Pesos e medidas

Tucanos queixam-se de que a PF protege o PT

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17 de setembro de 2006, 1h03

Um livro aberto em Cuiabá, uma caixa preta em São Paulo. Enquanto em Mato Grosso a Polícia Federal libera informações e permite o acesso às imagens que associam Serra ao esquema dos sanguessugas, em São Paulo — onde petistas foram presos com uma montanha de dinheiro, tudo é segredo. Essa é a queixa dos advogados do PSDB, que estão preparando uma série de representações para sair do prejuízo.

Em Mato Grosso, a PF exibiu, como de costume, seu troféu: Luiz Antonio Vedoin — o empresário que vendia ambulâncias de forma escusa e agora vende informações da mesma maneira — algemado. Um parente de Vedoin foi fotografado encolhido num camburão. Pelo menos uma entrevista coletiva da PF foi informada pelo Diário de Cuiabá. Todo o conteúdo do kit que pretende mostrar que o candidato ao governo paulista, José Serra, participou do esquema sanguessugas foi minuciosamente descrito. O DVD em que ele aparece foi disponibilizado pelo site Olhar Direto — Clique aqui para ver as imagens.

Os defensores das duas facções mantiveram reuniões neste sábado. Não só os que cuidam da matéria eleitoral, mas seus respectivos consultores criminais. Os encontros entraram pela noite. Em princípio, acertou-se que, ao menos um dos detidos, Gedimar Pereira Passos, será defendido pelo criminalista Cristiano Marona — que já atuou no caso que envolveu o ministro Antonio Palocci na CPI dos bingos.

As discussões se travam em torno das três hipóteses principais aventadas até agora: a de que o PT compraria “provas” de que Serra participou do esquema dos sanguessugas para enfraquecê-lo eleitoralmente; a de que as provas não provam nada e seriam apenas uma tentativa de chantagem pré-eleitoral; e a hipótese de que o interessado seria o ex-governador Orestes Quércia.

Para o governo, qualquer versão serve, desde que o presidente Lula não seja envolvido na história. Isso ocorreria com eventual desconfiança de que ao menos parte do dinheiro coletado pela PF em São Paulo tenha origem nos caixas (1 ou 2) do Diretório Nacional. O partido divulgou nota oficial (leia ao final do texto).

O ministro Marcio Thomaz Bastos negou que tenha orientado a Polícia Federal a sonegar à imprensa as imagens dos petistas presos em São Paulo e os alegados R$ 1,7 milhão apreendidos. À TV Globo ele disse acreditar que as imagens não foram mostradas por “um critério usado pela Polícia Federal à luz das conveniências e das perspectivas da investigação, que só ela que está investigando pode saber”. O ministro não fez referência aos telefonemas que ele deu para o diretor da PF, Paulo Lacerda, e para o próprio superintendente da guarnição em São Paulo.

Ao jornal O Globo, o ministro negou que tenha ordenado à polícia para esconder da imprensa o dinheiro apreendido com os personagens detidos na operação. “Imagina se eu faria uma coisa dessas. Eu não me meto em investigações da PF. Tenho dito isso há quatro anos. Se tivesse que impedir alguma coisa, teria impedido a investigação. Isso não faz o menor sentido”, disse ele ao jornal.

Pelo que se lê no Estadão, o ministro não combinou direito com sua assessoria a versão oficial. O jornal publica que Bastos “agiu para evitar que a PF exibisse imagens do dinheiro apreendido”. E relata que “a assessoria do ministro explicou que essa é uma orientação geral, para que ações da PF não se prestem a proteger nem perseguir ninguém por causa de seu vínculo partidário.”

Entre o que diz a assessoria e o que diz o ministro, resta a interpretação hermenêutica de que vigora uma regra para São Paulo e outra para o Mato Grosso.

Mas o fato é que os dois capítulos da mesma novela foram seccionados de forma certeira: os podres dos tucanos, aliás, a suposta tentativa de envolver Serra e Alckmin com os sanguessugas ficou na ribalta cuiabana. Até foto em camburão valeu. Em São Paulo, cautela. As informações que se tem sobre os depoimentos dos presos, curiosamente, foram relatadas por correspondentes dos jornais localizados em Cuiabá — o que ocorre tanto nas páginas de O Globo, quanto na Folha e no Estadão.

Essa cautela, contudo, tem como fronteira o acompanhamento atencioso da Justiça e do Ministério Público que têm acesso a todas as apurações policiais. Ou seja: há limites. Ou deveria haver.

De Mato Grosso, o juiz da 3ª Vara Federal, César Augusto Bearsi, decretou neste sábado a prisão preventiva de Paulo Roberto Trevisan, parente do empresário Luiz Antônio Vedoin e mais cinco dias de detenção para os petistas Gedimar Pereira Passos e Valdebran Carlos Padilha.

Leia a nota do PT, assinada por seu presidente, Ricardo Berzoini

“O PT considera graves as novas acusações relativas ao escândalo dos sanguessugas publicadas pela “Istoé” e que envolvem o governo anterior. Ao contrário dos nossos adversários, não prejulgaremos, mas exigimos a rigorosa e isenta investigação das denúncias, para apurar todas as responsabilidades.

“O PT sempre rejeitou o denuncismo eleitoral e a produção ilegal de dossiês, até mesmo por já termos sido vítimas desse tipo de procedimento. O PT confia na apuração da Polícia Federal dos fatos e das circunstâncias que envolvem as prisões relacionadas com esse episódio.

“Em relação ao filiado que foi preso pela PF, encaminharei ao Diretório Nacional a aplicação da suspensão cautelar, conforme o estatuto, e abertura de procedimento disciplinar.

“Diante da consolidação da liderança de nossa candidatura presidencial e da frustração daqueles que desejaram destruir o PT, não nos surpreende que ocorram episódios dessa natureza, com o objetivo de conturbar a disputa eleitoral, que está sendo conduzida de nossa parte para o debate exclusivamente programático.”

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