lavajatismo precursor

Deltan sugeriu bloqueio do Congresso e de Assembleias para combater corrupção

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28 de setembro de 2023, 18h52

Muito antes do infame episódio de 8 de janeiro, em que o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto foram atacados por vândalos golpistas, o ex-procurador e deputado cassado Deltan Dallagnol teve a ideia de produzir cenas semelhantes na Praça dos Três Poderes.

André Telles
O ex-chefe da 'lava jato' sugeriu bloquear Congresso e Assembleias estaduais
André Telles

É o que indicam novas mensagens obtidas pela "operação spoofing", às quais a revista eletrônica Consultor Jurídico teve acesso.

No fim do dia 5 de julho de 2017, Deltan perguntou se Bruno Brandão, diretor da "organização não governamental" Transparência Internacional no Brasil, já havia estudado sobre desobediência civil como método de resistência não violenta e se conhecia alguma aplicação disso contra a corrupção. "Que tal bloquearmos as entradas do congresso?", indagou — os diálogos são reproduzidos nesta reportagem em sua grafia original.

Brandão, espécie de mentor intelectual e sócio do fundo que a "lava jato" pretendia constituir, citou como exemplo um protesto de funcionários da Controladoria-Geral da União que impediram a entrada do ex-chefe da pasta Fabiano da Silveira no órgão. E foi além: "Na semana passada, o helicóptero que metralhou o Supremo na Venezuela tinha uma faixa com o número 350, referência ao artigo da Constituição que dispõe sobre desobediência civil".

"Temos que ver a hora certa para unir as pessoas e dar vazão à esperança, a um grito por dignidade contra a humilhação a que somos submetidos por parte dos governantes corruptos. Precisamos pensar em ações concretas. Essa do congresso pode ser repetida em todas as capitais, em relação às Assembleias Legislativas", escreveu o ex-chefe da "lava jato" naquela ocasião, no mesmo raciocínio que foi usado pelos golpistas para, alguns anos mais tarde, depredar as sedes dos Três Poderes.

Poucos dias depois dessa conversa, no dia 8 de julho, Deltan deu mais uma ideia a Brandão. Ele citou um "brainstorming" que teve para sugerir boicote a partidos políticos que foram acusados pela "lava jato" de formação de organização criminosa — acusações que, na verdade, nunca foram comprovadas.

"Isso teria o efeito prático de drenar o poder das lideranças da Velha Política…", escreveu Deltan para o executivo da TI.

"Contra, se diria que há generalização indevida, condenação de justos com injustos…a resposta seria: o partido no mínimo se omitiu: não foram expulsos os membros; o partido todo se beneficiou com desvios; trata-se de enfraquecer lideranças corruptas, os liderados podem mudar…Seria algo forte e inovador. Qual sua primeira impressão?".

Brandão, então, respondeu dizendo que seria melhor uma espécie de "aviso prévio" aos partidos. Ele disse que, caso as legendas abrissem sindicâncias para apurar irregularidades, "ficariam de fora do boicote". 

Deltan disse ter gostado da ideia, mas alertou que as siglas poderiam abrir as sindicâncias "para inglês ver". Fato contínuo, ele falou que a liderança do PMDB é, salvo algumas exceções, "uma organização criminosa".

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