Opinião

Spacca: Paulo Caruso, o Tom Jobim da Nova República

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4 de março de 2023, 13h04

Spacca

Morreu Paulão. O aumentativo carinhoso com que os amigos o chamavam também evoca sua estatura, e o vasto talento que se esparramava em várias direções.

Ele e o gêmeo Chico Caruso especializaram-se, cada um, num extremo do humorismo gráfico. Chico virou carioca e há 38 anos, nas páginas de O Globo, condensa sua crítica política numa só imagem; já Paulo utilizava a linguagem dos quadrinhos, criava sequências e painéis de página inteira ou muitas páginas, nas quais além do humor também punha em ação sua paixão pelo cenário urbano apriomorada na faculdade de arquitetura da USP.

A música ocupava um lugar de destaque em suas produções. Charges geravam canções em estilo piano-bar, que mesclava influências de jazz e MPB. Fui seu "crooner" numa época em que a banda "Avenida Brasil" tinha uma formação avantajada — os 2 Carusos, 5 músicos, 3 garotas de backing-vocal, 2 humoristas convidados (Tony Lopes e Serginho Leite). Comigo, treze no palco. Nos apresentamos em 1989 nos teatros Crowne Plaza e Sesc Pompéia em São Paulo, e rodamos o Brasil de Maceió a Passo Fundo. 

O passado recente do país e do mundo podia ser conferido nas músicas-charges "Cem anos de Corrupção", "Bom é ser Presidente" (dedicada a Sarney, Collor, Itamar e FHC), "Marcha da Perestróika", "Metida Provisória" (sobre o affair entre uma ministra da economia e o da justiça) e muitas outras, que podem ser conferidas aqui.

Paulo Caruso também retratou com lirismo a boêmia paulistana e universal nas tiras "As mil e uma noites", reunidas em livro pela Circo editorial, e ilustrou a graphic novel "As origens do Capitão Bandeira", primorosa parceria com Rafic Jorge Farah.

A vitrine do programa Roda-Viva na TV Cultura, na qual Paulo produzia charges instantâneas sobre os convidados, era apenas a ponta do iceberg de seu grande talento, como a ponta do gelo num whisky on-the-rocks. Drinque que definiu sua paixão pelo piano, já que, como gostava de justificar, não ia ser muito fácil equilibrar o copo num violino.

Saudade, Paulão. 

Como nas dedicatórias que você fazia em seus livros, mimos com os quais presenteava as simpáticas aeromoças em nossas turnês, "com você eu me sinto nas nuvens".

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