Maioria dos diretores de fundos de pensão é ligada ao PT
8 de março de 2009, 14h02
A nomeação e a atuação de dirigentes de fundos de pensão no país tem forte caráter político. Dos atuais dirigentes dessas carteiras, 56% fizeram doações financeiras a candidatos nas últimas quatro eleições, sendo o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, beneficiário de quase um terço delas. É o que revela uma reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo neste domingo (8/3). O jornalista Ranier Bragon mostra que sete dos dez maiores fundos do país — que controlam 53% do total nas carteiras de investimento, ou R$ 218 bilhões em ativos — têm ligação com o partido do presidente da República. O PMDB tem influência sobre dois.
Entre os políticos com maior influência, seis são mais citados por senadores, deputados e sindicalistas que trabalham com a matéria. São eles Ricardo Berzoini, com histórica atuação no sindicalismo bancário paulista; o ex-ministro Luiz Gushiken, "padrinho" assumido da indicação do atual presidente do fundo de pensão dos funcionários da Petrobras; o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e seu braço direito a partir de 2003, Marcelo Sereno; o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP); e o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), também do PMDB.
Leia a íntegra da reportagem.
PT tem diretores em 7 dos 10 maiores fundos
Mais da metade dos 43 dirigentes de entidades ligadas às estatais fez doações a candidatos nas últimas quatro eleições
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, recebeu doações dos presidentes da Petros, da Funcef e da Previ; PMDB controla Postalis e Eletros
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O "DNA político" dos 43 dirigentes dos grandes fundos de pensão estatais brasileiros mostra uma forte relação com partidos políticos, notadamente o PT, sendo que um dos elementos dessa ligação pode ser medido objetivamente: 56% desses diretores fizeram doações financeiras a candidatos nas últimas quatro eleições. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, foi o destinatário de quase um terço delas.
A Folha entrevistou deputados, senadores e sindicalistas para traçar uma radiografia das diretorias executivas dos dez maiores fundos de pensão de estatais federais, que reúnem R$ 218 bilhões em suas carteiras de investimento -53% do total controlado pelos 278 fundos, privados e públicos.
Entre os "dez mais", o PT tem ligação clara com integrantes da diretoria executiva de sete deles. O PMDB do Senado mantém ascendência sobre pelo menos dois, restando influência periférica, aqui e ali, a outros partidos que compõem a base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sobre nomes, seis políticos são os mais citados quando se pergunta sobre a influência exercida na composição das direções dos fundos de pensão:
1) Berzoini, que tem atuação histórica no sindicalismo bancário paulista, controlado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) e pelo PT; 2) o ex-ministro Luiz Gushiken, "padrinho" assumido da indicação do atual presidente do fundo de pensão dos funcionários da Petrobras; 3) o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cuja atuação se daria, a partir de 2003, por meio de 4) Marcelo Sereno, seu braço direito à época; 5) o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP); 6) o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), também do PMDB.
O discurso praticamente unânime de todos os fundos, quando abordados sobre as ligações de seus diretores com forças políticas, é o de que o critério técnico prevaleceu na indicação ou eleição para o cargo. De fato, todos os 43 dirigentes têm um currículo de atividades na área -quase sempre na empresa que patrocina o fundo.
Real Grandeza
Mas a recente tentativa do PMDB de alterar a composição da Real Grandeza (fundo dos funcionários de Furnas Centrais Elétricas) e as suspeitas sobre o direcionamento de investimentos, durante o escândalo do mensalão, mostram a fragilidade dessa afirmação.
O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), ex-ministro das Comunicações, dá um exemplo ao falar sobre o caso Real Grandeza, cuja ligação mais expressiva até agora de relação política se dá pelo fato de seu presidente, Sérgio Wilson, ter trabalhado com um aliado do ex-presidente e ex-governador mineiro Itamar Franco.
"O pessoal do movimento de defesa das estatais esteve comigo esses dias e disse que na Real Grandeza tem todos os partidos, inclusive o PDT." Wilson foi militante do PDT na década de 80 e, conforme mostrou a coluna "Painel" da Folha, o diretor Roberto de Carvalho Panisset tem atuação pela CUT e é filiado ao PDT, embora afirme ter se afastado da militância desde 2004.
Desde 2002, quando o PT era oposição, as doações eleitorais partidas desse grupo de 43 pessoas ficou em torno de R$ 10 mil. Quatro anos depois, quando a maioria já exercia o atual cargo, o total de doações declaradas à Justiça foi para R$ 154 mil, dinheiro quase que exclusivamente destinado a petistas.
Berzoini, o mais beneficiado com as doações, recebeu R$ 10 mil de cada um dos presidentes dos três maiores fundos federais, a Petros (funcionários da Petrobras, presidida por Wagner Pinheiro de Oliveira), a Funcef (funcionários da Caixa Econômica Federal, presidida por Guilherme Narciso de Lacerda), e a Previ (funcionários do Banco do Brasil, presidida por Sérgio Ricardo Silva Rosa), entre outras doações.
Já o PMDB do Senado tem em sua "cota" a Postalis (Correios) e a Eletros (Eletrobras). As indicações são atribuídas a Sarney, que nega influência. Apesar disso, o presidente do fundo Postalis, Alexej Predtechensky, reconhece que o relacionamento de "respeito mútuo" com integrantes do Senado contribuiu para sua indicação. O PT também tem "representante" no fundo, o diretor Ernani de Souza Coelho.
Correios
A assessoria do órgão lembra que o ministério ao qual os Correios estão vinculados é comandado por um senador do PMDB, Edison Lobão, a quem também se atribui "paternidade" em relação às nomeações.
Em Pernambuco, a Fachesf (funcionários da Chesf, a empresa de energia do São Francisco) é "dividida" entre petistas e indicados pelo PSB do governador Eduardo Campos.
Um registro curioso: um dos maiores fundos de pensão do Brasil, o Centrus (Banco Central), é presidido por uma pessoa filiada ao DEM, partido de oposição a Lula. Mas, aparentemente, trata-se de apenas um dado curioso, já que Helio Cesar Brasileiro, que já trabalhou nos governos tucanos de Fernando Henrique Cardoso e de Aécio Neves (MG), é filiado na minúscula cidade de São João da Paraúna (GO), que tem 1.700 habitantes.
Ele afirma que isso se dá por questões paroquiais, que nunca teve contato com a direção do partido, e sua "carteirinha" de filiado está inativa há anos.
O questionamento sobre a interferência partidária na gestão dos fundos de pensão tomou força em 2005, quando a CPI dos Correios disse haver "aparelhamento partidário" e, ao final, sugeriu o indiciamento de diretores de vários fundos por perdas em aplicações, entre elas as feitas no Banco Santos pouco antes da intervenção do Banco Central, em 2004.
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