Crime imperfeito

Estelionatário anuncia laptops em jornais, vende e não entrega

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25 de julho de 2002, 9h47

Cuidado com anúncios que oferecem laptops a preços abaixo do mercado. Pessoas de várias regiões do País caíram no golpe ao pagarem à vista valores entre R$ 3 mil e R$ 7 mil por computadores portáteis da marca Toshiba. Ninguém recebeu a mercadoria.

Os aparelhos estão à venda em um anúncio (reprodução disponibilizada pelo Jornal da Tarde), e que circula há pelo menos cinco meses nos classificados de informática dos principais jornais do Brasil. Na oferta, o anunciante promete a pronta-entrega do aparelho com nota fiscal.

“Me passa os seus dados e deposita o valor na conta que eu te falei. Você recebe o computador ainda hoje. Eu mando pelo correio”, prometia o golpista, que usa vários nomes para praticar o crime, entre eles Rogê Gonzales e Daniel. Quando questionado sobre a possibilidade de parcelar a compra, ele é bem claro: “Aqui é só para quem tem dinheiro. Pode ficar sossegada que o negócio é garantido. Trabalho há 11 anos no mercado. Vou te dar um ano de garantia, tá bom?”

O advogado carioca O.L. não imaginava que seu desejo de adquirir um laptop iria lhe causar um prejuízo de R$ 3 mil. Há duas semanas, ele depositou o valor em uma conta bancária indicada pelo estelionatário em São Paulo e não recebeu o computador. “Isso é um crime gravíssimo. É muito dinheiro envolvido. Não é possível que essa pessoa permaneça impune. Ele tem meu endereço, meu telefone, o número da minha conta. Estou com medo”, desabafou.

Para ganhar a confiança do consumidor, o anunciante diz ainda que sua loja fica na Avenida Nações Unidas, em um prédio conhecido como Robocop II, no Brooklin Novo, região nobre da zona sul. No local, porém, não há nenhum estabelecimento de informática.

O golpista vai além: fornece também o nome e o número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) de uma empresa especializada em computadores, sediada na Santa Ifigênia, região central.

“Umas dez pessoas já me ligaram reclamando do prejuízo e querendo o dinheiro de volta. Nem conheço a pessoa que publica os anúncios. Só trabalho com computadores usados e não faço pronta-entrega”, explicou Anésio Pereira de Lima, 53 anos, proprietário do estabelecimento lesado.

Segundo Lima, a primeira vítima a telefonar foi um rapaz do Pará. “Sei que eles usam meu CNPJ há mais de cinco meses. Agora estão anunciando em um jornal do Rio de Janeiro. Muita gente está caindo nesse golpe.”

Com o cardiologista paulista Fernando Platina, de 32 anos, o criminosos foi mais audacioso. “Por meio dos meus dados ele debitou em minha conta bancária um anúncio que havia feito em um jornal. A sorte é que o gerente do banco me avisou e cancelou o débito.”

Platina estava para defender uma tese quando seu laptop queimou. Ele resolveu, então, comprar outro, e depositou R$ 4 mil na conta do golpista. “Ainda fui maltratado quando liguei para cobrar a entrega da mercadoria. Fiquei impressionado, o cara anuncia até hoje. É um golpe bem feito.”

‘Não existe crime perfeito’, diz investigador

A polícia reconhece que é difícil prender esse tipo de estelionatário. “Ele não deixa indícios, usa telefones pré-pagos impossíveis de rastrear e abre contas bancárias com nomes falsos ou de laranjas, mas não há crime perfeito”, disse Tereziano da Silva, investigador do 3º DP, em Santa Ifigênia, onde o caso está sendo investigado.

A grande dificuldade da polícia, porém, é reunir as vítimas, já que as queixas são registradas em delegacias diferentes. “As pessoas devem procurar o distrito mesmo que já tenham feito o boletim de ocorrência em outro DP.”

Marco Cardoso, dono de uma empresa de informática recomenda: “Cheque a empresa, há quanto tempo ela está no mercado, pegue referências de clientes. Desconfie da grande diferença de preços entre as lojas. Ninguém faz milagre.”

Fonte: Mariana Pinto, do Jornal da Tarde.

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