escolheu o de procurador da Previdência, na época INPS, onde ficou por 21 anos. Ainda na faculdade sentiu vontade de ser professor e conversou com seu professor Franco Montoro, autor do livro Introdução à Ciência do Direito, para pedir uma vaga e iniciar logo o mestrado.
Em meio às dúvidas trazidas pela reforma da Previdência, apressou-se para se aposentar, o que aconteceu nos seus 46 anos. A partir daí, dedicou-se também a consultoria, uma das atividades que mais gosta porque resulta em mais estudo. “As pessoas me pagam para estudar, para resolver um problema. É preciso ler bastante, acompanhar a jurisprudência dos tribunais, o que me satisfaz muito”, conta.
Como professor, leciona na PUC-SP, onde fez carreira, nas áreas de Direito Previdenciário e Direitos Humanos. Sempre prepara antecipadamente todas as suas aulas. “Uma aula de Direito tem que trazer sempre uma novidade, porque sempre ocorre um fato novo em relação a um mesmo assunto", diz. Hoje, ele é também sócio do escritório Moreau e Balera.
Primeiros Livros
O primeiro romance mais marcante foi Iracema, de José de Alencar, que ficou fixado em sua memória depois que ele visitou a praia de mesmo nome, em Fortaleza. Leu toda a coleção de Machado de Assis e, em especial, Eça de Queiroz. Leu “de ponta a ponta e várias vezes”, desde os clássicos Música ao Longe e a trilogia O Tempo e o Vento até seus últimos que chegam a ser autobiográficos. Para ele, o autor é perfeito porque em seus livros as palavras “estão colocadas exatamente no lugar em que deveriam estar”.
Leitura habitual
O cardápio principal do professor são os livros religiosos e de Direito. Como passou por colégio salesiano, o interesse pelo catolicismo foi despertado com os escritos de Dom Bosco, que era dedicado ao ensinamento de jovens. Passou por Tratado do Amor de Deus, de Francisco de Sales, e A imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, que ele recomenda que seja relido pelo resto da vida. “A cada vez que se lê esse livro, se aprende alguma coisa. Eu conheço várias edições, que até avisam que o autor é desconhecido. Não se sabe se Kempis existiu ou é apenas um pseudônimo”.
Leitura Jurídica
Dos seus 15 mil livros jurídicos, ele sempre recomenda a leitura de Hermenêutica e aplicação do Direito, de Carlos Maxilimiano, básico para entender a interpretar o Direito. As prateleiras de sua biblioteca são dedicadas a Pontes de Miranda, que comentou quase todas as constituições. Na parte de tributário, destaca a obra Hipotese e incidência tributária, lançada por Geraldo Ataliba na época em que ele era seu professor. “É o livro tributário mais importante que já se escreveu porque mudou o paradigma do conhecimento”.
Li e recomendo
"Li todos os livros de Paulo de Barros Carvalho, que foi meu orientador e é também um amante da língua", diz ele. Como referência na área de Previdência, ele cita Mozart Vitor Russo Mano, que fez um comentário da legislação previdenciária, sempre atualizando-o. “Hoje, existe uma imensidão de livros sobre o tema, mas nessa época, havia três ou quatro livros”, lembra.
Na área de Direitos Humanos, sua cadeira na PUC-SP, ele destaca o professor Antônio Augusto Cançado Trindade, que hoje representante do Brasil na Corte de Haia. “Um dos autores mais importantes sobre o assunto”.
Música
Ele gosta muito de música, em especial ópera e MPB. A sua ópera preferida é La Bohème, de Giacomo Puccini. Porém, sem hesitar, a melhor é a ária Casta Diva, da ópera Norma, principalmente quando interpretada pela cantora Maria Callas, segundo o advogado. “É o máximo em termos de expressão de música”. Balera comemora a tecnologia e o prazer de encontrar na internet o vídeo com a atuação da cantora norte-americana.
Filme
Dos filmes preferidos, Balera elegeu A Vida é Bela e sempre assiste um filme de Peter Sellers chamado Muito Além do Jardim. "É um filme interessantíssimo. Vulgarmente ficou conhecido como ‘O Videota’ porque conta a história de um cara que nunca saiu de casa e só fica vendo TV", conta. Quando o personagem resolve sair de casa, acaba num bar. Para conseguir interagir, cita trechos de falas ouvidas na televisão e é considerado extremamente inteligente. “É uma comédia muito boa que eu consegui comprar o filme em VHS e agora tenho que converter para DVD e poder rever”.
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