Bastidores da notícia

Tognolli lança Mídia, Máfias e Rock’n Roll nesta quarta

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23 de maio de 2007, 13h42

O jornalista Claudio Júlio Tognolli lança nesta quarta-feira (23/5), em São Paulo, o livro Mídia, Máfias e Rock’n Roll — bastidores do jornalismo e outros segredos indispensáveis para estudantes, profissionais e leitores. A obra é uma aula magna de jornalismo.

Tognolli mostra de saída que abordará os assuntos mais caros a quem trabalha com notícia e que, via de regra, não chegam ao conhecimento dos leitores. No primeiro capítulo fala sobre a relação de proximidade do jornalista com suas fontes e conta duas histórias de como perdeu amigos porque decidiu privilegiar os leitores.

Uma das fontes-amigos que o jornalista perdeu foi o procurador da República Luiz Francisco de Souza, por conta da reportagem O DNA da Ação — Arquivo de petição de Luiz Francisco foi gerado em empresa, que a ConJur publicou em setembro de 2004. O texto mostrou que o arquivo de uma Ação Civil Pública assinada pelo procurador havia sido criado no computador de uma empresa interessada na causa. No livro, Tognolli revela os bastidores dessa notícia.

Mas não pára por aí. Como diz o professor José Coelho Sobrinho no posfácio do livro (leia abaixo), o repórter especial da ConJur “é inquieto”. Aborda no livro, com a mesma propriedade, histórias de fusões de grupos de mídia e de cobertura de celebridades. E conta como foi convidado para empreender uma missão: tentar encontrar o corpo do engenheiro João José de Vasconcellos Jr., da empreiteira Odebrecht, seqüestrado e morto no Iraque.

Muito mais sobre os bastidores do jornalismo e outras histórias estão nas 160 páginas do Mídia, Máfias e Rock’n Roll, que custa R$ 38 e será lançado pela Editora do Bispo, nesta quarta, na Livraria da Vila — Alameda Lorena, 1.731, São Paulo, capital.

Leia o posfácio do livro

Puro-Sangue

“Quando Gutenberg inventou a primeira máquina de imprimir, praticamente acabou com a liberdade de imprensa”. Essa afirmação foi feita pelo jornalista Hélio Fernandes na primeira página da coletânea de artigos (verdadeiros depoimentos) de Genival Rabelo, “O capital estrangeiro na imprensa brasileira”. Mas essa afirmação, do indignado diretor da Tribuna da Imprensa, se referia mais às pressões de custo, sofridas pelos jornais, do que às contingências políticas. E é bom lembrar que vivíamos o ano de 1966, portanto em plena vigência da ditadura militar.

A esse tempo, no plano internacional, a Internet já dava sinais de vida. Em agosto de 1962, J.C.R. Licklider, pesquisador do MIT (Massachussets Institute of Technology) discutia a “Rede Galáxica” afirmando que as interações sociais seriam feitas por meio de redes formadas por computadores interconectados, permitindo acesso rápido a dados entre pessoas e instituições de qualquer lugar do planeta. Talvez estivesse nessa possibilidade o contraponto à afirmação do editor da Tribuna, ou seja, a destruição de um dos pilares do controle da liberdade de imprensa.

Pode pensar o leitor atento em relação a essa abertura: “Mas qual a relação entre Gutenberg, Licklider e Tognolli? Ou ainda, Hélio Fernandes, Genival Rabelo e Claudio Julio Tognolli?”. Aparentemente nenhuma, até que cheguemos ao final dessa obra, que tenho o prazer de apresentar àqueles que se preocupam com a liberdade de imprensa.

Tognolli desvenda a sua forma de trabalho no jornalismo investigativo, gênero de que é um dos pioneiros no Brasil. A começar, mesmo sem afirmação explícita, o autor deixa claro que o compromisso com a sociedade é a equação máxima a ser resolvida pelo profissional de imprensa.

Quando toma de Leary a afirmação de que “a realidade não passa de uma opinião”, Tognolli aproxima-se de Rabelo, oferecendo àqueles que vão iniciar a leitura dessa obra a sua visão sobre a prática da liberdade de imprensa num mundo globalizado e globalizante. Tornar realidade a premonição de Licklider é um incentivo que está latente nos textos deste livro.

Como Fernandes, Tognolli não esconde as suas versões dos fatos que fazem a cepa dos capítulos deste livro. Sem meias palavras e desvendando os atores dos fatos, o autor revela a opinião de muitos colegas a respeito da prática, ética e metodologia do jornalismo investigativo.

Tognolli é inquieto pessoalmente e seu livro revela essa ansiedade de viver o dia-a-dia mais que as 24 horas possíveis. Vai de sua paixão musical, o rock, à sua paixão profissional, o jornalismo de investigação, dando à segunda o ritmo frenético emprestado da primeira. Acredita na estatística, mas crê que o ponto de vista descompromissado com a quantificação tem a sua importância, porque entende que o jornalista deve desenvolver uma visão periférica tão aguçada quanto à visão central do fato. Prega um estímulo incessante ao entendimento da pauta e do acontecimento e recomenda a descoberta de todas as faces que constroem a matéria, mesmo que a edição não permita que todos os detalhes sejam expostos.

Esta é uma obra que vem da alma de seu autor, com quem tenho o prazer de dividir preocupações pedagógicas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. É um puro-sangue, o Tognolli. Busquei no texto uma frase que pudesse sintetizar o conteúdo e acredito que a epígrafe mais fiel para esta obra deva ser: “redramatizando o mundo e desdramatizando o tempo, a mídia prossegue em seus ardis: afinal, the show must goes on”.

José Coelho Sobrinho

Professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP

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