LIVRO ABERTO

Os livros da vida do juiz federal Ricardo Nascimento

Autor

1 de dezembro de 2010, 16h52

Spacca
Ricardo Nascimento - SpaccaAmante do Direito, teatro, cinema, literatura e futebol, o presidente da Associação dos Juízes Federais do Estado de São Paulo, juiz Ricardo Nascimento, diz que quando criança seu quarto foi transformado em biblioteca por seu pai. “Eu cresci dormindo e acordando olhando para livros, sobretudo de literatura brasileira e latino-americana. Os livros não cabiam na sala e no quarto. Então, meu pai colocou uma estante com várias obras no meu quarto. Assim, não tinha como não lê-los”, explica o juiz ao lembrar-se da influencia que seu pai, que era publicitário e jornalista, teve na sua vida literária.

Dessa forma, ao contrário da maioria, Nascimento não começou sua leitura por Monteiro Lobato. Isso não o impediu de ler as obras de Lobato mais tarde. Mas, “na minha infância lia muita história em quadrinhos como o Recruta Zero. Além disso, li também A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson e As Aventuras de Tom Samyer, de Mark Twain”, diz ele, ao falar dos livros de infância.

Enquanto dormia com livros, Nascimento se deixou influenciar pelos escritores Rubem Fonseca, Luiz Vilela, Carlos Heitor Cony e Dalton Trevisan. “A literatura brasileira de contos, inclusive da década de 70, foram uma grande escola”, lembra. Um conto da época de adolescência que ainda faz parte de sua vida é Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. “São pequenos contos em uma linguagem bem concisa. Esse livro foi censurado durante o regime militar, mas tem uma linguagem jornalística que uso até hoje”.

Também na adolescência, por meio de uma professora de português, ele descobriu em Machado de Assis “o que é um bom livro”.

Em 1979, Nascimento entrou na faculdade e fez parte da chamada geração bicho-grilo, uma extensão dos hippes, que viajava o país de carona. Nessa época, “um livro que fez a cabeça da galera, inclusive a minha, foi Siddhatha, de Hermann Hesse, por se tratar de um tema esotérico e espiritual. Gosto disso e, às vezes, sinto vontade de esquecer tudo e voltar àquela época”, diz, saudoso.

Ao ser questionado pela revista Consultor Jurídico sobre livros jurídicos da época de universitário, Nascimento é enfático ao dizer que o “período da faculdade foi um lugar de muita leitura não jurídica”. E continua: “Eu não era um bom aluno. E não me arrependo das aulas que não assisti. O que me interessa é que vivi intensamente a faculdade de Direito”.

O juiz também é ator. “Terminei a faculdade de Direito, advoguei e depois fui fazer faculdade de teatro. Sou amante de Shakespeare. Em especial de Hamlet. No quarto ano da faculdade, encenei a peça e já assisti a todas as montagens feitas aqui no Brasil e sempre que viajo pra fora do país tento encontrar Hamlet em cartaz. Nenhum autor se compara a Shakespeare”, diz. Segundo ele, no Brasil, o gênio do teatro é Nelson Rodrigues. “Nelson tem uma linguagem, uma força de diálogo e uma percepção da tragédia da vida comum incrível”, diz ele, lembrando dos textos de O Vestido de Noiva, Beijando Asfalto e A Falecida.

“Um livro que li — na área do Direito, mas não é jurídico — e que não é o melhor de todos, mas acredito ser o mais importante porque foi decisivo na minha vida é Por Detrás da Suprema Corte, dos jornalistas Bob Woodward e Scott Armstrong. Em 1995, já tinha largado o teatro e o Direito, e era auditor da Previdência. Estava infeliz profissionalmente e esse livro que trata dos bastidores [mostra como eram as discussões acerca de um tema], as principais sentenças e narra a influência da Suprema Corte dos Estados Unidos na época do governo Nixon me fez acreditar de novo no Direito. E foi aí que tive vontade e resolvi ser juiz”, declara, afirmando que o livro passou oito anos na estante até que, para sua surpresa, revirou sua vida.

Um juiz, que também é formado em teatro não poderia deixar de gostar de cinema. E por gostar de cinema, Ricardo Nascimento participa de um cine clube. "Me encontro uma vez por mês com um grupo de amigos para assistirmos um filme e discutir sobre ele”.


Literatura infantil

Divulgação
HQ - Recruta Zero - DivulgaçãoRecruta Zero é um recruta do exército americano, lotado no quartel Camp Swampy. Sempre cultivando sua preguiça e bom-humor, Zero é implacavelmente perseguido pelo adiposo e volátil Sargento Tainha, que não admite nenhuma insubordinação. Ainda assim, ele sempre dá um jeito de escapar da labuta. "Seu lema de vida é nunca deixar para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã", lembrou o juiz.

Divulgação
Aventuras de Tom Sawyer - Divulgação

Tom Sawyer, publicado originalmente em 1876, é a personificação do rapazinho que cada criança quer ser: livre, aventureiro, moral e inteligente. Tom é órfão, vive com a sua tia Polly e com os seus primos e adora faltar à escola para ir pescar. A sua tia faz o melhor que pode, tentando domesticá-lo, ao arrastá-lo para a igreja e ao punir as suas rebeldias.


Livro Jurídico

Divulgação
Direito Constitucional Positivo - José Afonso da Silva - Divulgação"Um livro que me fez a cabeça na faculdade" foi Direito Constitucional Positivo, do professor José Afonso da Silva. “O livro foi escrito na ditadura militar e ele chama a atenção para a necessidade de uma constituinte. Acredito que ele foi o constitucionalista brasileiro que mais influenciou na carta de 1988”, diz Ricardo Nascimento.

Direito Administrativo, do Celso Antonio Bandeira de Melo “também foi importante para minha carreira, tanto que comprei todas as edições. E é incrível como ele consegue renovar de uma edição para outra. Bandeira de Melo é um homem que está sempre antenado e aprimorado com o que acontece nessa área do Direito”.


Li e recomendo

Divulgação
Travessuras de Menina Má - Mário Vargas Liosa - DivulgaçãoTravessuras de Menina Má, de Mário Vargas Liosa, é uma obra de ficção com pano de fundo "levemente autobiográfico" do escritor peruano Mário Vargas Liosa, um dos expoentes da literatura latino-americana. Vargas traz uma história de amor repleta de detalhes entusiasmados sobre a vida no mundo durante a segunda metade do século XX.

“Liosa tem uma capacidade de contar histórias que é impressionante. E conta uma de forma fragmentada que é uma maravilha. E este é um livro gostoso, simples e tem um ar de mistério”, diz ele.

A obra trata de um romantismo nada convencional entre Ricardo Somocurcio — um pacato peruano que, realizando um sonho de infância, vai morar em Paris — e a Menina Má — uma garota ousada que ele conheceu na década de 1950, em sua cidade natal, Lima, no Peru.


Filme

Divulgação
Morangos Silvestres - Ingmar Bergman - Divulgação"Emocionei-me com o filme Morangos Silvestres. É a história de um professor de medicina que dá carona para três jovens que ficam conversando com ele. E, nessa viagem, ele repassa todas as lembranças que o angustiam. É um filme que mexe com o psicológico", disse.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!