História da advocacia

Demarest & Almeida comemora 60 anos de vida e sucesso

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18 de janeiro de 2008, 23h01

Quando resolveram fundar uma sociedade de advocacia em São Paulo, em 1948, os advogados Kenneth E. Demarest e João Batista Pereira Almeida tinham certeza de que estavam fazendo a coisa certa. O americano Demarest era representante de um grande grupo energético estrangeiro. Almeida, diretor jurídico da Fiesp. Eram, pois, as pessoas certas para tocar o novo empreendimento. O modelo do negócio seriam os grandes escritórios estrangeiros. E os clientes, as multinacionais que começavam a se instalar no Brasil.

Se faltava alguma coisa para que a sociedade deslanchasse, ela aconteceu quando dois navios se chocaram no Porto de Santos. O abalroamento dos navios teve repercussão nacional e os sócios foram contratados para prestar assistência jurídica. A data e os nomes dos envolvidos no acidente se perderam na história, mas o fato é tido como o ponto inicial da grande aventura que transformaria, 60 anos depois, os nomes Demarest e Almeida numa das mais fortes referências da advocacia do país.

O trabalho iniciado pela dupla atingiu proporções monumentais. Com 391 advogados, o Demarest e Almeida Advogados é a segunda maior sociedade de advocacia do país, de acordo com o ranking do anuário Análise Advocacia 2007. Em São Paulo, ocupa uma sede de seis andares do Centro Cultural Ohtake, um espetacular edifício desenhado pelo arquiteto Rui Ohtake, no bairro de Pinheiros. O prédio todo espelhado com estreitas faixas rosas e azuis é um marco na paisagem da zona oeste da capital.

Três mil clientes compõem a carteira do escritório. Só para citar nomes mais reluzentes: Monsanto, CPFL, Goodyear, Mattel, Unilever, Pfizer e Volkswagen. A metade costuma acionar o escritório pelo menos uma vez a cada três meses. Empresas preenchem praticamente toda a carteira do escritório com 70% de clientes do setor de produção, 20% de serviços e 10% da área financeira.

No centro histórico de São Paulo, onde o escritório teve sua primeira sede à rua XV de Novembro, ainda funciona o setor de Contencioso Corporativo. Ali, mais de 100 advogados somam esforços para enfrentar a avalanche de ações repetitivas de grandes corporações. No total são mais de 60 mil ações de menor complexidade. Clientes como o Banco Itaú, por exemplo, entregam aos profissionais do Demarest processos simples de resolver mas que jorram aos borbotões de todos os cantos do país. O setor não está entre os mais lucrativos do escritório, mas foi criado, em 2004, para atender uma necessidade das grandes empresas que se viam diante de montanhas de processos iguais. Quem presta serviço sabe que é assim que funciona. A informatização é o segredo para o controle destas ações.

A especialidade da casa, porém são as causas artesanais. São casos complexos, que exigem a dedicação intensiva e extensiva de profissionais de diferentes áreas na construção da tese a ser defendida.

Rogério Lessa, o CEO do escritório, conta que o Demarest, está ocupado, no momento, com seis causas que consomem o melhor da inteligência e da energia de seus profissionais. Uma equipe se dedica em tempo integral em preparar a aquisição da Eletropaulo. Outra trabalha no caso da Cesp. Trata-se das duas gigantes do setor energético do estado de São Paulo. Outras quatro operações de vulto semelhante estão em andamento, mas os nomes dos clientes ainda são segredo.

O escritório se orgulha de ter defendido causas que tiveram grande impacto na economia brasileira. Foi lá que se gestou a formação da joint venture entre a Elite e a Santa Clara, que resultou na segunda maior produtora de café solúvel do Brasil. O administrador judicial da Varig recebe consultoria da banca para a reestruturação dos débitos da companhia. O Banco Santander Banespa contratou os especialistas do Demarest para ofertar US$ 500 milhões em debêntures. O escritório também representou a GE Consumer Finance na privatização do Banco do Estado do Ceará, um negócio de US$ 290 milhões.

Modelo de administração

Há quatros anos o escritório criou o cargo de diretor-geral e o entregou a Rogério Lessa. A escolha do titular é feita por eleição direta em que todos os sócios têm direito a voto. Primeiro é escolhido o Conselho, que é formado por cinco membros. A única exigência para se candidatar a conselheiro é ser sócio há sete anos, no mínimo. Os mesmo sócios costumam virar a noite na votação para escolher o diretor-geral. A próxima eleição será no final de 2008.

Eleito por duas vezes, Lessa costuma trabalhar de 12 a 14 horas por dia. Sessenta por cento do seu dia é dedicado às questões administrativas e 40% às causas que lhe são confiadas. “Gostaria que fosse diferente”, suspira, “mas é necessário que alguém faça esse trabalho”. Segundo ele, as relações interpessoais consomem grande parte do tempo de um administrador e requerem paciência.

“Conciliar e harmonizar talentos, temperamentos, personalidades é uma arte”, declara. Em uma sociedade de pessoas, carece saber administrar as individualidades e criar ambiente propício para que possam florescer e dar o seu melhor. “Em uma indústria são as máquinas. No escritório, são as pessoas. Se elas não estiverem trabalhando harmoniosamente e as suas necessidades não forem atendidas, teremos dificuldades.”

Além do diretor-geral, a banca tem um administrador profissional para lidar com as questões financeiras e contábeis. Até a criação do cargo de diretor-geral, quem comandava o escritório era o Conselho.

Ao contrário de outros grandes escritórios, o Demarest & Almeida já não tem uma ligação física e pessoal com os nomes que o identificam. Keneth Demarest, um dos fundadores da sociedade, voltou para os Estados Unidos em 1964, ano do golpe que depôs João Goulart da presidência da Republica e instaurou o regime militar que haveria de mandar no país por 20 anos. Não teve mais contato com a sociedade. O outro sócio fundador, João Batista Pereira Almeida, trabalhou no escritório até sua morte, há dez anos. Dos pioneiros, permanece na empresa Naum Rotenberg, o primeiro advogado contratado pelo escritório e o herdeiro da cota do doutor Demarest.

Cabe aos 71 sócios efetivos do escritório a corordenação dos trabalhos técnicos da equipe sob sua responsabilidade. Analisam os casos mais complexos e ditam a linha de ação. Além das consultas aos sócios, os advogados mais jovens têm ao seu alcance a experiência dos profissionais que já não podem mais ser sócios, devido a aposentadoria, mas que se mantém na ativa dentro do escritório.

Banco de oportunidades

Orlando Di Giacomo Filho é um deles. Segundo sócio mais antigo, com 68 anos de idade 43 de Demarest, dedica-se, especialmente, aos estagiários. De três a quatro vezes por ano organiza um provão para recrutar novos colaboradores. Seleciona currículos “de todas as faculdades” enviados ao RH e convoca os candidatos para uma prova de português e inglês. O tema da redação é relacionado à área de Direito, mas não se exige conhecimentos específicos, já que também podem concorrer estudantes de primeiro ano.

O próximo provão está marcado para fevereiro. O exame dura quatro horas. O contrato tem duração de seis meses e pode ser prorrogado dependendo do desempenho do estudante. Todos os meses, Orlando ministra palestras sobre temas importantes mas que não costumam constar na grade curricular das faculdades. É o que chama de curso de complementação acadêmica.

O Demarest também oferece a oportunidade de os estagiários estudarem nos Estados Unidos. O escritório e a American Bar Association criaram o programa de intercâmbio Foreign Intership. Estudantes brasileiros são selecionados para estagiar em um escritório norte-americano e vice-versa.

Os advogados também têm boas oportunidades. Dependendo do seu empenho e dedicação, o escritório custeia parte de um curso de pós-graduação no exterior. “É um investimento”, diz Rogério Lessa. Quando questionado sobre as qualidades necessárias para ser um advogado do Demarest, Lessa é categórico: brilho nos olhos. E isso significa ter interesse, iniciativa, saber a quem pedir ajuda, com quem aprender. Além de formação em uma boa faculdade, ampla formação cultural e bom caráter.

Crescimento

A história do Demarest, como a dos grandes escritórios de advocacia, reproduz em escala particular as vicissitudes da história política e econômica do país. Os difíceis anos 80, que entraram para a história como a “década perdida” que se sucedeu ao “milagre econômico” dos 70, também foram difíceis para o escritório. A estagnação econômica, o desajuste inflacionário, a instabilidade política refletiram no pouco dinamismo da atividade da sociedade.

A nova trombada de navios que sacudiu o escritório aconteceu nos anos 90 com a redemocratização do país e o longo processo de privatização das empresas e dos serviços públicos. “Naquele ano, abriu-se um mundo de negócios para a advocacia”, diz Rogério Lessa. A desestatização fez com que os profissionais do Direito entrassem em áreas em que nunca tinham atuado, porque antes eram monopólio do Estado.

Os advogados tiveram que correr para aprender e atender processos que tratavam de energia elétrica, telefonia, mineração, petróleo, gás. Problemas com contratações e fiscais também eram novidade.

Era tanto trabalho que o escritório não dava conta do serviço. A solução foi crescer. Em maio de 2001 se juntou aos 63 especialistas do Azevedo Sodré Advogados. Eram profissionais com especialização em privatizações, energia, gás e petróleo. Muitos deles já tinham atuado em estatais. De 1995 a 2006, o número de advogados passou de 70 para 391.

As fusões e aquisições foram ditadas pela necessidade de agregar profissionais especializados em áreas em que a banca ainda não tinha expertise ou o número de advogados era insuficiente. Rogério Lessa esclarece: a filosofia do escritório é o crescimento orgânico. “A maioria dos advogados foi formada dentro de casa.” Um terço dos sócios é ex-estagiário do Demarest.

Os 60 anos de Demarest & Almeida são motivos de orgulho para Rogério Lessa. “São poucas as empresas que conseguem chegar aos 60 anos. Defendemos os direitos de inúmeras pessoas e ajudamos a fazer Justiça. Empreendimentos e projetos foram concretizados. Propiciamos a construção de fábricas, geração de empregos e impostos. Além do que, formamos profissionais para que pudessem sair pelo mundo.”

Aniversário

As expectativas para o ano do jubileu e para o futuro são as mais otimistas. A confiança é decorrente do que aconteceu em 2007, quando a previsão de crescimento era de 20% e a banca fechou o ano com 30%. Nas mãos do escritório estavam 127 operações. Oito bancárias, 13 de mercado de capitais, 79 fusões e aquisições, duas recuperações judiciais de empresas, 19 operações imobiliárias e seis projetos especiais. Destas, 38 foram concluídas.

Outro indício de que o ano será bom, segundo Lessa, é que nos meses de dezembro e janeiro, em que a demanda costuma cair de forma expressiva, o ritmo foi o mesmo. Muito trabalho, em todas as áreas de atendimento. “Estamos trabalhando a todo vapor.”

Contratações nas áreas de fusões e aquisições, mercado de capitais, fiscal e imobiliária estão programadas.

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