Julgamento político

Processo penal não é suficiente para acabar com a corrupção

Autor

  • Luiz Roberto Kallas

    é consultor e professor nas áreas de Planejamento Estratégico Tecnologia da Informação e Mercado Financeiro no Brasil Estados Unidos Oriente Médio Uruguai e outros países. Foi professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito na Unip.

19 de outubro de 2007, 11h15

Planejar é o ato de descobrir quais as ações devemos implementar e quais os recursos que devemos colocar a disposição para executá-las. Acontece que sempre os recursos disponíveis são escassos e temos que escolher, dentre as ações, quais são as mais importantes, as mais urgentes, as que oferecem o melhor benefício e que ao mesmo tempo custem menos. Isso é priorizar: escolher o que, em cada momento, é mais importante. Somos impotentes para fazer tudo que é necessário para ter uma vida melhor e portanto a prática de escolher prioridades é essencial para que o sucesso seja obtido.

Tais idéias são aplicadas ao se fazer o planejamento de uma empresa ou de um governo, mas também podem ser aplicadas em diversas outras ocasiões de nossa vida, inclusive para combater a corrupção. Se não fizermos uma avaliação correta de quais, dentre as ações são as que dão melhores resultados, todo o processo de planejamento será inútil. Essa é a base para tomarmos uma decisão correta. A escolha de opções é pois essencial para obtermos aquilo que queremos.

A corrupção é uma praga que grassa no país e desde nossa infância nos acostumamos com ela. Sempre ouvimos dizer que os políticos corrompem e são corrompidos e temos que suportar. A conclusão a que chegamos é que os resultados não estão sendo alcançados e vemos constantemente o aumento no número de escândalos governo após governo. Parece até que temos que conviver eternamente com a idéia de que a corrupção é algo sistêmico e normal. Quando se pega alguém com a boca na botija, logo vêm as desculpas: “Mas todos roubam, por que não eu?”. “Outros fizeram antes de mim, por que não pegá-los primeiro?” “Não se faz política sem colocar a mão em matéria pútrida, então por que eu é que sou a vitima?”. Todo bandido é assim. Essa é a desculpa padrão daqueles que não possuem ética. Primeiro querem que os outros paguem e depois, só muito depois, quando já é tarde, é que temos que pensar nos que roubam agora. Parece até que devemos entrar na fila da punição e ninguém pode alterá-la. É claro que podemos.

A fila para a punição dos corruptos deve ser invertida. Primeiro os últimos e só depois os primeiros. Se agirmos ao contrário a corrupção não acaba. É mais importante punir quem está roubando agora: o último ladrão, pois só assim vamos estancar o roubo e agir preventivamente. Quando o crime é político, ou envolve políticos, não basta um julgamento segundo o processo legal, que também deve ser respeitado. É necessário também um julgamento político, este realizado sobretudo pelos cidadãos. A ausência de um julgamento político, muitas vezes esquecido pelos brasileiros, é um sinal de que estamos abandonando a civilização e caminhando de volta a selvageria de nossos ancestrais: os macacos. No meio do caminho de volta às nossas origens, encontraremos sempre os regimes de exceção, as ditaduras tanto de esquerda como de direita. A corrupção dos políticos é pois o primeiro passo para a volta da ditadura e a chance de evitá-la é o julgamento político.

Outro aspecto que merece análise é a origem da corrupção. Uma das mais importantes reflexões, neste aspecto, é que a ocasião faz o ladrão. A corrupção nasce da facilidade em lidar com altas somas de dinheiro. O poder público brasileiro tem dinheiro à vontade para fazer o que quiser. Quase metade do produto brasileiro vai para ele. Nós que produzimos ficamos apenas com a metade. A melhor forma de combater a corrupção em suas origens é atingir a fonte do dinheiro. O Estado já passou dos limites em termos de gastos, até por que ele produz pouco em face do que recebe e precisa aprender a gastar melhor. Esta é a razão pela qual a maioria dos brasileiros é contra a prorrogação da CPMF, conforme pesquisa de institutos de opinião.

Sabemos todos que o dinheiro não é, em grande parte, para aplicações devidas, mas para manter esquemas de poder e portanto o uso indevido, conforme os conhecidos desvios. É pois prioritário diminuir o volume de recursos em mãos dos governos e colocá-los nas mãos de quem produz melhor, caso contrário a gastança e a corrupção continuará. A sociedade, como proprietária dos recursos, já se pronunciou através da opinião pública, contudo a mensagem não foi percebida pelos altos escalões políticos. E este é o outro ponto focal do nosso planejamento para um Brasil melhor. É necessário dar um basta, agora e nas eleições.

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