Perda no jornalismo

Morre em São Paulo o jornalista Reali Júnior

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9 de abril de 2011, 15h22

O jornalista Elpídio Reali Júnior morreu neste sábado (9/4), em São Paulo, aos 71 anos. Ele estava em casa quando sofreu um enfarte às 8 horas. Há dois anos, ele havia sido submetido a um transplante de fígado. O velório será às 19 horas, na rua São Carlos do Pinhal, 376, Bela Vista. O corpo será levado, às 15 horas de domingo para o crematório Vila Alpina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nascido em 1941 em Bauru, onde passou os primeiros anos da infância, Reali Júnior era filho de pai de raízes italianas e de mãe descendente de baianos, família de costumes rurais na fazenda Tibiriçá, sustento da família. Começou a trabalhar como repórter da Rádio Jovem Pan aos 16 anos de idade. Nessa época, entrava no gramado para entrevistar os jogadores de futebol com um enorme gravador nas mãos e ganhou o apelido de Repórter Canarinho.

Em sua cidade natal, conheceu Pelé ainda menino, quando jogava no Baquinho, time infantil do Bauru Atlético Clube. Após cursar o primeiro ano do primário em Santos, onde seu pai, o delegado Elpídio Reali, e mais tarde secretário estadual de Segurança, trabalhou, Reali mudou-se para São Paulo, na Vila Nova Conceição, então um bairro de chácaras de legumes e flores. “Minha turma era da pá virada”, afirmou o jornalista em depoimento a Gianni Carta em gravação para o livro Às Margens do Sena, lembrando a disputa da criançada na caça aos balões que caíam num eucaliptal da avenida Indianópolis. Era o goleiro do time de futebol de rua – “não era um craque, mas era o dono da bola”.

Começou a namorar Amélia, sua mulher, quando ela tinha 13 e ele 14 anos. Estudavam em Higienópolis e saíam para ir ao cinema e comer um macarrão no centro da cidade, escondido dos pais. "O primeiro beijo foi na bochecha", recordou Reali, mais de 50 anos depois. "Até hoje estamos namorando". Ao conseguir o emprego na Jovem Pan, então Rádio Pan-Americana, já pensava em se casar. A união foi oficializada em janeiro de 1961, quando já tinham suas quatro filhas – Luciana, Adriana, Cristiana e Mariana – e se mudaram para a França.

Reali Júnior era repórter de rádio, mas trabalhou também em jornais e participou de programas de televisão. Seu primeiro jornal foi o carioca Correio da Manhã, sucursal de São Paulo. Depois foi para a sucursal de O Globo e escreveu para os Diários Associados, sem nunca abandonar a Jovem Pan. Na madrugada de 1º de abril de 1964, no golpe militar, estava ao lado do governador Ademar de Barros no Palácio dos Campos Elísios – um dos poucos repórteres que conseguiram entrar. Nos anos seguintes acompanhou os principais fatos políticos do país, ao mesmo tempo que cobria outros assuntos.

Paris
O jornalista foi correspondente em Paris durante quase 38 anos. "Sempre escrevi sobre qualquer assunto, minha formação de jornalista autodidata, construída pedrinha sobre pedrinha, me dá essa possibilidade", gravou no depoimento a Gianni Carta. Suspeito de ser comunista, o que sempre negou, partiu para Paris em setembro de 1972. No ano seguinte, foi contratado pelo jornal O Estado de S. Paulo, pouco depois da queda de um Boeing da Varig nas imediações do aeroporto de Orly.

Como correspondente 24 horas à disposição da Rádio Jovem Pan e do Estadão, era Reali quem mais viajava, tanto pelo interior da França como para outros países. Numa época de telecomunicações ainda precárias, transmitia o material por cabines públicas de telefone e brigava com os colegas por um terminal de telex. Não havia internet, as ligações telefônicas com o Brasil dependiam de tempo e sorte. Como também não existiam cartões de crédito, o repórter era obrigado a carregar dólares no bolso.

Em nota, a presidente Dilma Rousseff afirmou que a imprensa brasileira perdeu um de seus nomes mais emblemáticos com a morte de Reali Júnior. "Seus anos como correspondente de veículos de comunicação brasileiros em Paris foram marcados por grandes reportagens. Mais do que um repórter talentoso, o país perde um ilustre brasileiro".

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