Crise no Ceará

Policiais federais do Ceará têm cota racionada de combustível

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13 de agosto de 2007, 10h24

A Superintendência da Polícia Federal no Ceará passou a ser, no fim de semana, o foco de atenção da categoria. Motivo: foi anunciado que a PF do estado terá sua cota de combustível racionada. Além disso, policiais estão proibidos de abastecer os carros no fim de semana. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) afirmou que a decisão expõe as deficiências estruturais da PF e vai prejudicar as investigações.

No Ceará, a Superintendência tornou-se a mais visada do Brasil. Foi dela que partiu a decisão de afastar um cacique da Polícia Federal, o delegado Zulmar Pimentel, por 60 dias. Ele foi reconduzido ao cargo há dez dias pelo Superior Tribunal de Justiça. Pimentel havia sido afastado da Diretoria Executiva da Polícia Federal. A ministra Eliana Calmon, do STJ, relatora do inquérito da Operação Navalha, manteve o afastamento – cassado posteriormente.

O Ministério Público Federal acusou o delegado de ter supostamente interferido nas investigações da Operação Octopus, originária da Operação Navalha, que investigou suspeitas do envolvimento de policiais federais com fraudes em licitações públicas no Nordeste.

As suspeitas contra o delegado foram levantadas pelo setor de inteligência da PF. Ela sustentava que o ex-superintendente da corporação no Ceará, delegado João Batista Santana, recebeu informação privilegiada de Zulmar Pimentel sobre a “existência de investigação contra o mesmo, inviabilizando, assim, o prosseguimento desta (a Operação Octopus)”. A inteligência da PF sustenta que Zulmar avisou o colega de sua exoneração, ocorrida a 8 de março.

Leia o comunicado da Fenapef:

As atividades da Polícia Federal no Ceará podem estar caminhando para um beco sem saída. Por iniciativa da superintendência regional do órgão cada viatura tem direito a uma cota de 40 litros de combustível por semana. Pior, a viatura tem que abastecer de segunda à quinta-feira. No final de semana não pode. Mais do que uma medida, digamos, pouco ortodoxa, a ordem coloca em perigo a continuidade de investigações, campanas, vigilâncias a investigados em operações, diligências de inquéritos policiais, viagens ao interior atuação no porto e no aeroporto e outras atividades.

Mas a reengenharia policial não para por aí. Uma determinação vinda do andar de cima ordenou que a PF no Ceará substituísse as placas reservadas das viaturas utilizadas em investigações policiais sigilosas por placas oficiais ou originais dos veículos. A medida pos um ponto final nas investigações veladas já que cada viatura poderá ser identificada e eventualmente se transformar em alvo de bandidos.

Se algum motivo há para adotar medidas de controle de combustível e identificação de viaturas é preciso que este seja explicitado, o que até hoje não foi feito. Mais. É preciso que antes de adotar tais medidas, elas sejam discutidas com quem deverá colocá-las em prática, ou seja: os policiais que irão arriscar o couro nas ruas.

Como isso não foi feito e o disparate já está sendo colocado em prática o que se tem agora são policiais insatisfeitos e investigações policiais prejudicadas. Alguns policiais experientes solicitaram suas remoções de setores importantes como o Núcleo de Inteligência Policial e o Núcleo de Operações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes. Perde a polícia, ganham os bandidos.

Os acontecimentos já levaram o Sindicato dos Policiais Federais no Ceará a enviar ofício ao ministério da Justiça e a bancada parlamentar do Ceará na Câmara e no Senado. O documento alerta para o racionamento de combustível na PF e pede providências para que o problema seja solucionado.

O Sindicato deve ir até a Superintendência Regional nos próximos dias para mais uma vez tentar solucionar o problema. “Já conversamos com o diretor executivo no estado e ele disse que haveria mudanças, mas até agora nada”, diz o presidente do SINDIPOF-CE, Adjaci Florentino dos Santos.

Na quinta e na sexta-feira a Agência Fenapef fez contato com a Superintendência Regional, mas não obteve retorno.

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