Profissões conflitantes

EUA decide se juiz pode ser comediante

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27 de fevereiro de 2013, 13h22

A Suprema Corte de Nova Jersey começou a julgar, nesta terça-feira (26/2), o caso do juiz que acumula a carreira de magistrado com a de comediante. O juiz Vince A. Sicari, de 43 anos, apelou contra decisão do Comitê de Ética do Judiciário do estado, de 2008, que o proibiu de exercer a profissão paralela. O Comitê Consultivo de Atividades Extrajudiciais manteve a proibição, em 2010, de acordo com a CBS News e o Boston Herald.

Sicari trabalha meio expediente como juiz municipal, por um salário de US$ 13 mil por ano — cerca de US$ 1.083 por mês. Ele argumenta que precisa da atividade extra para sobreviver e que ganha mais dinheiro como comediante do que como juiz, além de ter seguro-saúde. Mas respeita, leva a sério e gosta das duas profissões na mesma medida. Em sua função de juiz municipal em South Hackensack, ele julga casos como multas de trânsito e transgressões cometidas por desordeiros.

No ofício de comediante, que exerce há muitos anos, ele usa o nome de Vince August, para diferenciar de seu nome de magistrado. "No palco, ele nunca faz piadas sobre o Judiciário, sobre juízes e nem mesmo sobre advogados", declarou o advogado E. Drew Britcher, que o representa na Suprema Corte.

"É importante reconhecer que em suas atividades de comediante e ator ele nunca expressa sua opinião", disse Britcher. Para ele, o público consegue distinguir entre o Vince A. Sicari, juiz, e o Vince August, comediante.

Sicari atua em clubes e em programas de televisão da ABC e da Comedy Center. Seus principais assuntos vêm da vida cotidiana, ele diz. Nos últimos dias, por exemplo, ele tenta fazer sua audiência rir dos escândalos envolvendo Lance Armstrong e Oscar Pistorious. Mas sua principal vítima é ele mesmo, uma "criação católica italiana".

Mas o Comitê de Ética e o Comitê de Atividades Extrajudiciais não acham graça. O procurador-geral do estado, Kim Ringler, que representa os comitês, disse à corte que Sicari retrata, por exemplo, personagens racistas e homofóbicos em um show de câmara escondida da ABC, o "What Would You Do?" ("O que você faria?"). E isso pode confundir o público e refletir desfavoravelmente no Judiciário.

"Suas ações depreciam a dignidade da atividade judicial e podem refletir adversamente na imparcialidade do juiz", argumentou Ringler. Para o Comitê, a atividade de comediante pode afetar o Judiciário de diversas formas. "O conteúdo das apresentações do comediante pode levantar suspeitas de tendenciosidade, parcialidade ou impropriedade e pode, de qualquer forma, afetar negativamente a dignidade do Judiciário", de acordo com declarações nos autos.

Sicari, que é afiliado ao Sindicato dos Atores, disse que atuar como comediante é uma boa preparação para exercer a profissão de advogado. "Você tem de pensar e reagir de formas muito rápidas", ele afirmou. À Suprema Corte, ele declarou: "Essa questão é sobre uma pessoa que afeta vidas de formas diferentes, em duas identidades distintas".

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